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TEATRO/CRÍTICA
Em espaço alternativo, peça dirigida por Maurício Paroni de Castro conta com rodízio de atores
Educação sentimental iconoclasta move "Pornografia Barata"
Lenise Pinheiro/Folha Imagem
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Ziza Brisola e Paulo Moreno, atores da peça "Pornografia Barata' |
SERGIO SALVIA COELHO
CRÍTICO DA FOLHA
Simular sexo no palco é uma
tarefa ingrata. Para transpor o
constrangimento, em geral os atores caem ora em um narcisismo
automistificador por estarem
transgredindo um suposto pudor
burguês, ora em um deboche que
resvala para a caricatura estigmatizadora.
Maurício Paroni de Castro, junto a seu grupo Atelier Manufactura Suspeita, propõe o que já no título é uma provocação. "Pornografia Barata" é uma seqüência de
histórias "comprometidas, muito
íntimas e tragicômicas", na sua
própria definição. Paroni fixou a
peça num peep show improvisado, no bar Sarajevo Internet
Point, espaço alternativo vizinho
às boates explícitas da Augusta.
Nenhuma novidade nisso: na
virada do século, o grupo Caminhando de Teatro de Jairo Maciel
já fazia Plínio Marcos e Genet na
rua Aurora. Essa fusão entre o
brega e o cult no entanto cumpre
aqui uma função que vai além do
novo e do insolente.
É pelo simulacro, pelo precário,
que a montagem de Paroni se desarma de qualquer pretensão e
conquista a cumplicidade do público. Seus atores, que ainda há
pouco eram seus alunos, expõem
sem pudor não tanto suas "intimidades", depoimentos que não
raro beiram a histeria do besteirol, mas a inexperiência teatral,
num texto rico não em revelações,
mas em ritmos, deslocamentos.
O espetáculo funciona então como um exercício aberto, tornado
ainda mais desafiador por um rodízio de personagens. A estranha
beleza de Roberta Youssef, a empatia de Fernanda Moura, o timing cômico de Diego Ruiz, a
sensualidade escamosa de Paulo
Moreno... fazem esse caleidoscópio de taras evocar o frescor do
"Trate-me Leão", do Asdrúbal
Trouxe o Trombone, nos 70.
Desarmado, o público é conduzido sem perceber do sexo ao
amor, da hilaridade ao lirismo, na
emocionante cena entre a criança
e o padre pedófilo, na mascarada
cena final, que remete a Qorpo
Santo e James Ensor. No final, fica
a vontade de voltar para ver como
muda o espetáculo, com tal ator
em tal personagem. Assim, pelo
riso que desmistifica a perversão,
pela sofisticação de conceitos que
se desenha por trás do precário,
"Pornografia Barata" constitui-se
numa educação sentimental iconoclasta para um público de descolados e deslocados.
Pornografia Barata
Texto: Andrés Lima
Direção: Maurício Paroni de Castro
Com: Diego Ruiz, Fernando Moura, Paulo
Moreno, Roberta Youssef e outros
Onde: Sarajevo Internet Point (r.
Augusta, 1.385, tel. 9411-3062)
Quando: de dom. a ter., às 21h15
Quanto: R$ 10
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