São Paulo, segunda-feira, 26 de setembro de 2011

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CRÍTICA ERUDITO

Järvi rege Osesp com intensidade e suingue

Como no ano passado, o carismático maestro fez concerto de música americana e russa para marcar retorno

SIDNEY MOLINA
CRÍTICO DA FOLHA

Em uma temporada tão intensa como a atual da Osesp, os sentidos musicais estão também entre um programa e outro, nas conexões estabelecidas por maestros, solistas e repertório.
O retorno do carismático regente estoniano Kristjan Järvi, de 39 anos, ocorreu no momento exato do ano, e parece ter sido preparado pelas minúcias do concerto da semana anterior, no qual Yan Pascal Tortelier (em grande forma) dirigiu estreias de Osvaldo Golijov e Edu Lobo ao lado da "Sinfonia em Três Movimentos" de Stravinski (1882-1971).
Como no ano passado, Kristjan Järvi fez música americana e russa: três danças de "On the Town", de Bernstein (1918-90), "Concerto para Piano n. 3", de Prokofiev (1891-1953), e "Danças Sinfônicas" op.45, de Rachmaninov (1873-1945).
Ao contrário da bela peça de Edu Lobo -cuja dicotomia entre memória e invenção reescreve o baque solto do maracatu para além de Guerra-Peixe (1914-93)-, a arte de Bernstein mergulha na Broadway dos anos 1940.
Sobra o colorido, que Järvi extraiu com o necessário suingue. Mas, a exemplo do ano passado, o destaque foi russo.
A maneira como a pianista chinesa Yuja Wang atacou e superou as diabólicas passagens do concerto de Prokofiev, prova que se pode atingir o topo aos 24 anos.
O andamento ousado soou incrivelmente natural para os intérpretes. Wang mantém a intensidade no limite da beleza, mesmo nas passagens rapidíssimas; imprime raiva (como na marcha do primeiro movimento) e sabe igualmente acompanhar e divagar (como no dueto com trompa do tema variado).

STRAVINSKI
E quem quer que resista ao romantismo epígono de Rachmaninov deveria ouvir e ver as "Danças Sinfônicas" -sua última obra- regida por Kristjan Järvi.
Ele divide o discurso e encontra a clave rítmica de cada trecho. Seu senso fraseológico refaz o percurso que leva da partitura à vida, com o corpo comentando os detalhes para o público.
A melancolia de Rachmaninov estava lá, mas também estava um Stravinski -necessário e oculto-, que unificava o programa.
Esse outro russo -ausente do concerto- emergia da Osesp: quem sabe fosse a quase memória da sinfonia tocada na semana anterior.

A MELANCOLIA DE RACHMANINOV ESTAVA LÁ, MAS TAMBÉM ESTAVA UM STRAVINSKI OCULTO QUE UNIFICAVA O PROGRAMA.

OSESP E KRISTJAN JÄRVI
Avaliação ótimo




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