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ARTES PLÁSTICAS
Artista expõe 27 livros que traçam percurso de sua carreira desde 1967; mostra segue depois para Suíça
Caldas monta biblioteca na Pinacoteca
DA REPORTAGEM LOCAL
Biblioteca não é, de fato, o termo adequado. Afinal, os 27 livros
de arte expostos por Waltercio
Caldas, a partir de hoje na Pinacoteca, não poderão ser manuseados pelo público. Eles estarão dispostos em vitrines, como obras de
arte que não podem ser tocadas.
Mas é essa mesma a intenção ao
apresentar a coleção. Ela reúne
desde um dos primeiros livros de
arte feitos por Caldas, "Vôo Noturno" (1967), até sua mais recente produção. "Apesar de minha
obra ter várias facetas, de esculturas a objetos e desenhos, os livros
assumem as características de
meus trabalhos em cada época;
por isso, considero essa mostra
como uma retrospectiva", diz o
artista, durante a montagem da
exposição, anteontem.
"Livros são fundamentais para
o modernismo. No meu caso em
particular, que cresci em meio a
um ambiente com poucas galerias
e exposições, foi por meio deles
que tomei conhecimento com o
que se passava no circuito da arte", conta Caldas. A feitura de livros de arte torna-se assim uma
retribuição do artista ao universo
impresso e um diálogo profícuo
com a técnica de produção de livros.
"Eles permitem que se trabalhe
com a idéia de tempo, de sequencialidade e linearidade. Além do
mais, eles não são como a televisão, que se pretende como representação realista; os livros assumem que são representação", diz
o artista, um colecionador de livros dadaístas e surrealistas.
Já em "Vôo Noturno", Caldas
discutia tais questões. A obra é
um livro negro, que não pode ser
completamente aberto pois as páginas centrais estão unidas por
um fio também negro, simulando
o traçado de um vôo à noite e que
impede o uso normal do objeto. O
artista realiza aí, assim como em
várias de suas esculturas, uma especulação sobre a natureza da representação.
Entre as 27 obras expostas, há
uma grande variedades de formatos. Livros produzidos em série,
de forma industrial, como "Velázquez", de 1996. "Esse era um livro
que, por suas características, precisa da multiplicidade. Ele é uma
ironia em relação ao objeto único
e uma discussão sobre as técnicas
utilizadas por Velázquez", afirma.
Já outras produções, como
"Giacometti" (1997), de uma tiragem de três exemplares, escapa
dos suportes do próprio livro e
cresce em sentido vertical, da
mesma forma que as esculturas
do artista suíço.
Outros dos livros expostos é o
"Manual da Ciência Popular"
(1981), que teve tiragem de 2.000
exemplares, no qual, de forma
irônica, Caldas "explicava" como
fazer uma obra de arte.
Para Caldas, "livros são sempre
maiores por dentro do que por fora, eles ampliam o universo". Na
mostra, eles também cumprem a
função de ampliar o universo do
próprio artista, criando um interessante diálogo com sua obra.
A mostra foi inaugurada em
1996, no Museu de Arte Moderna
do Rio, onde foi vista por mais de
50 mil pessoas, já passou pelo Museu de Arte do Rio Grande do Sul,
em Porto Alegre, e segue depois
para Zurique, na Suíça.
(FABIO CYPRIANO)
LIVRO - Mostra com 27 livros de arte do artista plástico Waltercio Caldas.
Quando: abertura hoje, às 11h; de ter. a
dom., das 10h às 18h; Até 4/8. Onde:
Pinacoteca do Estado (praça da Luz, 2,
Centro, tel. 229-9844). Quanto: entrada
franca
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