UOL


São Paulo, quarta-feira, 27 de agosto de 2003

Índice

BALÉ

O norte-americano David Parsons volta ao Brasil para apresentar "Caught", "Samsara" e coreografar para a Cia. Étnica

"São as pessoas que fazem a dança"

Divulgação
David Parsons em cena de "Caught", coreografia que o bailarino encenará no Brasil


INÊS BOGÉA
CRÍTICA DA FOLHA

Uma coreografia inédita, "Oferenda 13", com música brasileira, abre a "Gala" da Antares, comemorando dez anos de produção de dança no país. É um trabalho especialmente criado por David Parsons, em parceria com a Cia. Étnica de Dança -grupo formado no projeto social do Morro do Andaraí (Rio), dirigido por Carmen Luz. A noite, que reúne outros artistas, como a bailarina espanhola Eva Yerbabuena, a Orquestra Petrobras Pro-Música e o maestro-pianista Ira Levin, acontecerá no próximo mês em São Paulo e no Rio.
O americano David Parsons, 44, que chega ao Brasil nesta sexta, apresentará seu famoso solo "Caught" e fará uma improvisação ("Samsara") em cena. Antes de ser bailarino, Parsons foi atleta. Dançou na companhia de Paul Taylor (referência na sua geração) de 1978 a 1987, quando criou sua própria companhia. Ali desenvolveu seu estilo, baseado na energia do movimento e no humor. Mais tarde coreografou a convite da Paul Taylor Dance Company e do National Ballet do Canadá, entre outros. Alguns desses trabalhos foram dançados pelo Ballet da Ópera de Paris e o Nederlands Dans Theatre 3.
Parsons e seu grupo estiveram várias vezes no Brasil; o próprio coreógrafo gosta de passar férias por aqui. De suas visitas ao Amazonas, lembra-se com especial afeto do Boi Bumbá, em Parintins. Contente com mais essa visita, conversou por telefone, de Nova York, com a Folha.
 

Folha - Até agora, você trabalhou com a Cia. Étnica através de vídeos. Como é isso?
David Parsons -
Os vídeos são uma oportunidade de conhecer os bailarinos e seu trabalho. O coreógrafo sou eu: colocarei minhas idéias na música escolhida, usando o vocabulário de movimento deles. Você pode vir com suas idéias, estruturas e modelos; mas são as pessoas que fazem a dança.

Folha - O que seu trabalho em Kansas City tem em comum com o que você desenvolverá por aqui?
Parsons -
Tenho feito muitos trabalhos com jovens, sempre no sentido de eles encontrarem sua própria voz através da dança, da videodança, da música. Procuro mostrar que podem ser criativos na sua vida cotidiana. Tive sorte de encontrar a dança, que é hoje minha profissão e minha vida. Quero mostrar às crianças que elas têm opções, explorando a vida como artistas.

Folha - Você já trabalhou com fotografia. Isso inspirou alguma criação específica?
Parsons -
"Caught" é basicamente um trabalho sobre fotografia. A idéia é encontrar uma maneira de traduzir a fotografia na cena. Como na fotografia: você descobre uma forma; depois faz ajustes, já sabendo de antemão o enquadramento. Imaginei controlar a luz e fazer uma dança totalmente no ar. E assim nasceu "Caught": da experimentação num quarto escuro com luz estroboscópica.

Folha - Você poderia nos falar sobre a música que Milton Nascimento criou, de presente, para sua companhia?
Parsons -
Milton sabia que estávamos começando e nos ajudou muito, porque dançamos essa peça pelo mundo inteiro. Ele sabia que queríamos sobreviver como artistas, o que é muito difícil.

Folha - Como você descreveria a coreografia ("Nascimento")?
Parsons -
Eu sou do Meio-Oeste americano, Kansas City. A coreografia traduz alguma coisa de nossa fascinação pelo Brasil, por suas cores, sua música. É um gringo olhando para o Brasil. Um olhar jovem e brilhante, apaixonado.

Folha - Como o trabalho ao lado de Paul Taylor lhe influenciou?
Parsons -
Paul é um grande artista, que me influenciou muito. Nos anos em que trabalhamos juntos, ele nos levava a diferentes direções, por vezes desconfortáveis. Sempre me lembro dele dizendo que devemos variar na dança. Quando você se sente confortável numa maneira de se movimentar, mude. Se quer criar algo novo, precisa se sentir um pouco desconfortável e aceitar o risco.

Folha - Você disse que queria coreografar para máquinas. Já experimentou?
Parsons -
É algo que sempre quis fazer. Gostaria de coreografar para um arado, que penetra na terra. Você poderia dançar com escavadeiras ou tratores. Gostaria de coreografar para esses "músculos". Mas ainda não foi possível. Em vez de usar os músculos, usaria ali a mecânica. Constantemente nos relacionamos com alguma tecnologia, há sempre algo nos chamando a atenção nesse sentido.

Folha - O quanto de improvisação tem no seu trabalho?
Parsons -
Uso muito a improvisação. Algumas vezes trabalho realmente uma improvisação que se constrói na cena. Outras vezes uso no processo coreográfico para encontrar novos vocabulários.

Folha - Algum recado para os brasileiros?
Parsons -
Há apartamentos baratos no Rio? Gostaria de comprar um. O Brasil é como uma segunda casa para mim: já estive tantas vezes, em turnê e visitando amigos, que é como voltar para casa.


Índice


UOL
Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.