São Paulo, quarta-feira, 26 de maio de 2004

Texto Anterior | Índice

ARTES

Com oito retratos em que o artista explora o abstrato, exposição na Casa Triângulo tem abertura hoje para o público

Albano Afonso captura o imponderável

JULIANA MONACHESI
FREE-LANCE PARA A FOLHA

"A Natureza", individual de Albano Afonso, tem abertura hoje ao público na Casa Triângulo. Qual natureza? A do visível, supõe-se, uma vez que a mostra é composta de trabalhos fotográficos. Mas o título da exposição -formada por oito retratos do impalpável e do invisível- é, a exemplo do conjunto que nomeia, um pequeno mistério.
Entre as obras, a mais colada ao seu "lastro real" é a que aparenta ser mais abstrata: uma tabela de cores intitulada "Constelações". São registros de céu, feitos sem utilização de filtros ou manipulação digital. Organizados em uma estrutura de grades, resultam em um "mapeamento" do imponderável, o que a montagem reforça.
Os mistérios engendrados por Albano Afonso à maneira de um pintor ilusionista da Renascença têm explicações técnicas plausíveis, que o artista generosamente fornece a quem quer que se interesse. A série "Fazendo Estrelas" resulta da múltipla exposição do negativo a disparos do flash da máquina sobre uma superfície reflexiva (um espelho ou uma chapa de aço), por exemplo. Mas nenhuma explicação técnica dá conta do elemento imponderável: "Fazendo Estrelas" é um auto-retrato que evidencia a impotência contemporânea em capturar a subjetividade. Segue o mistério.
Para quem estava habituado ao barroco das obras anteriores do artista -imagens perfuradas sobrepostas a outras imagens ou a espelhos, resultando em uma explosão de cores e informações-, a exposição parecerá estranhamente limpa. Mas basta olhar com atenção para ver que suas obsessões estão todas lá: os temas recorrentes da paisagem e do auto-retrato, a referência a obras precisas da história da arte, a discussão da pintura levada a outros suportes, a pesquisa sobre a luz.
À saída, o visitante se depara com um mistério especialmente perturbador: a fotografia "A Reprodução", uma citação da pintura "Reprodução Interdita" (1937), de René Magritte. A tela em que o artista surrealista melhor expressou a impossibilidade de dar nome às coisas é reinventada por Albano Afonso para traduzir o abismo existencial dos tempos pós-pós-modernos.


A NATUREZA - EXPOSIÇÃO INDIVIDUAL DE ALBANO AFONSO.
Onde: galeria Casa Triângulo (r. Paes de Araújo, 77, Itaim Bibi, região sul, tel. 3167-5621). Quando: de ter. a sáb., das 11h às 19h; até 15 de junho. Quanto: entrada franca.



Texto Anterior: Cinema: Filmes mudos ganham sessão acompanhada de música ao vivo
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.