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Mostra no CCBB-SP reafirma intenção política de Fassbinder
Ciclo traz 15 filmes do alemão e inclui "Lola" e "Lili Marlene", entre outros
CÁSSIO STARLING CARLOS
CRÍTICO DA FOLHA
Para um romântico, viver
coincide com a idéia de cumprir um destino. Como romântico, o diretor alemão Rainer
Werner Fassbinder realizou
esse ideal, permitindo a um
destino cinematográfico fazer
coincidir vida e obra.
Nascido durante os bombardeios que levaram à derrocada
final do nazismo na Alemanha,
o prolífico cineasta e também
homem de teatro consumiu sua
curta existência na construção
de um espelho que reflete sua
experiência de vida numa sociedade reconstruída com base
na amnésia.
Os 15 filmes que compõem a
mostra "Fassbinder, um Anarquista Romântico", em exibição de hoje até 18 de março no
CCBB-SP, reafirmam a evidente intenção política do diretor.
E isso se constata nos títulos
de matiz explícita (como "A
Terceira Geração", sobre terrorismo, "Lili Marlene", sobre
uma cantora durante o nazismo, e "Lola", sobre corrupção
durante o governo de Konrad
Adenauer, piloto da reconstrução no pós-guerra).
Mas mais ainda nos melodramas, gênero que Fassbinder foi
buscar inspiração num mestre,
Douglas Sirk, para interpretar
as relações amorosas como
protótipo de disputas de poder
e submissão, núcleo íntimo de
sua interpretação política.
Desde seu longa de estréia,
"O Amor É Mais Frio que a
Morte", até as palavras certeiras de Oscar Wilde cantadas
pela personagem interpretada
po Jeanne Moreau em "Querelle" ("Todo homem mata aquilo
que ama"), o diretor nunca deixou de explorar os efeitos dessa
lei do desejo.
Desse modo, tornou indistintas as instâncias do pessoal e do
social, projetando desde as relações íntimas a essência de sua
interpretação pessimista da sociedade no capitalismo do pós-guerra. O afeto, para ele, é a
máscara por onde outras forças, como a mercantilização e o
sucesso profissional, estabelecem seu domínio, anunciando
toda a vigência do nosso cinismo contemporâneo.
Além dos filmes, o ciclo no
CCBB se completa com palestras, que ocorrem nas manhãs
dos sábados, a cargo dos críticos Sérgio Alpendre, Ruy Gardnier e Cleber Eduardo, que examinarão a trajetória do diretor,
seu estilo e as questões políticas e sociais embutidas na obra.
FASSBINDER, UM ANARQUISTA ROMÂNTICO
Onde: Centro Cultural Banco do Brasil
-SP (r. Álvares Penteado, 112, tel.
3113-3651); veja a programação do dia
no roteiro de cinema
Quando: de hoje a 18/3
Quanto: R$ 4
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