São Paulo, terça-feira, 29 de março de 2011
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Alice Miceli explora natureza da imagem em mostra individual Revelação da Bienal de SP, artista expõe série sobre Tchernobil
SILAS MARTÍ DE SÃO PAULO Alice Miceli mostra o que não está lá. Suas imagens avançam e recuam sobre o próprio rastro, aniquilando os assuntos num fiapo de luz. Nas paredes de uma sala da galeria Nara Roesler, onde abre hoje uma individual, 30 monocromos cinzentos parecem apagar a memória traumática do acidente nuclear da usina de Tchernobil, pior desastre do tipo na história. Miceli expôs os negativos de suas imagens à radiação que ainda espreita a cidade fantasma no norte da Ucrânia. Revelou as fotografias não muito longe dali, no laboratório de radiografias de um hospital de câncer. Surgem então abstrações em preto e branco, resquícios do chão, do terreno e da usina esmaecidos pela ação radioativa, a mesma que condenou milhares de pessoas a morrer de doenças causadas pelo vazamento nuclear. Se existe certa dor intrínseca ao registro, Miceli também enxerga além da imagem. Tenta fixar um quadro sobre os alicerces difusos da memória, de uma dor latente, menos física e mais etérea. Num vídeo, ela retoma a última fotografia de Robert Capa, feita instantes antes de o fotógrafo pisar na mina que tirou sua vida. Faz reverberar, agressivo, um horizonte nunca cruzado pelo artista, homens num campo de batalha que talvez vivessem para além daquele momento. Outro trabalho reenquadra o rosto de atores de cinema em cenas de masturbação. Alterna caras de prazer e certa dor no limite entre o estímulo seco e o orgasmo que não chega na reencenação. É nesse ponto que a artista, um dos nomes mais fortes de sua geração, suspende a noção de imagem em equilíbrio radical e transformador. ALICE MICELI QUANDO abertura hoje, às 20h; de seg. a sex., das 14h às 19h; sáb., das 11h às 15h; até 30/4 ONDE Nara Roesler (av. Europa, 655, tel. 3063-2344) QUANTO grátis Índice | Comunicar Erros |
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