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São Paulo, terça-feira, 29 de julho de 2003

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CINEMA

Mostra na Sala Cinemateca exibirá oito títulos, entre eles "Limite", de Mário Peixoto, e "Fim de Verão", de Yasujiro Ozu

Raridades colocam natureza em primeiro plano

Divulgação
Cena de 'O Homem de Aran', documentário de Robert Flaherty


PEDRO BUTCHER
CRÍTICO DA FOLHA

Nem tanto pelo seu tema e mais pela qualidade e raridade dos oito títulos programados, a mostra "A Ficção da Natureza", que começa hoje, na Sala Cinemateca, é imperdível.
São filmes que, de fato, obedecem ao conceito escolhido, conferindo à natureza um papel que vai muito além do mero cenário, ora de forma explícita ("Vento e Areia", de Victor Sjöström), ora sutil ("Fim de Verão", de Yasujiro Ozu); ora com uma exploração alegórica ("Barravento", de Glauber Rocha), ora documental ("O Homem de Aran", de Robert Flaherty). De resto, os filmes não poderiam ser mais diferentes entre si, em estilo e conteúdo.
Uma das obras raras incluídas na mostra é "Terra", de Alexander Dovjenko, representante menos célebre, nem por isso menos importante, da excelência artística do cinema mudo soviético. Por alguma razão, possivelmente política, Dovjenko não é tão reconhecido quanto seus colegas Eisenstein e Pudovkin, apesar de ter levado longe a idéia de um cinema de montagem. "Terra" mostra o processo de coletivização em uma região rural da Ucrânia. Talvez por ser ucraniano e de origem camponesa, Dovjenko retratou esse cenário com um olhar único.
Outra raridade é "Vento e Areia", de Victor Sjöström, autor do filme favorito de Ingmar Bergman ("A Carruagem Fantasma") e que por Bergman foi homenageado em "Morangos Silvestres".
Sjöström nasceu na Suécia e viveu nos EUA até os sete anos. Seu pai se tornou um fanático religioso, e Sjostrom foi levado de volta para a Suécia. Lá, tornou-se ator, diretor de teatro e, em seguida, pioneiro do cinema.
A mostra se completa com outros seis títulos de qualidade inegável, quase todos de pouca exibição, principalmente o curta "Chuva", de Joris Ivens, e o penúltimo filme do mestre japonês Yasujiro Ozu, "Fim de Verão", em que o calor enfatiza a deterioração econômica de uma família. Há, ainda, o mitológico clássico do cinema mudo brasileiro "Limite", de Mário Peixoto; o longa-metragem lírico-realista de Roberto Santos "Os Amantes da Chuva"; o documentário de Robert Flaherty, "O Homem de Aran", sobre a sociedade e as intervenções da natureza numa ilha da Irlanda; e "Barravento", o primeiro longa-metragem de Glauber Rocha.
Mas, só para confirmar o tema vasto da mostra, vale registrar a ausência de dois outros cineastas de características igualmente diferentes entre si, mas que também exploraram a natureza como elemento narrativo: Akira Kurosawa (a tempestade da sequência final de "Rapsódia de Agosto") e Walter Lima Júnior ("Inocência", "A Ostra e o Vento").


A FICÇÃO DA NATUREZA. Mostra na Sala Cinemateca. Quando: de hoje, às 18h, até 10/8. Onde: lgo. Senador Raul Cardoso, 277, tel. 0/xx/ 11/5084-2177. Quanto: de R$ 4 a R$ 8.


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