São Paulo, segunda-feira, 28 de janeiro de 2008

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Mostra destaca Lasar Segall realista

Exposição relativiza fase expressionista do artista, a mais conhecida, para se aprofundar no diálogo com homem comum

Curador Tadeu Chiarelli reuniu 148 obras na Galeria de Arte do Sesi em comemoração aos 50 anos da morte do pintor

Divulgação
Alegoria do sofrimento humano, "Pogrom' (1937) retrata as vítimas dos massacres de judeus


SILAS MARTÍ
DA REPORTAGEM LOCAL

Foi em alto-mar, num ponto do Atlântico entre o Brasil e a Europa, que Lasar Segall (1891-1957) sentiu os primeiros sintomas de uma crise que marcou sua vida. Olhando para as "catedrais celestes" que se formavam nas nuvens e a "estruturação plástica" de volumes nas ondas, percebeu que tinha de encontrar um equilíbrio entre abstração e realidade.
Que a epifania registrada anos depois em seus escritos tenha acontecido no meio do mar, entre seu continente de origem e o país onde veio fincar raízes, mostra que o choque com esta terra distante e colorida o fez buscar outro rumo -lituano, ele voltava então para a Europa depois de visitar o Brasil pela primeira vez em 1913.
Sua busca por um diálogo com o homem comum é o foco da mostra "Segall Realista", aberta hoje pela Galeria de Arte do Sesi, numa comemoração tardia dos 50 anos da morte do pintor e dos 40 anos do Museu Lasar Segall, no ano passado.
Pela primeira vez encarregado de fazer uma exposição sobre Segall, o curador Tadeu Chiarelli reuniu 148 obras -vindas do acervo do Museu Lasar Segall, de museus no Rio e em Porto Alegre e de coleções particulares- para relativizar a fase expressionista do artista, em que fez seus quadros mais famosos, e destacar sua fase realista, que despontava num momento em que as vanguardas entravam em recesso. "O que a tradição criou foi essa imagem do Segall expressionista, cristalizando um ponto de vista que, em vez de ampliar, cerceou a leitura da obra dele", afirma Chiarelli.
Quando voltou ao Brasil em 1923, já um nome forte do expressionismo, Segall foi acolhido pelos modernistas no rastro eufórico da Semana de 22. Eles viram nele um reforço teórico de peso para explicar o retorno às formas humanas sem negar a abstração, o que seria a evolução natural da pintura de Anita Malfatti e Tarsila do Amaral -forjando um retrato moderno do homem brasileiro. "Esta exposição dá uma dimensão dele enquanto profissional em crise com a própria produção. Ele não era um semideus da arte, não pairava sobre a história", opina Chiarelli.
As mudanças no traço ficam evidentes na mostra. Enquanto "Eternos Caminhantes" (1919), tela emblemática do início de sua carreira, exacerba a angulosidade e as diagonais do expressionismo, "Dois Nus" (1930) reforça o aspecto bidimensional da pintura, dispondo os corpos em "x", e retorna à preocupação com a figura humana.
Demorou quase 20 anos, desde que veio ao Brasil, para que ele pintasse "Pogrom" (1937) -em referência a massacres de judeus. Mesmo o caráter de denúncia da tela não abala a composição delicada, que concentra as figuras como fetos num útero, recolhidos do terror.
Menos tétrico e mais realista, "Jovem de Cabelos Compridos" (1942) atesta o início da última fase de Segall. Se o traço dos olhos e dos cabelos revela um grau de realismo quase fotográfico, a técnica desmente. Vistas de perto, as pinceladas grossas mostram as tentativas de conquistar novos volumes.
Segall morre do coração em 1957, deixando a última fase a meio caminho. Talvez por isso o curador escolheu obras menos estrondosas e mais introspectivas para o fim do percurso expositivo. A mostra, que viaja depois para Rio e Curitiba, deixa de lado o fim apoteótico para mostrar, longe do mito que se tornou, um homem real.


SEGALL REALISTA
Quando:
abertura hoje, às 19h30; seg., das 11h às 20h; de ter. a sáb., das 10h às 20h; dom., das 10h às 19h; até 16/3
Onde: Galeria de Arte do Sesi (av. Paulista, 1.313, tel. 3146-7405)
Quanto: entrada franca


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