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Rivane expõe constelação de letras
Palavras cruzadas compõem uma das instalações que a artista mineira apresenta na galeria Fortes Vilaça
FABIO CYPRIANO
DA REPORTAGEM LOCAL
Enquanto a cidade de São
Paulo passa por um processo de
limpeza visual, a galeria Fortes
Vilaça parece um dos poucos
espaços remanescentes onde
dezenas de faixas criam uma
constelação de distintos tipos
de letras. "Uma ou Outra Palavra Cruzada", instalação da artista mineira Rivane
Neuenschwander, utiliza os códigos das faixas de publicidade,
no momento que sua utilização
é questionada.
"Eu pensei nisso, mas era tarde. Mesmo assim, Belo Horizonte é bem suja visualmente,
até a prefeitura utiliza esses tipos de faixas para fazer indicações", conta Neuenschwander,
uma das artistas brasileiras
com maior inserção internacional e um tanto desconhecida
no país.
Em seu processo de criação, a
artista costuma utilizar elementos do cotidiano, colocando-os em novo contexto, criando assim novos sentidos. No caso dessa obra, Neuenschwander fotografou faixas de protesto ou propaganda, pediu que
profissionais desse meio copiassem as palavras, e as dispôs
na maior sala da galeria como a
formar um jogo de palavras
cruzadas, só que em vários sentidos distintos, criando um volume tridimensional.
O resultado é um entrecruzamento de palavras, onde várias
narrativas são possíveis, mas o
que se sobressai é a trama complexa e, ao mesmo tempo, caótica, como costumam ser as
paisagens urbanas do país.
Esse mapeamento urbano
também está presente em "Mapa-Mundi/BR", uma instalação
composta por 65 postais, fotos
de estabelecimentos com nomes de cidades e países estrangeiros. Os cartões podem ser levados pelos visitantes, como
era possível levar as fitas com
desejos de sua exposição anterior na galeria.
Sem autor
Nesse trabalho, Neuenschwander apresenta o deslumbre
de um país colonizado por referências externas, como a propaganda de uma pousada, denominada "Havaí", em meio ao
verde das serras mineiras.
É em "Atrás da Porta", a instalação no mezanino da galeria,
que o título da exposição, "Coisa de Ninguém. Coisa de Todos", ganha mais sentido. Emprestado dos termos jurídicos
"res nullis", "ress comunnis",
ou seja, o que é de ninguém,
portanto não tem autor, é de todo mundo, o titulo aponta para
o processo da artista, ao transpor 143 imagens de portas de
banheiros públicos para as paredes da galeria.
Fotografadas em distintas cidades, essas imagens foram
limpas até que restassem apenas desenhos, aplicados, por
serigrafia, em tamanho natural,
sobre madeiras pintadas na cor
da porta original.
O mapeamento, agora, reúne
distintas formas de expressão,
ampliando o repertório da artista. Em sua pesquisa, revelar
o invisível é processo de conhecimento.
COISA DE NINGUÉM. COISA DE TODOS
Quando: abertura, hoje, às 14h; de ter.
a sex., das 10h às 19h; sáb., das 10h às
17h; até 23/6
Onde: galeria Fortes Vilaça (r. Fradique Coutinho, 1.500, tel. 3032-7066)
Quanto: entrada franca
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