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Crítica/"Tow in Surfing"
Filme encara grandes ondas
CARLOS SARLI
COLUNISTA DA FOLHA
A história de "Tow in Surfing", documentário
que acaba de estrear em
São Paulo, começa numa pequena faixa costeira conhecida
como North Shore, na ilha de
Oahu, Havaí, que concentrou
durante décadas os maiores desafios para os surfistas de ondas
grandes.
Nos anos 50, ondas como
Sunset, Waimea e finalmente
Pipeline foram conquistadas e
atraíram surfistas de todo o
planeta. Não bastassem os
americanos, vieram australianos e brasileiros, criando um
outro desafio para o surfe -a
multidão dentro da água e, conseqüentemente, o mau humor
dos nativos.
Nos anos 90, novas ondas gigantes foram descobertas, e
surgiu outro elemento para alterar os rumos do surfe: o jet
ski. O surfe de ondas grandes
nunca mais foi o mesmo.
Controverso, para os puristas o surfe "tow in", a reboque,
não era surfe; a evolução dos
equipamentos e da técnica levou à constatação de que o recurso elevava o esporte a novos padrões. A descoberta de Jaws,
na ilha de Maui, Havaí, onde
ondas duas vezes maiores que
as surfadas até então foram
corridas, ajudou na conclusão.
A essa altura um seleto grupo
de brasileiros já fazia parte da
elite mundial dos "big riders",
estímulo fundamental para que
Rosaldo Cavalcanti e Jorge
Guimarães fossem atrás de viabilizar um projeto em duas fases: a realização do 1º Tow in World Cup e, a partir da competição, a captação de imagens
para um documentário. Álvaro
Otero, do Estúdios Mega, abraçou a idéia.
A maior premiação da história de um campeonato de surfe,
US$ 70 mil para a dupla campeã, ajudou a convencer os havaianos a liberarem seu templo do surfe para a realização de
um campeonato organizado e
patrocinado por brasileiros.
Para complicar, a data escolhida coincidiu com a do mais
tradicional campeonato de ondas grandes na remada, o Eddie
Aikau, em Waimea, o que dividiu os convidados para as duas
provas.
Risco de morte
Antes do amanhecer do dia 7
de janeiro de 2002 as duplas já
se preparavam. Quando o sol
iluminou a baía de Pe'ahi, séries com ondas de 20 m quebravam na bancada de Jaws.
Esse é o cenário do documentário dirigido por Guimarães e Cavalcanti e protagonizado por alguns dos melhores
surfistas de onda grande do
mundo, motivados pela fama e
pelo dinheiro, mas acima de tudo pela chance de pegar a onda
da vida. Captado em super 16 e
35 mm, o resultado fica ainda
mais impressionante na telona.
"Tow" usa e abusa das imagens registradas a partir dos
helicópteros, um recurso para a
busca de ângulos alternativos,
bastante limitados diante das
condições ameaçadoras do
mar. Narrado em inglês pelos
competidores, o filme procura
passar a dramaticidade que experimentam os raros atletas
dispostos a encarar ondas do
tamanho de um prédio de seis
andares. Os caldos e os resgates
registrados ajudam a entender
o porquê de os competidores
falarem insistentemente em
medo e risco de morte.
No dia em que "Tow in Surfing" foi produzido, algumas
das maiores ondas da história
foram surfadas, e os brasileiros
se destacaram. Obrigatório para os amantes do esporte e recomendável para quem curte ver a força da natureza tentando ser dominada pelo homem.
TOW IN SURFING
Direção: Jorge Guimarães e Rosaldo
Cavalcanti
Produção: Brasil/EUA, 2005
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