São Paulo, sexta-feira, 28 de março de 2008

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Crítica/"A Família Savage"

Atuações precisas valorizam trama sobre velhice na família

Com humor, drama aborda irmãos que se reencontram para cuidar do pai idoso

SÉRGIO RIZZO
CRÍTICO DA FOLHA

A té mesmo o leitor não familiarizado com o inglês pode discernir o trocadilho no sobrenome dos personagens de "A Família Savage". No original, o efeito é mais destacado: "The Savages" significa também "os selvagens", ou ainda "os primitivos".
De início, a idéia se aplica com fins humorísticos aos pacatos irmãos Wendy (Laura Linney, indicada ao Oscar de melhor atriz pelo papel) e Jon (Philip Seymour Hoffman, em composição mais discreta do que o personagem de "Jogos do Poder", que lhe valeu indicação ao Oscar de coadjuvante).
Pode ser que algum dia eles tenham sido próximos, mas os indícios dizem o contrário e a vida adulta afastou um do outro. Ela vive em Nova York e recorre a trabalhos temporários enquanto alimenta o sonho de se estabelecer como dramaturga. Ele trabalha como professor universitário em Buffalo, que fica ali perto, mas parece longe.
Os dois são obrigados a se reaproximar quando o pai (Philip Bosco), com quem tiveram relação conturbada na juventude, perde a companheira. Vítima de demência, ele precisa de cuidados. Cabe aos filhos assumir a responsabilidade e, em seguida, pensar no que fazer.
A velhice passa então a ser tratada pela diretora Tamara Jenkins (indicada ao Oscar pelo roteiro) como um transtorno não só para quem a vive, mas também, e talvez principalmente, para os que precisam administrá-la em seus pais. "Precisar" é o verbo correto, ao menos em relação aos Savages.
Seja lá o que tenha acontecido décadas antes entre eles, ainda sobrevive o civilizado senso de dever em relação aos mais velhos. É o que permitirá, também, que a trama vá expondo aos poucos a natureza dos irmãos, sem esconder seus problemas de caráter ou exagerar em sua afeição pelos outros.
Como roteirista, o trunfo de Jenkins é permitir que o espectador descortine, com humor, a fragilidade de Wendy e Jon. A dificuldade de ambos em lidar com trabalho, relacionamentos e aspirações os torna objeto de fácil identificação, sobretudo para quem tem por volta de 40.
Na direção, Jenkins trabalha para que esse trio de atores notáveis -Bosco tem menos oportunidades em cena, mas as aproveita bem- se encarregue de dar consistência aos personagens com base em recursos discretos de atuação que tendem a passar despercebidos pois parecem naturais. No fundo, eles têm a ver com o que valoriza a arte do ator no cinema.


A FAMÍLIA SAVAGE
Produção: EUA, 2007
Direção: Tamara Jenkins
Com: Laura Linney, Philip Seymour Hoffman, Philip Bosco
Onde: estréia hoje no Espaço Unibanco 1 e iG Cine
Avaliação: bom



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