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São Paulo, quarta-feira, 26 de novembro de 2003

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Tablado árido

Mario Castello/Divulgação
Cena de "Braseiro", texto de Marcos Barbosa que está na 2ª Mostra de Dramaturgia Contemporânea, dirigido por Débora Dubois


2ª MOSTRA DE DRAMATURGIA ENCENA AUTORES DO NORDESTE

VALMIR SANTOS
DA REPORTAGEM LOCAL

Dois textos escritos em 1999, um em Recife, outro em Fortaleza, ganham montagem na 2ª Mostra de Dramaturgia Contemporânea que o grupo Teatro Promíscuo realiza no Teatro Popular do Sesi, em São Paulo.
A segunda quinzena do evento começa hoje com "Braseiro", do cearense Marcos Barbosa, 26, sob direção de Débora Dubois, e "Coiteiros de Paixões", do pernambucano Luiz Felipe Botelho, 44, por Johana Albuquerque.
Em "Braseiro", uma família recebe a notícia de que o filho mais velho foi preso por tentar roubar bois de um velho inimigo. Se o pai (Renato Modesto), a mãe (Regina França), a avó (Luah Guimarãez) e o outro irmão (Ariel Borghi) não pagarem resgate, ele será queimado numa fogueira.
"Comecei a trabalhar os diálogos sem saber para onde ia a peça, deixando que uma fala chamasse a outra. De partida, não sabia nem quantos personagens teria, não sabia sequer que ia ambientá-la no sertão nordestino. Talvez por isso, quando a peça foi encenada, primeiro em Fortaleza, por Artur Guedes, e agora em São Paulo, por Débora Dubois, a ambientação das montagens tenham fugido à estética imagética do sertão do Nordeste do Brasil", afirma Barbosa. O autor teve outro texto encenado há pouco no mesmo Popular do Sesi, "Quase Nada", dirigido por Roberto Lage.
Em "Coiteiros de Paixões", Epitácio (Ariel Borghi), um filho de sertanejos, é jurado de morte ao matar um homem influente.
O rapaz é levado por Lampião (Elcio Nogueira Seixas) para o Coito, um lugar comandado por outro cangaceiro, Salamanca (Renato Modesto).
Aos poucos, vêm à tona os segredos do Coito e de seus habitantes (os coiteiros). O autor escreveu a peça a partir da leitura de uma reportagem que discutia se Lampião era criminoso ou herói.
"Hoje, os crimes efetivamente não estão "à margem" da sociedade, mas no âmago dela, na sala de todas as pessoas, como um membro da família, ao vivo, em cores, estúpido e explícito", afirma Botelho.
"Eu queria falar sobre esse paradoxo esquisito, entender melhor o que se passa, essa "marginalidade-que-não-está-à-margem", cada vez mais incorporada ao nosso cotidiano como se fosse algo muito natural e imutável."
Botelho também é ator, diretor e roteirista de cinema. Escreve para teatro desde 1988. Soma 26 peças escritas (todas já encenadas), com ênfase na abordagem alegórica ou na releitura de mitos.
Ambas as montagens se passam no cenário-instalação "Matérica", criado por Daniela Thomas e Marcia Moon no palco do Popular do Sesi. Remete à terra em que se pisa, se planta. Um espaço finito, manipulável. "Queríamos também que fosse claro o pacto da cena, a geografia geométrica do espaço cênico, num retângulo bem demarcado sobre o piso do palco", diz Thomas, 44.

2ª MOSTRA DE DRAMATURGIA CONTEMPORÂNEA. "Braseiro". De: Marcos Barbosa. Direção: Débora Dubois. "Coiteiros de Paixões". De: Luiz Felipe Botelho. Direção: Johana Albuquerque. Com: grupo Teatro Promíscuo (Renato Borghi, Valéria Pontes e outros). Onde: Teatro Popular do Sesi (av. Paulista, 1.313, tel. 0/xx/11/ 3146-7405). Quando: de hoje a 7/12; qua. a dom., às 20h30. Quanto: entrada franca (a bilheteria abre uma hora antes para distribuir um ingresso por pessoa).


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