São Paulo, terça, 29 de abril de 1997.

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FOTOGRAFIA
``Paranapanema'', que abre hoje, reúne trabalhos de Paula Prandini, Maurizio Longobardi e Guto Arouca
Mostra traz novo olhar sobre sem-terra

free-lance para a Folha

A partir de hoje, os sem-terra do acampamento Itaquaruçu chegam a um bar na Vila Madalena, em São Paulo.
Em torno de uma lona preta, semelhante às utilizadas para montagem de barracos, estão presas 40 imagens, emolduradas por arame, que compõem a exposição ``Paranapanema'', no bar e danceteria Brancaleone.
Realizados por três fotógrafos, Maurizio Longobardi, Paula Prandini e Guto Arouca, os trabalhos retratam o cotidiano dos sem-terra do Pontal do Paranapanema, região no extremo oeste do Estado de São Paulo.
Entre as diversas visitas dos fotógrafos -Longobardi esteve em Paranapanema seis vezes, Prandini, duas, e Arouca uma vez-, ocorreram diversas alterações na comunidade.
Paula Prandini, que visitou o pontal em janeiro de 1996 e em março deste ano, conta que na segunda ``expedição'' constatou que o acampamento de Itaquaruçu -apadrinhado pelo líder do Movimento dos Trabalhadores Sem Terra, José Rainha Jr.- estava mais vazio. ``Várias personalidades do grupo, como a `Loca', sumiram'', disse Prandini.
A fotojornalista conta que esse fluxo migratório é o que mais lhe interessou no trabalho.
Centrada em uma preocupação mais antropológica do que artística, Paula Prandini registrou com duas câmeras Nikon a vida cotidiana dos sem-terra.
Sebastião Salgado
Seus trabalhos são os que mais se afastam de um registro à Sebastião Salgado, fotógrafo que tem retratos de trabalhadores sem-terra em exposição que acontece simultaneamente em diversos pontos da cidade.
As 15 imagens coloridas procuram transmitir, sem dramaticidade, o clima de aventura das crianças, ``muito vivas'', que mudam constantemente de acampamentos.
Em processo conhecido como C-41, que mistura a fotografia em cromo e a revelação utilizada para negativos, Paula mostrou com cores ``estouradas'' que o cotidiano dos sem-terra não é formado apenas por tiroteios, enterros e passeatas.
Cidade de Lona Preta
Assim como Paula, Maurizio Longobardi também encontrou frestas de alegria nos acampamentos de Paranapanema. Ele trabalhou com situações ``instantâneas'', registradas em câmera Polaroid, o que permitiu uma relação ``lúdica'' com os sem-terra.
Das cerca de 500 fotografias que ele tirou, 300 ficaram com os trabalhadores. Seu trabalho central, no entanto, não é com fotografias.
Longobardi realiza documentários para a TV italiana RAI. Hoje ele apresenta um deles, o vídeo de 11 minutos ``Cidade de Lona Preta''. O trabalho, que já foi exibido em 1996 no Fórum da Terra, reunião em Roma equivalente à RIO 92, mostra em imagens ``secas'' depoimentos de trabalhadores sem-terra.
Ele continua acompanhando, com a câmera Hi-8, oito desses personagens e a evolução de suas trajetórias.
Guto Arouca complementa a exposição com um olhar mais contundente sobre os sem-terra. O fotógrafo registrou o cotidiano dos trabalhadores em imagens em preto-e-branco. (CEM)
Exposição: Paranapanema Fotógrafos: Maurizio Longobardi, Paula Prandini e Guto Arouca Vernissage: hoje, a partir das 20h Quando: segunda a sábado, das 19h30 às 3h. Até 29 de maio Onde: Brancaleone (r. Luis Murat, 298, Vila Madalena, zona oeste, tel. 011/813-5118) Preços das obras: de R$ 50 a R$ 100


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