São Paulo, segunda-feira, 27 de novembro de 2006

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Porto Seguro valoriza fotografia política

Os fotógrafos Luis Humberto e Fernando Lemos foram premiados na sexta edição do evento por seus olhares em tempos de ditadura

Concurso destacou produção paraense e, como revelação, a obra de Tiago de Arcela, mas trabalhos experimentais e de SP ficaram de fora

Paula Sampaio/Divulgação
Trabalho de Paula Sampaio, vencedora da categoria Brasil


EDER CHIODETTO
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Dois regimes ditatoriais, dois olhares distintos e complementares sobre a repressão. O Prêmio Porto Seguro Fotografia, em sua sexta edição, privilegiou uma fotografia de viés político e, pela primeira vez, premiou dois fotógrafos na categoria especial: Luis Humberto, 72, e o português naturalizado brasileiro Fernando Lemos, 80.
A entrega dos prêmios e a abertura da exposição com os trabalhos vencedores e de mais 19 fotógrafos será hoje à noite, para convidados, no Espaço Porto Seguro de Fotografia.
Humberto foi repórter-fotográfico da editora Abril entre 66 e 78, atuando no auge da ditadura. Com os textos da imprensa sob censura, percebeu que a fotografia era uma ferramenta para, com ironia e um olhar original, fazer uma crítica que passasse despercebida pelos censores. Trabalho histórico, de resistência, que carece de estudo mais aprofundado.
Lemos, também pintor, poeta e designer, criou a maior parte de sua obra fotográfica ainda em Portugal nos anos 40 e 50 sob a ditadura salazarista. Integrava um grupo de jovens artistas portugueses que faziam resistência ao regime. Ao contrário de Humberto, seu olhar se filiou aos surrealistas, propondo uma fuga da realidade vigente por meio do imaginário e de uma atmosfera onírica.

Recorde de inscrições
Esta edição do Prêmio Porto Seguro, sob o tema "Ética Brasil Cidadania... Brasileiros" recebeu o número recorde de 1.119 inscrições e 7.395 trabalhos vindos de 23 Estados. Em decisão inédita e controversa, o júri optou por não atribuir prêmios às categorias São Paulo, para fotógrafos que moram no Estado, e Pesquisas Contemporâneas, para trabalhos experimentais. A opção foi juntar a verba de R$ 25 mil das duas categorias para criar um segundo prêmio especial para fotógrafos consagrados e não inscritos.
Segundo o curador do prêmio, Cildo Oliveira, a edição de 2007 deve sofrer mudanças em seu formato para abarcar a crescente produção de fotografias em novos suportes e manipuladas por computadores.
O prêmio da categoria Brasil, de R$ 12,5 mil, foi dado à mineira radicada em Belém Paula Sampaio, 41, fotodocumentarista que retratou a Transamazônica e seus efeitos sobre a população e o ambiente por mais de 15 anos. Assim, a comissão premia com justiça a produção paraense que, fora do eixo Rio-SP, é a mais pulsante e criativa na fotografia documental e na experimental.
Na categoria revelação, o premiado foi o baiano residente em Brasília Tiago da Arcela, 26, que recebe R$ 7.000. Seu ensaio consiste em fotografar monumentos e fixar as imagens em locais públicos próximo a eles. Num poste ao lado do Congresso Nacional, por exemplo, colou cartazes com a foto do prédio e a questão: "Você viu o Congresso hoje?". Uma forma bem-humorada de falar da invisibilidade que os monumentos adquirem na paisagem urbana pelo excesso de exposição.

PRÊMIO PORTO SEGURO FOTOGRAFIA 2006
Quando: hoje, às 20h (convidados); de amanhã a 28/1, das 10h às 18h
Onde: Espaço Porto Seguro Fotografia (al. Barão de Piracicaba, 740, 3366-8262 Quanto: entrada franca



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