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BALÉ
O norte-americano David Parsons volta ao Brasil para apresentar "Caught", "Samsara" e coreografar para a Cia. Étnica
"São as pessoas que fazem a dança"
Divulgação
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David Parsons em cena de "Caught", coreografia que o bailarino encenará no Brasil |
INÊS BOGÉA
CRÍTICA DA FOLHA
Uma coreografia inédita, "Oferenda 13", com música brasileira,
abre a "Gala" da Antares, comemorando dez anos de produção
de dança no país. É um trabalho
especialmente criado por David
Parsons, em parceria com a Cia.
Étnica de Dança -grupo formado no projeto social do Morro do
Andaraí (Rio), dirigido por Carmen Luz. A noite, que reúne outros artistas, como a bailarina espanhola Eva Yerbabuena, a Orquestra Petrobras Pro-Música e o
maestro-pianista Ira Levin, acontecerá no próximo mês em São
Paulo e no Rio.
O americano David Parsons, 44,
que chega ao Brasil nesta sexta,
apresentará seu famoso solo
"Caught" e fará uma improvisação ("Samsara") em cena. Antes
de ser bailarino, Parsons foi atleta.
Dançou na companhia de Paul
Taylor (referência na sua geração)
de 1978 a 1987, quando criou sua
própria companhia. Ali desenvolveu seu estilo, baseado na energia
do movimento e no humor. Mais
tarde coreografou a convite da
Paul Taylor Dance Company e do
National Ballet do Canadá, entre
outros. Alguns desses trabalhos
foram dançados pelo Ballet da
Ópera de Paris e o Nederlands
Dans Theatre 3.
Parsons e seu
grupo estiveram
várias vezes no
Brasil; o próprio
coreógrafo gosta
de passar férias
por aqui. De suas
visitas ao Amazonas, lembra-se
com especial afeto
do Boi Bumbá, em
Parintins. Contente com mais essa
visita, conversou
por telefone, de
Nova York, com a
Folha.
Folha - Até agora,
você trabalhou
com a Cia. Étnica
através de vídeos.
Como é isso?
David Parsons - Os vídeos são
uma oportunidade de conhecer
os bailarinos e seu trabalho. O coreógrafo sou eu: colocarei minhas
idéias na música escolhida, usando o vocabulário de movimento
deles. Você pode vir com suas
idéias, estruturas e modelos; mas
são as pessoas que fazem a dança.
Folha - O que seu trabalho em
Kansas City tem em comum com o
que você desenvolverá por aqui?
Parsons - Tenho feito muitos trabalhos com jovens, sempre no
sentido de eles encontrarem sua
própria voz através da dança, da
videodança, da música. Procuro
mostrar que podem ser criativos
na sua vida cotidiana. Tive sorte
de encontrar a dança, que é hoje
minha profissão e minha vida.
Quero mostrar às crianças que
elas têm opções, explorando a vida como artistas.
Folha - Você já trabalhou com fotografia. Isso inspirou alguma criação específica?
Parsons - "Caught" é basicamente um trabalho sobre fotografia. A idéia é encontrar uma maneira de traduzir a fotografia na
cena. Como na fotografia: você
descobre uma forma; depois faz
ajustes, já sabendo de antemão o
enquadramento. Imaginei controlar a luz e fazer uma dança totalmente no ar. E assim nasceu
"Caught": da experimentação
num quarto escuro com luz estroboscópica.
Folha - Você poderia nos falar sobre a
música que Milton
Nascimento criou,
de presente, para
sua companhia?
Parsons - Milton
sabia que estávamos começando e
nos ajudou muito,
porque dançamos
essa peça pelo
mundo inteiro. Ele
sabia que queríamos sobreviver como artistas, o que é
muito difícil.
Folha - Como você
descreveria a coreografia ("Nascimento")?
Parsons - Eu sou
do Meio-Oeste
americano, Kansas
City. A coreografia traduz alguma
coisa de nossa fascinação pelo
Brasil, por suas cores, sua música.
É um gringo olhando para o Brasil. Um olhar jovem e brilhante,
apaixonado.
Folha - Como o trabalho ao lado
de Paul Taylor lhe influenciou?
Parsons - Paul é um grande artista, que me influenciou muito. Nos
anos em que trabalhamos juntos,
ele nos levava a diferentes direções, por vezes desconfortáveis.
Sempre me lembro dele dizendo
que devemos variar na dança.
Quando você se sente confortável
numa maneira de se movimentar,
mude. Se quer criar algo novo,
precisa se sentir um pouco desconfortável e aceitar o risco.
Folha - Você disse que queria coreografar para máquinas. Já experimentou?
Parsons - É algo que sempre quis
fazer. Gostaria de coreografar para um arado, que penetra na terra.
Você poderia dançar com escavadeiras ou tratores. Gostaria de coreografar para esses "músculos".
Mas ainda não foi possível. Em
vez de usar os músculos, usaria ali
a mecânica. Constantemente nos
relacionamos com alguma tecnologia, há sempre algo nos chamando a atenção nesse sentido.
Folha - O quanto de improvisação
tem no seu trabalho?
Parsons - Uso muito a improvisação. Algumas vezes trabalho
realmente uma improvisação que
se constrói na cena. Outras vezes
uso no processo coreográfico para encontrar novos vocabulários.
Folha - Algum recado para os brasileiros?
Parsons - Há apartamentos baratos no Rio? Gostaria de comprar
um. O Brasil é como uma segunda
casa para mim: já estive tantas vezes, em turnê e visitando amigos,
que é como voltar para casa.
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