São Paulo, quinta-feira, 26 de maio de 2011

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CRÍTICA DRAMA

Arquitetura rege briga de vizinhos em filme

Em "O Homem ao Lado", de Mariano Cohn e Gastón Duprat, protagonista é infernizado por construção de janela

INÁCIO ARAUJO
CRÍTICO DA FOLHA

Leonardo é um bem-sucedido designer, de fama internacional, que mora em La Plata numa casa desenhada por Le Corbusier. É também rico, culto e feliz.
Nada pode perturbá-lo, até que Victor, o vizinho do lado, abre uma janela que dá bem para a sua casa. Leonardo lutará contra essa interferência do mundo. Essa é, em linhas gerais, a história de "O Homem ao Lado".
Existem ao menos quatro maneiras possíveis de encará-lo: 1) como alegoria de uma burguesia humanista e sua difícil convivência com o outro, o diferente; 2) como observação realista da eterna guerra entre vizinhos; 3) como o drama de um homem que julga estar acima das vicissitudes da vida, quando é apanhado por ela; 4) como questionamento do saber deslocado.
No tema mais concreto, o da guerra de vizinhos, o desenvolvimento das relações entre Leonardo e Victor conhece nuances interessantes, tensas, à beira de uma vulgaridade que se insinua, mas nunca se manifesta.
Os demais mencionados acima podem ser resumidos pela fórmula célebre segundo a qual o inferno são os outros. Sua evolução alterna situações dramáticas e cômicas com desenvoltura. Já a tocada minimalista não deixa de evocar o cinema de um Kiarostami, retornando aos mesmos temas sempre com alguma mudança significativa.

NÃO LUGAR
Passamos todo o filme em ambientes lindamente desenhados e decorados, mas nunca chegamos a nos localizar em seus cômodos. Com isso, o deleite estético se deixa invadir por um mal-estar constante, a nos lembrar que o vizinho talvez não seja o mal na vida de Leonardo, mas o sintoma.
Ao mesmo tempo, é essa onipresença da arquitetura que talvez impeça o filme de ser de todo convincente: ela constitui o centro dos muitos sinais da deslocada sapiência de Leonardo, o que rende momentos hilariantes, mas também tende a ênfases desnecessárias.
No final, duas coisas ao menos ficam claríssimas. Primeiro, trata-se de uma dupla de diretores promissora. Segundo, o cinema argentino se renova em caminhos experimentais, ousados , enquanto nós aqui seguimos no rame-rame tipo 1940.

O HOMEM AO LADO

DIREÇÃO Mariano Cohn e Gastón Duprat
PRODUÇÃO Argentina, 2009
COM Rafael Spregelburd, Daniel Aráoz e Eugenia Alonso
ONDE nos cines Frei Caneca Unibanco Arteplex, Lumière Playarte e Reserva Cultural
CLASSIFICAÇÃO não informada
AVALIAÇÃO bom


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