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São Paulo, sábado, 29 de março de 2003

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ARTES PlÁSTICAS




Regina Silveira utiliza luz e sombras para debater estado de esfacelamento da arte em nova exposição


Iluminismo tropical

Tuca Vieira/Folha Imagem
Acima, "Lumem', que está na exposição "Claraluz', de Regina Silveira


FABIO CYPRIANO
DA REPORTAGEM LOCAL

A arte encontra-se esfacelada pelas instituições que deveriam tratá-las dignamente. Essa é uma das mensagens que a artista plástica Regina Silveira, 62, prega, a partir de hoje, no Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB), com a exposição "Claraluz", que celebra os dois anos de funcionamento do local. "Lumem", de luz, é o nome da instalação que Silveira projeta no monumental saguão de entrada do CCBB. A artista utiliza imagens fragmentadas de fotografias da clarabóia da instituição e as envolve pelos quatro andares do espaço. Com os estilhaços espalhados no ambiente escurecido, é como se o prédio viesse abaixo. Com tal colapso, cria-se um efeito vertiginoso impressionante.
"A luz é, para mim, a metáfora da arte, que anda tão mal tratada pelas instituições da cidade. Chega a ser lamentável a situação de certos museus", diz Silveira.

Lugar da arte
As mesmas imagens fragmentadas estão plotadas à volta do cofre do CCBB, em seu subsolo. "O cofre é o lugar onde se guardam as riquezas, esse é o lugar da arte", afirma a artista.
De dentro do cofre, a reprodução da imagem da luz da clarabóia, ou da arte, como quer Silveira, resplandece como deveria sempre ser.
"Luminância" é o nome desse conjunto. Andar sobre ele torna-se uma experiência de perceber que o edifício foi colocado de ponta-cabeça. Sinalização de que também é preciso movimentar as instituições.

Iluminismo tropical
Luz e sombras são instrumentos recorrentes na obra crítica de Silveira. Por isso, Martin Grossmann, curador da mostra, denomina o trabalho da artista de "iluminismo tropical". "Regina Silveira instaura um iluminismo às avessas, um iluminismo nas bordas da cultura eurocêntrica e no centro de uma cultura relativizada, híbrida e precária: a brasileira", afirma o curador no catálogo da mostra.
As oito instalações apresentadas em "Claraluz" foram criadas para o espaço expositivo do CCBB, a maioria reflexo de outros trabalhos. Há mais de um ano, Silveira foi convidada para ocupar o local, mas mostrou-se resistente.
"Só aceito organizar uma exposição quando já tenho uma invenção. Vim aqui quase diariamente, por um mês, é só então aceitei. Percebi que era importante respeitar a arquitetura do prédio, muito marcante, e apresentar o mínimo possível de objetos", conta Silveira.
A artista foi longe em sua proposta minimalista. Nos três andares do CCBB, além de projetores, há apenas uma caixa de fósforos e um cubo branco de cerca de um metro de altura. "A exposição inteira cabe numa pequena caixa", brinca Silveira.
O segundo andar do CCBB recebe quatro instalações que reforçam os paradoxos no trabalho da artista plástica.
"Quimera", por exemplo, é feita com a projeção de uma lâmpada, já uma imagem de segunda geração, que, em vez de iluminar, está cercada de sombras. Novamente aqui, Regina Silveira sinaliza a dificuldade da arte em apresentar-se da maneira correta. Alguém discorda?

CLARALUZ. Mostra com oito obras da artista plástica Regina Silveira. Curadoria: Martin Grossmann. Onde: Centro Cultural Banco do Brasil (r. Álvares Penteado, 112, centro, tel. 3113-3651). Quando: abertura hoje, às 11h; de ter. a dom., das 12h às 20h. Até 18/5. Quanto: entrada franca.


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