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VISUAIS
Exposição de fotos de Raoul Hausmann e mostra da vanguarda alemã dos anos 20 e 30 começam hoje
Paço focaliza o dadaísmo alemão
Reprodução
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"Rêve de la Plague" (47), de Hausmann, que está no Paço |
free-lance para a Folha
"Eu lhe escrevi uma carta dizendo que ele era o herói da minha vida." Assim começou a amizade
entre Timm Ulrichs e Raoul
Hausmann. Este, um importante
dadaísta alemão; Ulrichs, talvez o
maior expoente da arte conceitual
alemã da atualidade.
A exposição que é inaugurada
hoje no Paço das Artes, em parceria com o Instituto Goethe, focaliza a produção fotográfica da vanguarda alemã nos anos 20 e 30,
com especial destaque à obra de
Hausmann (1886-1971).
Ulrichs está no Brasil para a realização de alguns eventos em torno de seu herói: um "dada-workshop" e uma palestra sobre Hausmann. No ano passado, no mesmo Paço das Artes, um trabalho
seu integrou a exposição "Acima
do Bem e do Mal".
Segundo ele, a resposta de
Hausmann à sua carta veio rápido
e em um tom de "seja bem-vindo,
meu jovem". "Passamos a nos
corresponder bastante e, quando
eu eventualmente demorava para
escrever, ele me enviava outra
carta, cobrando uma resposta",
conta Ulrichs.
Essa atitude não era fruto de excentricidade, mas reflexo de uma
vida muito solitária. "Hausmann
morreu negligenciado pelo mundo da arte. Ele costumava me
mandar manuscritos para que eu
tentasse publicá-los e, agora, há
tantos livros sobre ele."
Pode-se dizer que, no Brasil, o
próprio dadaísmo alemão é um
tanto negligenciado. Enquanto o
legado de Marcel Duchamp, criador do dadá e do surrealismo na
França, é fartamente discutido,
Hausmann, Kurt Schwitters, Hugo Ball, Hans Richter e Richard
Huelsenbeck são quase desconhecidos por aqui.
O movimento dadá, que foi fundado em Zurique em 1915 por
Tristan Tzara e Jean Arp, tinha
como objetivo insurgir-se contra
o irracionalismo da guerra. Os artistas propunham uma antiarte,
que consistia em obras feitas com
material encontrado ao acaso,
poemas nonsense e muita ironia.
O movimento não envolvia tanto uma estética, era mais um estado de espírito -e foi isso que cativou Ulrichs. "Queria ser como
ele, ter uma vida fascinante, combinando vida e arte", conta.
Hausmann foi um dos precursores da fotomontagem e da fotocolagem. As fotos em exposição
no Paço das Artes atestam sua
contemporaneidade. Além disso,
ele inventou os poemas fonéticos,
em que não se identificavam palavras. "Os dadaístas queriam criar
uma nova maneira de expressão,
por isso não usavam linguagens
conhecidas", explica Ulrichs.
Timm Ulrichs, além de artista, é
professor de artes na Alemanha e
fará uma palestra sobre Hausmann amanhã, às 20h, no Paço.
(JULIANA MONACHESI)
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Exposição: Raoul Hausmann e A
Fotografia na República de Weimar
Quando: hoje, às 20h; seg. a sex, das 13h
às 20h; sáb. e dom., das 14h às 19h
Onde: Paço das Artes (av. da Cidade
Universitária, 1, Cidade Universitária, tel.
211-0682)
Quanto: grátis
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