São Paulo, sábado, 26 de maio de 2007

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Rivane expõe constelação de letras

Palavras cruzadas compõem uma das instalações que a artista mineira apresenta na galeria Fortes Vilaça

FABIO CYPRIANO
DA REPORTAGEM LOCAL

Enquanto a cidade de São Paulo passa por um processo de limpeza visual, a galeria Fortes Vilaça parece um dos poucos espaços remanescentes onde dezenas de faixas criam uma constelação de distintos tipos de letras. "Uma ou Outra Palavra Cruzada", instalação da artista mineira Rivane Neuenschwander, utiliza os códigos das faixas de publicidade, no momento que sua utilização é questionada.
"Eu pensei nisso, mas era tarde. Mesmo assim, Belo Horizonte é bem suja visualmente, até a prefeitura utiliza esses tipos de faixas para fazer indicações", conta Neuenschwander, uma das artistas brasileiras com maior inserção internacional e um tanto desconhecida no país.
Em seu processo de criação, a artista costuma utilizar elementos do cotidiano, colocando-os em novo contexto, criando assim novos sentidos. No caso dessa obra, Neuenschwander fotografou faixas de protesto ou propaganda, pediu que profissionais desse meio copiassem as palavras, e as dispôs na maior sala da galeria como a formar um jogo de palavras cruzadas, só que em vários sentidos distintos, criando um volume tridimensional.
O resultado é um entrecruzamento de palavras, onde várias narrativas são possíveis, mas o que se sobressai é a trama complexa e, ao mesmo tempo, caótica, como costumam ser as paisagens urbanas do país.
Esse mapeamento urbano também está presente em "Mapa-Mundi/BR", uma instalação composta por 65 postais, fotos de estabelecimentos com nomes de cidades e países estrangeiros. Os cartões podem ser levados pelos visitantes, como era possível levar as fitas com desejos de sua exposição anterior na galeria.

Sem autor
Nesse trabalho, Neuenschwander apresenta o deslumbre de um país colonizado por referências externas, como a propaganda de uma pousada, denominada "Havaí", em meio ao verde das serras mineiras.
É em "Atrás da Porta", a instalação no mezanino da galeria, que o título da exposição, "Coisa de Ninguém. Coisa de Todos", ganha mais sentido. Emprestado dos termos jurídicos "res nullis", "ress comunnis", ou seja, o que é de ninguém, portanto não tem autor, é de todo mundo, o titulo aponta para o processo da artista, ao transpor 143 imagens de portas de banheiros públicos para as paredes da galeria.
Fotografadas em distintas cidades, essas imagens foram limpas até que restassem apenas desenhos, aplicados, por serigrafia, em tamanho natural, sobre madeiras pintadas na cor da porta original.
O mapeamento, agora, reúne distintas formas de expressão, ampliando o repertório da artista. Em sua pesquisa, revelar o invisível é processo de conhecimento.


COISA DE NINGUÉM. COISA DE TODOS
Quando:
abertura, hoje, às 14h; de ter. a sex., das 10h às 19h; sáb., das 10h às 17h; até 23/6
Onde: galeria Fortes Vilaça (r. Fradique Coutinho, 1.500, tel. 3032-7066)
Quanto: entrada franca


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