São Paulo, quinta-feira, 28 de outubro de 2010

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CRÍTICA COMÉDIA

"Corra Como um Coelho" faz paródia inteligente de clichês

Peça da Cia. dos Outros apresenta série de esquetes surreais que mostram o inusitado do teatro clássico

Lenise Pinheiro/Folhapress
Os atores Pedro Cameron (à esq.), Tomás Decine e Carolina Bianchi em cena do espetáculo

CHRISTIANE RIERA
CRÍTICA DA FOLHA

Acentuada por iluminação quente de abajures, a cor ocre domina o palco, sugerindo aconchego doméstico. No cenário, todos os objetos apontam para um familiar drama de gabinete. O vestido vermelho de uma mulher imóvel no chão, porém, instaura estranheza.
A bizarria apresentada por este quadro inicial se oficializa com a chegada de dois bêbados, em explosão inesperada e cômica. A partir daqui, uma série de esquetes flerta com um mundo clássico, obsoleto, que rapidamente será desmontado em algo inusitado.
Com direção de Fernanda Camargo, "Corra Como um Coelho" é uma reestreia e o segundo espetáculo pela Cia.
dos Outros, um grupo de pesquisa teatral cuja proposta é a experimentação artística.
Muito além disso, esta montagem consegue, com encenações rápidas, concretizar uma paródia inteligente e divertida de inúmeros clichês teatrais.
O trio de atores é primoroso no jogo frenético entre estilos dramáticos neste universo onde não há abertura para justificativas ou desenhos claros de personagens.
Trata-se apenas de figuras que circulam pelo palco ao som recorrente de palmas, frisando a manobra engenhosa da trupe entre referências distintas que vão de Dorothy Parker (1893-1967) a Lewis Carroll (1832-1898). A atriz Carolina Bianchi tem pleno domínio de seu carisma ao interpretar uma dondoca com tendências suicidas que se move como uma boneca em desalinho. É especialmente graciosa quando canta ou irrompe em monólogos que narram trivialidades, suas idas ao teatro e eventuais encontros.
Suas tentativas à criação de uma narrativa são sempre desbaratadas pelas invasões de Pedro Cameron, um ingênuo apaixonado, e Tomás Decina, um rapaz ferido por razões desconhecidas.
Seja ao despejar leveza em musical animado ou exalar testosterona em show de luta livre, os atores estão encantadores. Caberá ao espectador optar entre cavar buracos no esforço em extrair algum juízo dessas situações surreais ou então entregar-se para o prazer da caça por um teatro que corre como um coelho. Esperto e ligeiro.

CORRA COMO UM COELHO

QUANDO sex. e sáb, às 21h; dom., às 20; até 14/11
ONDE teatro Tusp (r. Maria Antônia, 294; tel. 3255-7182)
QUANTO R$ 20
CLASSIFICAÇÃO 12 anos
AVALIAÇÃO bom


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