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O EQUILIBRISTA
Público diverge sobre performance de Maurício Ianês em galeria
Artista discute a comunicação
GABRIELA LONGMAN
DA REPORTAGEM LOCAL
De olhos completamente vendados, um homem caminha sobre uma estrutura de madeira estreita como uma corda bamba,
sustentada por um jogo de cadeiras. Vestido com roupas brancas, carrega na boca um envelope branco, sem nada escrito. O
envelope será trocado ao longo
da caminhada, sempre por outros também brancos. Ao fundo,
sons recitam lentamente o alfabeto, numa espécie de mantra.
O percurso de cerca de 50 minutos compõe a performance
"Mensageiro", realizada pelo artista Maurício Ianês anteontem,
na galeria Vermelho. Se parte do
público observa com atenção cada um de seus passos, a outra sai,
nervosa em ver esse homem cego e suado, que treme para se
equilibrar, ao som quase ancestral das letras.
"Esse tipo de reação já aconteceu antes, mas eu não faço performances com a intenção de
chocar o público", diz Ianês, 32,
que diz não se lembrar ao certo
como começou a trabalhar com
essa forma de arte, presente desde o início de sua carreira.
Sua trajetória inclui horas embrulhado em fita isolante ("fiquei à beira de passar mal") e a
série "Privado" (2004) -seqüência de miniperformances
feitas dentro de uma cabine, para
um único espectador.
"Elas [as performances] são
uma tentativa de colocar artista e
espectador sem a mediação da
obra de arte, de aproximar aquilo que muitas vezes a obra distancia", diz Ianês, que também
trabalha com vídeo, projeções,
instalações e moda.
O verbo
"Mensageiro" é, antes de tudo,
um trabalho sobre a comunicação. "Vejo cada um destes meus
trabalhos como o capítulo novo
de um livro. Há algum tempo,
minha discussão tem sido em
torno da linguagem", diz o artista, que vê na figura do receptor (e
seu repertório) o elemento central do processo comunicativo.
Nessa busca de uma linguagem
que ultrapasse as barreiras, Ianês
cria um cenário inusitado, não
só para o público, mas para si:
"Procuro sempre ensaiar muito
pouco. O que me interessa é estar
numa situação nova."
A performance será reapresentada nos dias 6 e 13 de maio.
Quem for à galeria Vermelho antes verá expostos uma instalação
("Tom") e dois vídeos de Ianês
("Alfabeto Barroco" e "Sussurro", ambos deste ano). Mais uma
vez, a linguagem e as diferentes
formas de recepção interligam
os trabalhos.
Paralelamente à mostra de Ianês, a Vermelho apresenta obras
do fotógrafo Ding Musa. Em
"Baldio" e "Fundo Infinito", explora grandes áreas desabitadas.
Maurício Ianês e Ding Musa
Quando: de ter. a sex., das 10h às 19h;
sáb., das 11h às 17h; até 20/5; a
performance "Mensageiro" acontece
dias 6 e 13/5, das 15h às 16h
Onde: galeria Vermelho (r. Minas
Gerais, 350, tel. 3257-2033)
Quanto: entrada franca
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