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CINEMA
Mostra na Sala Cinemateca exibirá oito títulos, entre eles "Limite", de Mário Peixoto, e "Fim de Verão", de Yasujiro Ozu
Raridades colocam natureza em primeiro plano
Divulgação
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Cena de 'O Homem de Aran', documentário de Robert Flaherty |
PEDRO BUTCHER
CRÍTICO DA FOLHA
Nem tanto pelo seu tema e
mais pela qualidade e raridade dos oito títulos programados, a mostra "A Ficção da Natureza", que começa hoje, na Sala
Cinemateca, é imperdível.
São filmes que, de fato, obedecem ao conceito escolhido, conferindo à natureza um papel que vai
muito além do mero cenário, ora
de forma explícita ("Vento e
Areia", de Victor Sjöström), ora
sutil ("Fim de Verão", de Yasujiro
Ozu); ora com uma exploração
alegórica ("Barravento", de Glauber Rocha), ora documental ("O
Homem de Aran", de Robert Flaherty). De resto, os filmes não poderiam ser mais diferentes entre
si, em estilo e conteúdo.
Uma das obras raras incluídas
na mostra é "Terra", de Alexander Dovjenko, representante menos célebre, nem por isso menos
importante, da excelência artística do cinema mudo soviético. Por
alguma razão, possivelmente política, Dovjenko não é tão reconhecido quanto seus colegas Eisenstein e Pudovkin, apesar de ter
levado longe a idéia de um cinema
de montagem. "Terra" mostra o
processo de coletivização em uma
região rural da Ucrânia. Talvez
por ser ucraniano e de origem
camponesa, Dovjenko retratou
esse cenário com um olhar único.
Outra raridade é "Vento e
Areia", de Victor Sjöström, autor
do filme favorito de Ingmar Bergman ("A Carruagem Fantasma")
e que por Bergman foi homenageado em "Morangos Silvestres".
Sjöström nasceu na Suécia e viveu nos EUA até os sete anos. Seu
pai se tornou um fanático religioso, e Sjostrom foi levado de volta
para a Suécia. Lá, tornou-se ator,
diretor de teatro e, em seguida,
pioneiro do cinema.
A mostra se completa com outros seis títulos de qualidade inegável, quase todos de pouca exibição, principalmente o curta
"Chuva", de Joris Ivens, e o penúltimo filme do mestre japonês Yasujiro Ozu, "Fim de Verão", em
que o calor enfatiza a deterioração
econômica de uma família. Há,
ainda, o mitológico clássico do cinema mudo brasileiro "Limite",
de Mário Peixoto; o longa-metragem lírico-realista de Roberto
Santos "Os Amantes da Chuva"; o
documentário de Robert Flaherty, "O Homem de Aran", sobre a sociedade e as intervenções
da natureza numa ilha da Irlanda;
e "Barravento", o primeiro longa-metragem de Glauber Rocha.
Mas, só para confirmar o tema
vasto da mostra, vale registrar a
ausência de dois outros cineastas
de características igualmente diferentes entre si, mas que também
exploraram a natureza como elemento narrativo: Akira Kurosawa
(a tempestade da sequência final
de "Rapsódia de Agosto") e Walter Lima Júnior ("Inocência", "A
Ostra e o Vento").
A FICÇÃO DA NATUREZA. Mostra na
Sala Cinemateca. Quando: de hoje, às
18h, até 10/8. Onde: lgo. Senador Raul
Cardoso, 277, tel. 0/xx/ 11/5084-2177.
Quanto: de R$ 4 a R$ 8.
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