São Paulo, sábado, 29 de junho de 2002

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ARTES PLÁSTICAS

Artista expõe 27 livros que traçam percurso de sua carreira desde 1967; mostra segue depois para Suíça

Caldas monta biblioteca na Pinacoteca

DA REPORTAGEM LOCAL

Biblioteca não é, de fato, o termo adequado. Afinal, os 27 livros de arte expostos por Waltercio Caldas, a partir de hoje na Pinacoteca, não poderão ser manuseados pelo público. Eles estarão dispostos em vitrines, como obras de arte que não podem ser tocadas.
Mas é essa mesma a intenção ao apresentar a coleção. Ela reúne desde um dos primeiros livros de arte feitos por Caldas, "Vôo Noturno" (1967), até sua mais recente produção. "Apesar de minha obra ter várias facetas, de esculturas a objetos e desenhos, os livros assumem as características de meus trabalhos em cada época; por isso, considero essa mostra como uma retrospectiva", diz o artista, durante a montagem da exposição, anteontem.
"Livros são fundamentais para o modernismo. No meu caso em particular, que cresci em meio a um ambiente com poucas galerias e exposições, foi por meio deles que tomei conhecimento com o que se passava no circuito da arte", conta Caldas. A feitura de livros de arte torna-se assim uma retribuição do artista ao universo impresso e um diálogo profícuo com a técnica de produção de livros.
"Eles permitem que se trabalhe com a idéia de tempo, de sequencialidade e linearidade. Além do mais, eles não são como a televisão, que se pretende como representação realista; os livros assumem que são representação", diz o artista, um colecionador de livros dadaístas e surrealistas.
Já em "Vôo Noturno", Caldas discutia tais questões. A obra é um livro negro, que não pode ser completamente aberto pois as páginas centrais estão unidas por um fio também negro, simulando o traçado de um vôo à noite e que impede o uso normal do objeto. O artista realiza aí, assim como em várias de suas esculturas, uma especulação sobre a natureza da representação.
Entre as 27 obras expostas, há uma grande variedades de formatos. Livros produzidos em série, de forma industrial, como "Velázquez", de 1996. "Esse era um livro que, por suas características, precisa da multiplicidade. Ele é uma ironia em relação ao objeto único e uma discussão sobre as técnicas utilizadas por Velázquez", afirma.
Já outras produções, como "Giacometti" (1997), de uma tiragem de três exemplares, escapa dos suportes do próprio livro e cresce em sentido vertical, da mesma forma que as esculturas do artista suíço.
Outros dos livros expostos é o "Manual da Ciência Popular" (1981), que teve tiragem de 2.000 exemplares, no qual, de forma irônica, Caldas "explicava" como fazer uma obra de arte.
Para Caldas, "livros são sempre maiores por dentro do que por fora, eles ampliam o universo". Na mostra, eles também cumprem a função de ampliar o universo do próprio artista, criando um interessante diálogo com sua obra.
A mostra foi inaugurada em 1996, no Museu de Arte Moderna do Rio, onde foi vista por mais de 50 mil pessoas, já passou pelo Museu de Arte do Rio Grande do Sul, em Porto Alegre, e segue depois para Zurique, na Suíça.
(FABIO CYPRIANO)


LIVRO - Mostra com 27 livros de arte do artista plástico Waltercio Caldas. Quando: abertura hoje, às 11h; de ter. a dom., das 10h às 18h; Até 4/8. Onde: Pinacoteca do Estado (praça da Luz, 2, Centro, tel. 229-9844). Quanto: entrada franca



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