São Paulo, sábado, 29 de julho de 2006

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Crítica/"Vamos Todos Dançar"

Divulgação
Cena do documentário "Vamos Todos Dançar", com crianças de 11 anos de escolas públicas de Nova York


Crianças dançam em filme encantador

SÉRGIO RIZZO
CRÍTICO DA FOLHA

Um documentário sobre crianças de escolas públicas que participam de um concurso de dança de salão poderia, em tese, ser rodado em qualquer cidade onde o sistema de educação promovesse a atividade. Mas dificilmente haveria cenário mais apropriado para isso do que Nova York, pelos motivos expostos em "Vamos Todos Dançar". Primeiro, há a mística da Broadway, que transformou a cidade em meca dos que aspiram a se profissionalizar em espetáculos musicais. Hollywood também ajudou a difundir, dos clássicos da Metro ambientados ali até "Fama" (80), a idéia de que a vida nova-iorquina pulsa de acordo com o showbiz.
Vem daí um contraste que a diretora estreante Marilyn Agrelo e a roteirista Amy Sewell trabalham de modo discreto: as crianças de 11 anos que estrelam o filme não encaram a dança como janela para a fama, mas são atraídas, entre outras coisas, por um "glamour" que tem a ver com essa imagem.
Nova York contribui com outros ingredientes, como a diversidade sociocultural e o espírito de competitividade. Os alunos das três escolas públicas acompanhadas expressam naturalmente a convivência, nem sempre harmônica, entre crianças de origens distintas.
As aulas extracurriculares de dança freqüentadas, fruto da atuação de uma ONG, são lúdicas, mas trabalham com o horizonte de um concurso em que só haverá uma escola vencedora. Pois estão todos os alunos apresentados, na quinta série, diante da constatação adulta de que, no fim da linha, há um troféu esperando poucos.
Seria cedo para isso? "Vamos Todos Dançar" sugere que não, ao mostrar que o choro pela derrota, se bem trabalhado por professores, ambiente escolar e famílias, pode representar um capítulo importante no amadurecimento. No fundo, é disso que trata o filme: crianças começam a virar adultas ao aprender a dançar em par.
Para educadores, este documentário encantador oferece a chance de retomar discussão antiga: a importância de transformar a escola em espaço que amplie, e não reduza, a perspectiva de futuro das crianças. "Vamos Todos Dançar" demonstra que merengue, tango e rumba também são animados instrumentos de mobilização.


VAMOS TODOS DANÇAR
   
Direção: Marilyn Agrelo


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