São Paulo, domingo, 29 de abril de 2007

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Para bandas de rock, o sonho nunca acaba

Veteranos, grupos britânicos Motörhead e Buzzcocks se apresentam hoje, em SP; New Model Army vem em agosto

Roqueiros "senior" dizem que bandas se reúnem por nostalgia; redescoberta por nova geração também é desculpa para sair do limbo

John D. McHugh/Associated Press
Lemmy (à dir.), com o Motörhead, que se apresenta hoje em SP


THIAGO NEY
DA REPORTAGEM LOCAL

Como anunciaram os cariocas Los Hermanos dias atrás, bandas de rock e pop não acabam, entram em "recesso por tempo indeterminado". Ou tornam-se entidades vitalícias.
Seja porque eles não têm outra coisa para fazer, porque precisam pagar a escola dos filhos ou porque foram redescobertos por adolescentes à caça de tesouros antigos, para grupos de rock não existe aposentadoria.
O exemplo mais cintilante são os Rolling Stones, que ainda hoje rebolam e provocam gritos com "Satisfaction". Do Brasil, não dá para esquecer dos Jordans, que lançaram o primeiro compacto em 1961, cresceram com a jovem guarda e até hoje fazem shows em bares de SP.
Nesse time de "masters roqueiros", joga também o Motörhead, banda formada pelo lendário baixista e vocalista Lemmy em 1975, na Inglaterra. Mais de 30 anos depois, o grupo retorna ao país -apresenta-se hoje à noite no Via Funchal.
Naquele mesmo 1975, o guitarrista e vocalista Pete Shelley criava, em Manchester, um ícone punk: os Buzzcocks. E, neste mesmo domingo, acontece o festival Ataque Frontal, no Espaço das Américas. E o Buzzcocks é a principal atração.
Todas as brigas e sopapos dentro e fora do palco foram colocados de lado pelos irmãos escoceses Jim e William Reid, que resolveram retomar o Jesus and Mary Chain. Eles e o também ressuscitado Rage Against the Machine estão entre os shows mais esperados do festival Coachella, que ocorre nos EUA neste final de semana.
Essas são reuniões aguardadas pelos fãs. Outras causam certos temores, como as excursões de Queen e Doors sem Freddie Mercury e Jim Morrison, respectivamente. E, quando chega a notícia de que o Jam, 25 anos depois, deve lançar disco -e sem Paul Weller-, começamos a nos preocupar até com um novo álbum do Nirvana (Courtney Love no vocal...).
"Algumas bandas voltam pela nostalgia; afinal, o público quer ouvir os grande hits", diz à Folha Justin Sullivan, vocalista do New Model Army (26 anos na estrada), que faz shows em São Paulo em agosto. "Nós tivemos certa sorte porque nunca tivemos um grande sucesso, não somos o tipo de banda presa a uma época."
Para Pete Shelley, 52, um fator determinante no retorno dos Buzzcocks em 2002 (havia "acabado" em 1981) foi uma redescoberta do grupo por fãs de bandas mais novas, como Offspring, Green Day e Libertines.
"Estão produzindo discos de rock há 50 anos, e esses discos são desenterrados por pessoas jovens, e cresce o interesse nas bandas que os produziram. Hoje, canções antigas que não eram tocadas há muito tempo tornaram-se frescas de novo."

Punks e professores
Tanto tempo excursionando e gravando discos (o New Model Army prepara para agosto o 12º) ajuda a amealhar fãs dos mais diversos. "O público em nossas apresentações é bem variado, até porque nós não nos fechamos em um único estilo. Nos chamam de punks, folk rock, hard rock... Nos shows, vejo desde punks a professores universitários. Cada um tem uma razão diferente para gostar da gente", diz Sullivan, 51.
"Em 1976, 1977, a música que fazíamos, o punk, não era uma muito popular. Mas isso mudou muito. Hoje é até comercial", pontua Shelley. "E muita gente nos copia. Eu não ligo."
Questionado pelo Folha sobre qual banda gostaria que voltasse, Shelley diz: "O Can [grupo alemão formado em 1968]. Encontrei com o baixista deles há algum tempo. Gostaria de vê-los em ação."


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