São Paulo, domingo, 28 de março de 1999

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CRÍTICA
Duas atrizes encantam em "As Três Irmãs'

NELSON DE SÁ
da Reportagem Local

Em cartaz no Sesc Vila Mariana, a nova encenação de "As Três Irmãs" é inesperadamente conservadora -com figurino de época e tudo mais- em se tratando de Enrique Diaz, diretor de "A Bao A Qu", entre outros espetáculos de grande invenção formal.
Desta vez ele, que é também ator na peça, parece ter se concentrado nas atuações, em especial nas irmãs do título, com alguns resultados surpreendentes.
A bela Cláudia Abreu tem os seus altos e baixos com o drama de Anton Tchecov, mas o bom é que tem, afinal, os seus altos no palco. Bem conduzida, a angústia de sua jovem Irina, a caçula das três irmãs, com a perda de suas ilusões, não poderia ser mais verdadeira e emocionante.
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Brilho interior Já a vivacidade de Irina aos 20 anos não está tão presente; é antes um esforço, uma vontade. O fato é que Cláudia Abreu amadurece como atriz, para o bem.
Julia Lemmertz dá um brilho interior à irmã mais velha, Olga, que Amy Irving, por exemplo, na versão de dois anos atrás na Broadway, não alcançava. Embora frágil fisicamente, "magra", como diz, ela é firme, estável, a coluna mestra das três irmãs russas, quase como uma mãe das outras.
Seu personagem é plenamente desenvolvido, com uma singeleza tocante, uma nobreza quebradiça, esguia e sensual -apesar do figurino cinza, pálido.
Maria Padilha, como Macha, é o maior desacerto da montagem. Talvez instigada por uma flagrante opção da encenação pela farsa aberta em suas primeiras cenas, a atriz se prende ao escracho e, daí até o final, jamais alcança a volúpia exigida pelo personagem, que é central na trama.
Macha não chega a seduzir, como se espera, nem o coronel seu amante, nem o professor seu marido. Em particular, o primeiro: a paixão de ambos não decola, o que prejudica a apresentação, pois muito depende dela.
Luciano Chirolli e Celso Frateschi dão sequência às interpretações eficientes de ambos nas montagens tchecovianas recentes de que participaram em São Paulo -"Tio Vânia" e "Da Gaivota", respectivamente.
Apoiado num personagem já mais histriônico e farsesco, o professor Kuliguin, casado com Macha, Chirolli aprofunda o humor de Tchecov com o talento conhecido desde os tempos de Ornitorrinco. Frateschi não chega a compor um campo de sensualidade com a amante Macha, como se disse, mas dá conta do papel de Verchinin com a habilidade, a segurança costumeira.
Débora Duboc mais parece uma megera, uma malvada de folhetim, como Natália, cunhada e algoz das três irmãs. Não deixa de ter a sua graça, ecoando os primeiros trabalhos de Tchecov (1860-1904), sempre farsescos ou melodramáticos, antes com tipos, caricaturas, do que com personagens definidos.
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Peça: As Três Irmãs Autor: Anton Tchecov Direção: Enrique Diaz Com: Maria Padilha, Julia Lemmertz, Cláudia Abreu, Celso Frateschi e outros Onde: teatro Sesc Vila Mariana (r. Pelotas, 141, Vila Mariana, tel. 5080-3000) Quando: de quinta a sábado, às 21h; domingo, às 18h. Até 11/4
Quanto: R$ 20 e R$ 25 Patrocinador: Embratel



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