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TEATRO - CRÍTICA
"Da Boca pra Fora" é uma irresponsabilidade
da Reportagem Local
"Da Boca pra Fora", novo título
de "E Aí, Comeu?", uma peça de
Marcelo Rubens Paiva, lembra
aqueles primeiros filmes de
Woody Allen.
Um deles em especial, "Sonhos
de um Sedutor" ("Play It Again,
Sam"), que aliás foi uma peça
-em pleno 68- antes de chegar
ao cinema. O tema é próximo, as
agruras do homem num mundo
sob domínio cada vez maior da
mulher, homem cujo único pensamento é a mulher: como seduzi-la, amá-la, preservá-la.
Paiva cria cenas cômicas como
um humorista, como autor de
quadros de humor mais do que
dramaturgo, propriamente. E o
faz tão bem que não permite à
platéia cinco minutos sem uma risada larga; muitas das cenas não
ficam a dever a Allen ou qualquer
outro dos pequenos gênios do humor judaico-americano.
Mas fala-se aqui do Woody
Allen antes de cair sob a influência de Ingmar Bergman. "Da Boca
pra Fora" é igualmente irresponsável, uma brincadeira perfeita,
escrita por um artista que domina
a carpintaria.
Uma sinopse: um homem passa
a maior parte do tempo a conversar com dois amigos, em tom de
besteirol, sobre mulheres em geral. Mas ele se separa da mulher, e
a peça ganha ares de comédia romântica. Assim vai até o final,
quando um desabafo da agora ex-mulher, em tom de besteirol também, torna a peça uma guerra de
sexos, ou algo assim, com intervenções da platéia -em sua
maioria, aliás, casais.
Não se deve esperar maior desenvolvimento dos personagens,
homens ou mulheres, antes caricaturas sempre a falar das mesquinharias cotidianas dos casais e
a amontoar preconceitos e obscenidades contra homens ou mulheres. Mas o entretenimento é
aberto, neste que é um texto de
desabafo -ainda que menos politicamente incorreto do que promete.
Paiva mostra
em "Da Boca
pra Fora" que
sabe desenhar
como poucos
um tipo, o que
é uma exigência na crítica de
costumes. Mas
não se pode dizer que tira tudo o que oferecem, potencialmente, as situações da peça -quanto à
amizade masculina, por
exemplo.
Quem se dá
melhor com
seus tipos é a
atriz Bianca
Byington, que
faz todas as
mulheres de
"Da Boca pra Fora", em cenas
curtas, quadros. Como a adolescente desconcertante ou a homossexual sedutora, ela sabe tratar-se de brincadeira e assim tira e
põe com facilidade as máscaras.
Nenhum dos três atores está
comprometedor. Felipe Camargo
é o protagonista Fernando, o
"straight man", o galã da comédia, o que faz com contenção, sem
desprendimento, mas também
sem erros.
Tato Gabus Mendes consegue
dar nuances inesperadas -alguma perversidade, decadência- a
Honório, o que o torna, em momentos, o mais interessante dos
três amigos.
Marcos Winter mantém a qualidade geral da montagem, mas seu
personagem, um amante profissional de mulheres casadas, é o
mais absurdo deles: o ator poderia aproveitar muito mais o ridículo do papel.
A encenação de Rafael Ponzi e
Cristina Pereira não arrisca nas
marcações e na cenografia -de
idéia gasta, aliás: quadros que
lembram Carlos Zéfiro. A sua
qualidade está no ritmo cômico
das interpretações e em não tentar levar a peça a sério.
(NELSON DE SÁ)
Avaliação:
Peça: Da Boca pra Fora
Quando: sex., às 21h30; sáb., às 20h e
22h30; dom., às 19h
Onde: Teatro Augusta (r. Augusta, 943,
tel. 3151-2464 e 3151-4141)
Quanto: R$ 20 a R$ 30
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