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CRÍTICA
Duas atrizes encantam em "As Três Irmãs'
NELSON DE SÁ
da Reportagem Local
Em cartaz no Sesc Vila Mariana,
a nova encenação de "As Três Irmãs" é inesperadamente conservadora -com figurino de época e
tudo mais- em se tratando de
Enrique Diaz, diretor de "A Bao A
Qu", entre outros espetáculos de
grande invenção formal.
Desta vez ele, que é também ator
na peça, parece ter se concentrado
nas atuações, em especial nas irmãs do título, com alguns resultados surpreendentes.
A bela Cláudia Abreu tem os seus
altos e baixos com o drama de Anton Tchecov, mas o bom é que tem,
afinal, os seus altos no palco. Bem
conduzida, a angústia de sua jovem Irina, a caçula das três irmãs,
com a perda de suas ilusões, não
poderia ser mais verdadeira e emocionante.
²
Brilho interior
Já a vivacidade de Irina aos 20
anos não está tão presente; é antes
um esforço, uma vontade. O fato é
que Cláudia Abreu amadurece como atriz, para o bem.
Julia Lemmertz dá um brilho interior à irmã mais velha, Olga, que
Amy Irving, por exemplo, na versão de dois anos atrás na Broadway, não alcançava. Embora frágil
fisicamente, "magra", como diz,
ela é firme, estável, a coluna mestra
das três irmãs russas, quase como
uma mãe das outras.
Seu personagem é plenamente
desenvolvido, com uma singeleza
tocante, uma nobreza quebradiça,
esguia e sensual -apesar do figurino cinza, pálido.
Maria Padilha, como Macha, é o
maior desacerto da montagem.
Talvez instigada por uma flagrante
opção da encenação pela farsa
aberta em suas primeiras cenas, a
atriz se prende ao escracho e, daí
até o final, jamais alcança a volúpia
exigida pelo personagem, que é
central na trama.
Macha não chega a seduzir, como se espera, nem o coronel seu
amante, nem o professor seu marido. Em particular, o primeiro: a
paixão de ambos não decola, o que
prejudica a apresentação, pois
muito depende dela.
Luciano Chirolli e Celso Frateschi dão sequência às interpretações eficientes de ambos nas montagens tchecovianas recentes de
que participaram em São Paulo
-"Tio Vânia" e "Da Gaivota", respectivamente.
Apoiado num personagem já
mais histriônico e farsesco, o professor Kuliguin, casado com Macha, Chirolli aprofunda o humor
de Tchecov com o talento conhecido desde os tempos de Ornitorrinco. Frateschi não chega a compor
um campo de sensualidade com a
amante Macha, como se disse, mas
dá conta do papel de Verchinin
com a habilidade, a segurança costumeira.
Débora Duboc mais parece uma
megera, uma malvada de folhetim,
como Natália, cunhada e algoz das
três irmãs. Não deixa de ter a sua
graça, ecoando os primeiros trabalhos de Tchecov (1860-1904), sempre farsescos ou melodramáticos,
antes com tipos, caricaturas, do
que com personagens definidos.
²
Peça: As Três Irmãs
Autor: Anton Tchecov
Direção: Enrique Diaz
Com: Maria Padilha, Julia Lemmertz,
Cláudia Abreu, Celso Frateschi e outros
Onde: teatro Sesc Vila Mariana (r. Pelotas,
141, Vila Mariana, tel. 5080-3000)
Quando: de quinta a sábado, às 21h;
domingo, às 18h. Até 11/4
Quanto: R$ 20 e R$ 25
Patrocinador: Embratel
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