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CINEMA CRÍTICA
'Um Tiro para Andy Warhol' é filme para turistas
MAURICIO STYCER
da Reportagem Local
Entre os inúmeros defeitos de
"Um Tiro para Andy Warhol",
um dos mais incômodos é ver o
mais famoso artista plástico pop
representado como um débil
mental. Mas esse nem é o maior
problema do filme.
"Um Tiro para Andy Warhol",
obra de estréia da cineasta Mary
Harron, é uma espécie de filme
para turistas. Apresenta o espectador desavisado ao mundo de
Warhol, mas o faz de forma tão
superficial e confusa que quase
não sobrarão lembranças decentes dessa visita.
O filme toma como seu o ponto
de vista da principal protagonista,
a militante feminista lésbica Valerie Solanas. Autora de uma manifesto chamado "Escória", no qual
argumenta que, comparados às
mulheres, os homens são seres inferiores, Solanas conseguiu seus
15 minutos de fama ao atirar em
Warhol, em 3 de junho de 1968.
Antes dessa consagração, Solanas chegou a fazer uma ponta no
filme underground "I, a Man",
dirigido por Warhol, em 67. Naquele ano, Solanas havia conseguido entrar na Factory, o famoso
galpão nova-iorquino onde Warhol e seu louco grupo de amigos e
candidatos a artistas bebiam, se
drogavam e às vezes criavam.
Sem dinheiro, sem amigos e
com a sua apocalíptica idéia fixa
de propor o extermínio dos homens, Solanas seria apenas mais
uma candidata a escritora "underground", se não tivesse cometido o crime que a deixou famosa.
A diretora Mary Harron não se
contenta em narrar a vida dessa
personagem atormentada. Harron parece concordar com as
idéias de Solanas, a "intelectual"
que escreveu, por exemplo:
"Chamar um homem de animal é
elogiá-lo demais. O homem é uma
máquina, um cretino que anda.".
Ouça a diretora: "Como qualquer um, sempre achei que Valerie era louca, Em 1988, consegui
uma cópia do manifesto 'Escória'
e fiquei surpresa em descobrir como ela podia ser tão brilhante".
Mesmo quem não tem nenhuma
simpatia pela mitologia criada em
torno do mundo de Warhol vai se
decepcionar com este filme. "Um
Tiro para Andy Warhol" ataca a
Factory da maneira mais ineficaz,
que é a paródia.
Ridicularizando o artista plástico e seus amigos, Harron não consegue provocar risos, mas somente sorrisos amarelos.
Construído com clichês cimentados em clichês -"Andy se machucou no grande jogo da realidade", diz uma personagem- "Um
Tiro para Andy Warhol" tem até,
como não poderia deixar de ser,
música brasileira na trilha sonora
(Sérgio Mendes numa interpretação óbvia de "Mas Que Nada").
O desempenho da atriz Lili Taylor, premiada por sua atuação , é
considerado por alguns críticos
como um bom motivo para se assistir o filme.
De fato, Lili Taylor não chega a
salvar "Um Tiro para Andy Warhol", mas é o que há de menos
constrangedor no filme.
Filme: Um Tiro para Andy Warhol
Produção: EUA, 1996
Direção: Mary Harron
Com: Lili Taylor, Stephen Dorff
Onde: no Estação Vitrine
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