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São Paulo, domingo, 29 de junho de 2003

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DANÇA/"LIVRE TRÂNSITO"

Programação propõe encontro com diferentes linguagens, como hip hop, moda e videoarte

Artes se reúnem e criam movimentos comuns

INÊS BOGÉA
CRÍTICA DA FOLHA

Termina hoje o "Livre Trânsito"; o evento, que começou no último dia 12, faz parte da programação "Mês Dança em Pauta", no Centro Cultural Banco do Brasil, com curadoria de Ana Francisca Ponzio. Proposta: fomento à criação e ao contato entre artistas de áreas distintas. Resultados: alguns de grande força, outros nem tanto, como é natural.
A programação se dividiu em dois eixos: "Encontros" e "Mostra de Dança". Para a abertura, uma mesa-redonda sobre políticas culturais. No segundo encontro, "Ateliê Coreográfico Obra em Construção", Joel Borges falou sobre o programa de intercâmbio que desenvolve desde 2001, na França, e os participantes comentaram suas experiências.
Por aqui, Borges trabalhou com 13 criadores; dois nomes serão anunciados hoje, para representar o Brasil na Residência Internacional de Criação, em Paris, em outubro.
Um vídeo de Alexandre Leveuf apresentou as pesquisas, surpreendentes. Borges e Leveuf extraem a essência dos trabalhos "in progress", a partir da análise dos (e entre os) participantes.
Na primeira das quatro coreografias da mostra, "Amo a Vida e Namoro a Morte", Cibele Forjaz, Sandro Borelli e Umberto Silva transitam entre dança e teatro. Momento memorável: o encontro corporal entre os intérpretes, Borelli e Silva. Um corpo sobre o outro, um movimento fundido no outro. Quem move, quem é movido? Cena para impressionar qualquer um; mas nem todos terão a mesma empatia com os símbolos, incluindo o fogo no fim.
"Estar Sendo", de Miriam Druwe e Marta Soares, é uma dança de opostos. Leveza e técnica, arrematadas pela interferência do videoartista Nelson Enohata. Em cena, Druwe e Enohata, mais um auxiliar.
No silêncio, os movimentos expõem a pesquisa corporal -de peso, fluência, equilíbrio e desequilíbrio. O corpo explorado em detalhes pela câmera. Nos movimentos menores, Druwe encontra mais qualidade, que explode nas projeções. A luz (Cibele Forjaz e Alessandra Domingues) risca e dá cor ao espaço.
Idéia instigante, com movimentos comuns, na coreografia do Cena 11, uma parceria entre o figurinista Ricardo de Almeida e o coreógrafo Alejandro Ahmed, "SKR - Procedimento 3". Será uma das quatro partes de "SKINNER BOX", que estréia em 2004. A inspiração vem do psicólogo Skinner (1904-90), que estudou o comportamento por meio de processos de recondicionamento.
Qual a influência da roupa no comportamento humano? Tons vibrantes, listras e xadrez remetem às histórias em quadrinhos, em que o herói jamais morre, mesmo quando se esborracha no chão (cena recorrente na dança). Duas mulheres de calcinha e fita adesiva nos peitos se jogam o tempo todo de peito no chão. Três homens de terno mudam constantemente de roupa. O trio dança em sequência, seus rostos às vezes cobertos; no telão do fundo projeta-se a face ausente.
E as roupas, afinal? Não modificam os movimentos, só ressaltam papéis. A julgar por essa parte, o novo espetáculo deve alcançar a mesma densidade que se admira há muito no grupo.
Para encerrar a temporada, agora, uma parceria entre o coreógrafo do grupo Quasar, Henrique Rodovalho, e o Grupo Discípulos do Ritmo, de hip hop. Dança, teatro, videoarte, moda, hip hop: "Trânsito Livre" promoveu encontros e estimulou a criação. Bela proposta; erros e acertos fazem parte do processo.


Livre Trânsito   
Onde: CCBB (r. Álvares Penteado, 112, tel. 3131-3652)
Quando: hoje, às 19h30
Quanto: R$ 10



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