Grupo de Nova York abre mostra Cena Contemporânea de teatro em São Paulo

Experiência de soldados é base do texto americano; peças uruguaia e argentina sobem ainda aos palcos do CCBB em setembro

Divulgação

Kevin Augustine, diretor e ator "The Hobo Grunt Cycle"

JOSÉ ORENSTEIN
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Em tempos de diálogos cada vez mais truncados entre humanos, entram em cena marionetes. É com essa ideia que estreia hoje a peça "The Hobo Grunt Cycle", do grupo americano The Lone Wolf Tribe.
O espetáculo abre a programação do Cena Contemporânea - Mostra São Paulo que durante o mês de setembro traz quatro peças à cidade, três delas inéditas no Brasil. A mostra é uma extensão do Festival Internacional de Teatro de Brasília, que realiza a sua décima edição entre os dias 2 e 13 de setembro (programação completa em www.cenacontemporanea.com.br).

Mundo cão
As marionetes e atores da companhia Lone Wolf Tribe -baseada no Brooklyn, em Nova York- estão em "The Hobo Grunt Cycle" a serviço de uma reflexão sobre a violência. Como contou à Folha o diretor do grupo e autor da peça, Kevin Augustine, por telefone, "a peça é sobre como e por que há ainda tanta violência enquanto as pessoas proclamam a paz".
Por meio de uma analogia com as rinhas de cachorro, Augustine traz à cena os dilemas que vivem os soldados ao lidar com a marcante experiência da guerra, tema recorrente na sociedade norte-americana. Se as brigas entre animais são ilegais e causam ojeriza às pessoas, Augustine quer também propor uma reflexão sobre as brigas entre os homens que se repetem ao longo da história. "O soldado é um civil treinado para combater e matar. Entrevistei vários deles, das guerras no Iraque e no Afeganistão a veteranos. O que acontece agora não é diferente do que acontecia tempos atrás. Os danos ao corpo, à mente e à alma são os mesmos", diz o autor.
O espetáculo, que estreou em junho na Holanda, trabalha ainda com o universo do circo, tendo como protagonista um palhaço melancólico que observa o ciclo da violência e suas consequências em veteranos de guerra. Com influências do Bunraku -teatro de bonecos japonês- a peça de Augustine, entre vozes e latidos, busca examinar as feridas e cicatrizes do nosso tempo.