São Paulo, Domingo, 29 de Agosto de 1999
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CRÍTICA

CD é retorno a chavão

da Reportagem Local

A maior crítica que pode ser feita ao 10º disco -contando o CD em espanhol- de Zezé Di Camargo & Luciano é o fato de a dupla voltar ao estilo pop romântico que a consagrou e ter ousado menos do que no CD de 98.
"Aquele disco tinha um lado diferente do que somos. Era mais eclético, voltado para o social, mais sofisticado. O deste ano está mais popular. Voltamos ao chavão de alguns anos atrás", admite Zezé, para quem o Brasil passa por um momento musical muito popular.
Ele cita a gravação de "É o Amor" por Maria Bethânia, o fato de Caetano ter vendido 1 milhão gravando "Sozinho", de Peninha, um compositor popular, e o sucesso do "brega-cult" Reginaldo Rossi. "Estávamos na vanguarda. Neste ano, estamos mais sintonizados com o momento musical do Brasil e com a nossa proposta."
O disco começa com uma "metralhadora giratória" de guitarras na música "Pare", de Piska e Cesar Augusto -produtor e compositor preferido por nove entre dez cantores neo-sertanejos.
Chama a atenção uma canção-mensagem, "Quem É Ele?", influência direta do sequestro do irmão da dupla, Wellington Camargo -entre 16 de dezembro de 98 e 20 de março deste ano.
"Foi a primeira música que fiz na minha vida falando de Deus. A gente fica mais sensível, começa a enxergar outras coisas, ver que o dinheiro não está acima de tudo. A gente está mais voltado para o lado espiritual."
Vejamos: gravados por Bethânia, fazendo mensagens religiosas e sendo criticados por repetir fórmulas. Estarão se "robertocarlizando"? Zezé ri: "Só faltou fazer uma capa azul, né?".
Longe disso. A capa é o que o disco tem de mais moderno -feita em preto-e-branco, com cortes de cabelo renovados e visual até um tanto clubber.
Modernos -ou modernosos- também são os arranjos, realizados com precisão tal que não dá vez a erros. O que, no fundo, é uma preocupação com a qualidade e pode motivar mais uma crítica: a de serem plásticos demais.
Luciano observa: "A crítica tem preconceito. O Caetano vendeu um milhão com "Sozinho", e ela elogiou. A Bethânia gravou uma música do Zezé e foi criticada".
Apesar de toda a crítica, a dupla é a maior galinha dos ovos de ouro da Sony Music no Brasil. Ainda não vendeu 2 milhões de um único álbum -um número meio "mágico"-, mas mantém uma média de 1,7 milhão por ano.
Ou seja, não há uma explosão, mas uma regularidade que deve conferir à dupla a marca dos 15 milhões no ano 2000.
Zezé critica artistas que mentem sobre a vendagem. "Como compositor, pelo acesso que tenho às editoras, sei quem está mentindo. Eu não gosto de mentir para mim mesmo. Seria uma falsa ilusão."
Por contrato, ele é obrigado a lançar um disco por ano -mesmo sem ter trabalhado todas as faixas candidatas a farta execução. Para ele, um artista popular não pode abrir mão da vendagem.
"Não podemos nos dar ao luxo de ficar três anos fora e depois voltar, como o Chico Buarque. Ele tem um público, muito pequeno, mas que o acompanha, independentemente do que toca no rádio. A gente não pode virar as costas para a mídia", disse, na última semana, entre uma e outra visita a rádios AM de São Paulo. (LPz)



Avaliação:    

Disco: Zezé Di Camargo & Luciano
Lançamento: Sony Music
Quanto: R$ 22, em média


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