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ARTES
Com oito retratos em que o artista explora o abstrato, exposição na Casa Triângulo tem abertura hoje para o público
Albano Afonso captura o imponderável
JULIANA MONACHESI
FREE-LANCE PARA A FOLHA
"A Natureza", individual de Albano Afonso, tem abertura hoje
ao público na Casa Triângulo.
Qual natureza? A do visível, supõe-se, uma vez que a mostra é
composta de trabalhos fotográficos. Mas o título da exposição
-formada por oito retratos do
impalpável e do invisível- é, a
exemplo do conjunto que nomeia, um pequeno mistério.
Entre as obras, a mais colada ao
seu "lastro real" é a que aparenta
ser mais abstrata: uma tabela de
cores intitulada "Constelações".
São registros de céu, feitos sem
utilização de filtros ou manipulação digital. Organizados em uma
estrutura de grades, resultam em
um "mapeamento" do imponderável, o que a montagem reforça.
Os mistérios engendrados por
Albano Afonso à maneira de um
pintor ilusionista da Renascença
têm explicações técnicas plausíveis, que o artista generosamente
fornece a quem quer que se interesse. A série "Fazendo Estrelas"
resulta da múltipla exposição do
negativo a disparos do flash da
máquina sobre uma superfície reflexiva (um espelho ou uma chapa
de aço), por exemplo. Mas nenhuma explicação técnica dá conta do elemento imponderável:
"Fazendo Estrelas" é um auto-retrato que evidencia a impotência
contemporânea em capturar a
subjetividade. Segue o mistério.
Para quem estava habituado ao
barroco das obras anteriores do
artista -imagens perfuradas sobrepostas a outras imagens ou a
espelhos, resultando em uma explosão de cores e informações-,
a exposição parecerá estranhamente limpa. Mas basta olhar
com atenção para ver que suas
obsessões estão todas lá: os temas
recorrentes da paisagem e do auto-retrato, a referência a obras
precisas da história da arte, a discussão da pintura levada a outros
suportes, a pesquisa sobre a luz.
À saída, o visitante se depara
com um mistério especialmente
perturbador: a fotografia "A Reprodução", uma citação da pintura "Reprodução Interdita" (1937),
de René Magritte. A tela em que o
artista surrealista melhor expressou a impossibilidade de dar nome às coisas é reinventada por Albano Afonso para traduzir o abismo existencial dos tempos pós-pós-modernos.
A NATUREZA - EXPOSIÇÃO
INDIVIDUAL DE ALBANO AFONSO.
Onde: galeria Casa Triângulo (r. Paes de
Araújo, 77, Itaim Bibi, região sul, tel.
3167-5621). Quando: de ter. a sáb., das
11h às 19h; até 15 de junho. Quanto:
entrada franca.
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