São Paulo, quinta-feira, 28 de agosto de 2008

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Sesc recebe mitos femininos de Jocy

Paranaense leva à unidade Vila Mariana sua ópera "Solo", em que revê Ofélia e Desdêmona, com a soprano Gabriela Geluda

Apresentações, hoje e amanhã, marcam lançamento de caixa com DVDs, abarcando a produção da compositora em 20 anos


IRINEU FRANCO PERPETUO
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

A pocket ópera "Solo", de Jocy de Oliveira, marca, no Sesc Vila Mariana, o lançamento de caixa com quatro DVDs, abarcando a produção da compositora paranaense nos últimos 20 anos. A Coleção Jocy de Oliveira (independente; R$ 100) traz seis óperas, gravadas entre 1987 e 2007, no Rio e em São Paulo, Buenos Aires, Berlim e Darmstadt (Alemanha). São elas: "Fata Morgana", "Liturgia do Espaço", "Inori à Prostituta Sagrada", "Illud Tempus", "As Malibrans" e "Kseni - A Estrangeira". Contando com a soprano Gabriela Geluda, para a qual Jocy, 72, vem criando os papéis femininos de suas óperas nos últimos 12 anos, "Solo" esteve no ano passado no Festival de Inverno de Campos do Jordão, que teve Jocy como compositora-residente. O espetáculo trabalha mitos femininos como Ofélia e Desdêmona e traz a participação, em vídeo, de Fernanda Montenegro. A junção de diversas mídias vem sendo uma característica nas criações da compositora para o palco. "Meu método de trabalho me leva a agrupar músicos, atores, bailarinos, tentando construir uma linguagem coerente em que processos aleatórios sejam combinados a outros estritamente determinados", explica. "Procuro um equilíbrio entre a tecnologia e os elementos naturais inerentes à pesquisa tímbrica instrumental e vocal na justa medida entre composição, interpretação e execução."

Vanguardas
A trajetória da compositora sempre esteve ligada às vanguardas do século 20. Jocy foi exímia pianista: tocou o "Capriccio", do russo Igor Stravinski, sob a batuta do compositor, e, tendo permanecido sete anos sob orientação do francês Olivier Messiaen, realizou gravações de seus principais ciclos para piano solo, como "Vingt Regards sur l'Enfant Jesus" e "Catalogue d'Oiseaux". Na década de 60, nos EUA, conheceu nomes proeminentes da vanguarda daquele período, como o americano John Cage, o alemão Karlheinz Stockhausen e o italiano Luciano Berio. Em colaboração com Berio, em 1961, no Estúdio de Fonologia de Milão, fez sua primeira obra a unir música e teatro: "Apague Meu Spot Light". "Esta pesquisa continuou em diversos campos, usando música, teatro, vídeo, texto, instalações, numa convicção de que a expressão sonora é inerente a todas as formas de vida e tentando atingir um desenvolvimento orgânico da composição e execução sem fronteiras entre vida e arte", afirma ela. A busca de interação com os meios de linguagens visuais não enfraquece, contudo, o aspecto musical nas obras de Jocy, que defende que suas criações podem e devem ser ouvidas, essencialmente, como "música pura". "Vivemos numa sociedade visual, e a percepção auditiva diminui. Desenvolver a percepção é um dos desafios num trabalho multidisciplinar. O ator, o bailarino não ouvem, só vêem. O músico não vê, e sua audição é limitada."

SOLO
Quando: hoje e amanhã, às 21h
Onde: Sesc Vila Mariana (r. Pelotas, 141, tel. 5080-3000)
Classificação indicativa: não recomendado para menores de 12 anos
Quanto: R$ 16



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