São Paulo, terça-feira, 29 de fevereiro de 2000


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VISUAIS
Exposição de fotos de Raoul Hausmann e mostra da vanguarda alemã dos anos 20 e 30 começam hoje
Paço focaliza o dadaísmo alemão

Reprodução
"Rêve de la Plague" (47), de Hausmann, que está no Paço


free-lance para a Folha


"Eu lhe escrevi uma carta dizendo que ele era o herói da minha vida." Assim começou a amizade entre Timm Ulrichs e Raoul Hausmann. Este, um importante dadaísta alemão; Ulrichs, talvez o maior expoente da arte conceitual alemã da atualidade.
A exposição que é inaugurada hoje no Paço das Artes, em parceria com o Instituto Goethe, focaliza a produção fotográfica da vanguarda alemã nos anos 20 e 30, com especial destaque à obra de Hausmann (1886-1971).
Ulrichs está no Brasil para a realização de alguns eventos em torno de seu herói: um "dada-workshop" e uma palestra sobre Hausmann. No ano passado, no mesmo Paço das Artes, um trabalho seu integrou a exposição "Acima do Bem e do Mal".
Segundo ele, a resposta de Hausmann à sua carta veio rápido e em um tom de "seja bem-vindo, meu jovem". "Passamos a nos corresponder bastante e, quando eu eventualmente demorava para escrever, ele me enviava outra carta, cobrando uma resposta", conta Ulrichs.
Essa atitude não era fruto de excentricidade, mas reflexo de uma vida muito solitária. "Hausmann morreu negligenciado pelo mundo da arte. Ele costumava me mandar manuscritos para que eu tentasse publicá-los e, agora, há tantos livros sobre ele."
Pode-se dizer que, no Brasil, o próprio dadaísmo alemão é um tanto negligenciado. Enquanto o legado de Marcel Duchamp, criador do dadá e do surrealismo na França, é fartamente discutido, Hausmann, Kurt Schwitters, Hugo Ball, Hans Richter e Richard Huelsenbeck são quase desconhecidos por aqui.
O movimento dadá, que foi fundado em Zurique em 1915 por Tristan Tzara e Jean Arp, tinha como objetivo insurgir-se contra o irracionalismo da guerra. Os artistas propunham uma antiarte, que consistia em obras feitas com material encontrado ao acaso, poemas nonsense e muita ironia.
O movimento não envolvia tanto uma estética, era mais um estado de espírito -e foi isso que cativou Ulrichs. "Queria ser como ele, ter uma vida fascinante, combinando vida e arte", conta.
Hausmann foi um dos precursores da fotomontagem e da fotocolagem. As fotos em exposição no Paço das Artes atestam sua contemporaneidade. Além disso, ele inventou os poemas fonéticos, em que não se identificavam palavras. "Os dadaístas queriam criar uma nova maneira de expressão, por isso não usavam linguagens conhecidas", explica Ulrichs.
Timm Ulrichs, além de artista, é professor de artes na Alemanha e fará uma palestra sobre Hausmann amanhã, às 20h, no Paço. (JULIANA MONACHESI)
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Exposição: Raoul Hausmann e A Fotografia na República de Weimar Quando: hoje, às 20h; seg. a sex, das 13h às 20h; sáb. e dom., das 14h às 19h
Onde: Paço das Artes (av. da Cidade Universitária, 1, Cidade Universitária, tel. 211-0682) Quanto: grátis


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