São Paulo, quarta-feira, 28 de fevereiro de 2007

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Mostra no CCBB-SP reafirma intenção política de Fassbinder

Ciclo traz 15 filmes do alemão e inclui "Lola" e "Lili Marlene", entre outros

CÁSSIO STARLING CARLOS
CRÍTICO DA FOLHA

Para um romântico, viver coincide com a idéia de cumprir um destino. Como romântico, o diretor alemão Rainer Werner Fassbinder realizou esse ideal, permitindo a um destino cinematográfico fazer coincidir vida e obra.
Nascido durante os bombardeios que levaram à derrocada final do nazismo na Alemanha, o prolífico cineasta e também homem de teatro consumiu sua curta existência na construção de um espelho que reflete sua experiência de vida numa sociedade reconstruída com base na amnésia.
Os 15 filmes que compõem a mostra "Fassbinder, um Anarquista Romântico", em exibição de hoje até 18 de março no CCBB-SP, reafirmam a evidente intenção política do diretor. E isso se constata nos títulos de matiz explícita (como "A Terceira Geração", sobre terrorismo, "Lili Marlene", sobre uma cantora durante o nazismo, e "Lola", sobre corrupção durante o governo de Konrad Adenauer, piloto da reconstrução no pós-guerra).
Mas mais ainda nos melodramas, gênero que Fassbinder foi buscar inspiração num mestre, Douglas Sirk, para interpretar as relações amorosas como protótipo de disputas de poder e submissão, núcleo íntimo de sua interpretação política.
Desde seu longa de estréia, "O Amor É Mais Frio que a Morte", até as palavras certeiras de Oscar Wilde cantadas pela personagem interpretada po Jeanne Moreau em "Querelle" ("Todo homem mata aquilo que ama"), o diretor nunca deixou de explorar os efeitos dessa lei do desejo.
Desse modo, tornou indistintas as instâncias do pessoal e do social, projetando desde as relações íntimas a essência de sua interpretação pessimista da sociedade no capitalismo do pós-guerra. O afeto, para ele, é a máscara por onde outras forças, como a mercantilização e o sucesso profissional, estabelecem seu domínio, anunciando toda a vigência do nosso cinismo contemporâneo.
Além dos filmes, o ciclo no CCBB se completa com palestras, que ocorrem nas manhãs dos sábados, a cargo dos críticos Sérgio Alpendre, Ruy Gardnier e Cleber Eduardo, que examinarão a trajetória do diretor, seu estilo e as questões políticas e sociais embutidas na obra.


FASSBINDER, UM ANARQUISTA ROMÂNTICO
Onde:
Centro Cultural Banco do Brasil -SP (r. Álvares Penteado, 112, tel. 3113-3651); veja a programação do dia no roteiro de cinema
Quando: de hoje a 18/3
Quanto: R$ 4


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