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FOTOGRAFIA
Com recursos semelhantes, André Gardenberg e Juan Esteves tentam desvendar semblantes de celebridades
Mostras em São Paulo revelam rugas internas e externas
EDER CHIODETTO
FREE-LANCE PARA A FOLHA
O que revelam e o que ocultam as feições do rosto? Esta
indagação, tema central da fotografia desde seus primórdios, retorna agora em duas exposições
em São Paulo que têm o retrato
como enfoque: "Visages", de Juan
Esteves, e "Arquitetura do Tempo", de André Gardenberg.
Fotografar alguém que se dispõe a posar para a câmera é tarefa
aparentemente fácil. De que forma retratar essa pessoa para alcançar uma determinada expressividade que denote sua singularidade e ao mesmo tempo as características subliminares que a tornam universal é a equação que
atormenta os fotógrafos nesses
165 anos da fotografia.
Para obter êxito em retratos não
há regras. Muitos tentaram imitar
a luz e a técnica de mestres do retrato como Nadar (1820-1910) e
Richard Avedon (1923-2004) e
permaneceram à sombra destes.
O segredo, portanto, não se esconde na técnica, mas na capacidade do fotógrafo fazer do momento fotográfico um estado de
fruição entre ele e o retratado.
Não basta descontrair o retratado
e esperar que num dado instante
ele vá se entregar íntegro e indefeso à câmera. É preciso que o fotógrafo também esteja na mesma
sintonia. É como se a câmera estivesse apontada para ambos. Fotografar alguém, em última instância, é fotografar-se. Todo retrato
implica um auto-retrato.
Quando se trata de fotografar
celebridades, essa interação parece ser ainda mais difícil. Treinados para a pose, com sorrisos e
maneirismos pré-estudados, os
famosos geralmente oferecem às
câmeras apenas o invólucro de
um personagem, uma máscara.
Tanto Juan Esteves como André
Gardenberg fotografam pessoas
famosas, a maioria do meio artístico. Ambos optam por composições semelhantes, com um corte
abrupto centrado no rosto do personagem, iluminação de estúdio e
filme preto-e-branco. Tudo muito semelhante, mas com resultados absolutamente diversos.
Esteves busca a definição máxima na fotografia e explora com
perspicácia a dramaticidade do
contraste entre o preto e o branco,
em imagens de grande rigor técnico e formal. Seus retratos são
leituras incisivas da personalidade dos seus eleitos. Sobressaem
seus estados de ânimo, aflora uma
humanidade que não se vê normalmente nas fotos de celebridades. Em cada fotografia há um
claro, ainda que tênue, comentário do fotógrafo.
Gardenberg, em plena era do
botox e de belezas artificialmente
construídas, pretende fazer um
elogio às rugas, entendidas como
sinais de "sabedoria, vivência e
até sensualidade". A boa intenção, porém, esbarra em problemas técnicos que resultam em falta de definição, fundamental para
seu projeto, e na opção nada feliz
em trabalhar com luz contínua,
que resulta numa certa pasteurização. A falta de direção dos personagens, na espera de que o improviso pudesse suprir tais lacunas, deixa claro que o fotógrafo
não conseguiu avançar além da
superfície dos personagens. Mesmo para fotografar rugas é preciso investir na alma humana. É
uma operação subcutânea.
Visages
Onde: Espaço Nossa Caixa (r. Álvares
Penteado, 70, tel. 3244-6838 )
Quando: até 7/1, das 10h às 16h,
somente nos dias úteis
Quanto: entrada franca
Arquitetura do Tempo
Onde: MIS (av. Europa, 158, tel. 3062-9197)
Quando: abertura hoje, às 19h; até 1º/2,
de ter. a sex., das 12h30 às 20h30; sáb. e
dom., das 11h às 20h
Quanto: entrada franca
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