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VISUAIS
Exposições individuais de Laerte Ramos e Rogério Degaki pontuam diferenças de atitude em relação à história da arte
Elegância e kitsch convivem em galeria
JULIANA MONACHESI
FREE-LANCE PARA A FOLHA
Na produção artística contemporânea, retratar a paisagem urbana é mania em que ninguém se
aventura impunemente. Fotografias de ruínas (arquitetônicas ou
humanas) são o recurso mais comum para abordar o caos nas metrópoles.
Os trabalhos de Laerte Ramos,
que realiza sua primeira exposição individual a partir de hoje na
galeria Casa Triângulo, vão na
contramão da obviedade. As xilogravuras do artista possuem concisão digna dos fotógrafos Bernd
e Hilla Becher.
O paralelo com o casal alemão
-que documenta com frieza edificações industriais, como caixas
d'água e moradias pré-fabricadas- não é superficial: as séries
de gravuras de Ramos podem ser
vistas como inventários de contêineres, armazéns, veículos de roda,
poços, bate-estacas.
Filho de engenheiro, o artista
conta que foi sempre fascinado
por essa visualidade. Mas ele não
a reproduz nas obras e opta por
simplificar as formas ao máximo,
inclusive no uso das cores. As gravuras são todas pretas e protagonizam um jogo de peso e leveza
em que é o branco do papel que
comprime a cor, e não o inverso.
Diante das formas sérias e esquemáticas, sem redundância de
traços, é possível divisar um universo lúdico. No grupo de gravuras intitulado "Sobre-Rodas", por
exemplo, há um subgrupo de carrinhos de bebê.
Na série de 20 pequenos trabalhos feitos a partir de um jogo de
montar (tijolinhos de madeira),
Ramos retrata o zoneamento da
cidade de São Paulo: são 19 zonas
(residencial, comercial, industrial
etc.) mais uma, a "Zona 0", único
lugar próprio para os sonhos.
Dividida entre os quatro espaços principais da galeria, a exposição de Laerte Ramos surpreende
quando se chega à sala do terraço,
com pequenas pinturas coloridas.
Apesar de o imaginário da mineração e dos veículos persistir, as
obras somam à gramática visual
do artista bombas e forcas (em
traços igualmente esquemáticos)
sobre um fundo vermelho.
Se o tema da guerra sobrevém,
refere-se a conflitos urbanos travados aqui mesmo, em São Paulo.
É o tema do "soterramento" das
casas em bairros tradicionais para
que se construam prédios, como
em Moema, onde o artista mora.
É o tema, abordado por ele em
intervenção urbana (abril de
2002) na saída do túnel que liga a
avenida Rebouças ao Pacaembu,
do uso do espaço público: desenhando com a fuligem da poluição, Ramos levou a prefeitura a
interditar o túnel para limpeza.
Na última sala da Triângulo,
uma mudança de paradigma artístico: a exposição individual de
Rogério Degaki acena com uma
crítica à tradição da escultura que
beira o deboche. Dono de uma
trajetória consistente de releitura
dos clássicos, o artista aborda nesses bibelôs agigantados referências escultóricas filtradas por artistas como Jeff Koons e Takashi
Murakami. São monumentos aos
heróis contemporâneos.
LAERTE RAMOS E ROGÉRIO DEGAKI.
Onde: galeria Casa Triângulo (r. Bento
Freitas, 33, região central, tel. 3331-5910). Quando: abertura hoje, das 12h às
18h; de ter. a sáb., das 11h às 19h; até
24/7. Quanto: entrada franca. Valor das
obras: de R$ 600 a R$ 6.000.
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