UOL


São Paulo, sábado, 26 de abril de 2003

Próximo Texto | Índice

ARTES PLÁSTICAS

Com documentos e filmes, exposição na Pinacoteca contextualiza obra de Hélio Oiticica e Neville d'Almeida

Mostra visita radicalidade de "Cosmococas"

João Wainer/Folha Imagem
Montagem da exposição "Cosmococa - Program in Progress", na Pinacoteca, baseada na obra de Hélio Oiticica e Neville d'Almeida


FABIO CYPRIANO
DA REPORTAGEM LOCAL

Se "Les Demoiselles d'Avignon" (1906), de Picasso, e "Roda de Bicicleta" (1913), de Marcel Duchamp, são obras emblemáticas na história da arte, as "Cosmococas" (1973), de Hélio Oiticica e Neville d'Almeida, que a Pinacoteca expõe a partir de hoje, assim também devem ser consideradas.
"São as primeiras instalações audiovisuais do mundo", afirma Almeida. "As "Cosmococas" são as obras-chaves de Oiticica, o artista brasileiro de maior ressonância na produção artística do século 20", diz Marcelo Araujo, diretor da Pinacoteca.
Criadas durante o período no qual o artista vivia em Nova York, mas não montadas em vida por Oiticica (1937-1980), as "Cosmococas" são uma síntese das propostas estéticas do artista. "Não se trata mais de impor um acervo de idéias e estruturas acabadas ao espectador, mas de procurar pela descentralização da "arte", pelo deslocamento do que se designa como arte, do campo intelectual racional para o da proposição criativa vivencial", escreveu Oiticica, na década de 60.
Graças ao seu espírito detalhista, seus cadernos de anotação, presentes na mostra, explicam detalhadamente como as obras devem ser organizadas.
"Cosmococa - Program in Progress", com curadoria de César Oiticica Filho, apresenta filmes, documentos e imagens que contextualizam a produção dos artistas, além de quatro "Cosmococas", duas delas, "CC1" e "CC2", pela primeira vez no Brasil.
A quinta, que seria montada no vão central da Pinacoteca, teve exibição postergada para o próximo ano, pelo alto custo da produção: seria necessária a construção de uma piscina, onde seriam projetadas as imagens da série.
Em cada uma delas, o espectador é convidado a interagir de maneira diferente, a partir do princípio denominado pelos artistas como "quasecinemas". Slides são projetados de forma serial, nas paredes ou no teto, numa forma de questionar o conceito cinematográfico de "imagem em movimento" e levar o espectador a criar sua própria narrativa.
Em "CC1: Trashiscapes", há colchões, travesseiros e lixas de unhas que o público pode utilizar para observar imagens projetadas do cineasta espanhol Luis Buñuel. Em "CC2: Onobject", com projeções de Yoko Ono, toda a sala é acarpetada por um colchão, no qual é possível deitar, enquanto em "CC5: Hendrix-War", sobre Jimi Hendrix, há redes espalhadas pela sala. Finalmente em "CC4: Nocagions", sobre a música de John Cage, o chão é de areia com bexigas voando. Fileiras de cocaína "maquiam" os retratos dos personagens.
"Hoje, essas figuras são vistas como ícones, mas há 30 anos eram marginais. A Marilyn, uma prostituta que teve um caso com o presidente e morreu de forma suspeita, a Yoko, a japonesa escrota que acabou com os Beatles, e o Hendrix, um crioulo revolucionário que usava roupa de ciganos e também morreu de forma duvidosa", diz Almeida.
Na Pinacoteca, um ciclo de palestras, sempre às quintas, às 18h, a partir do dia 8 e até o dia 29, aprofunda a obra dos artistas. Na primeira sessão, os palestrantes são Paulo Herkenhoff, atual diretor do Museu Nacional de Belas Artes, no Rio, e o próprio curador da mostra. Fotos de "Nocagions" e "Hendrix-War" podem ainda ser vistas, a partir de hoje, em contexto comercial e sem a interatividade das instalações, na galeria Fortes Vilaça.


COSMOCOCA - PROGRAM IN PROGRESS. Mostra com quatro instalações de Hélio Oiticica e Neville d'Almeida, criadas em 1973. Curadoria: César Oiticica Filho. Onde: Pinacoteca do Estado (pça. da Luz, 2, tel. 229-9844). Quando: abertura hoje, às 11h; de ter. a dom., das 10h às 18h. Até 1º/6. Quanto: R$ 4 (aos sábados, entrada franca).

MOMENTOS FRAMES (PARTE 2). Exposição com fotos da série de Oiticica e Almeida. Onde: galeria Fortes Vilaça (r. Fradique Coutinho, 1.500, tel. 3032-7066). Quando: de ter. a sex., das 10h às 19h; sáb., das 10h às 17h. Grátis.


Próximo Texto: Centro Hélio Oiticica será reinaugurado
Índice

UOL
Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.