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São Paulo, segunda-feira, 29 de setembro de 2003

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"A VINGANÇA DE WILLARD"

Filme narra história de homem com fobia social que tem ratos como única fonte de afeto

Terror coloca simbolismos no lugar dos sustos

Divulgação
O ator norte-americano Crispin Glover em cena de "A Vingança de Willard", filme de horror de Glen Morgan em cartaz na cidade


DA REDAÇÃO

Para quem acha que filme de terror é feito para assustar, "A Vingança de Willard" não serve para muita coisa. Essa história de um homem tímido, que encontra na companhia de ratos o único refúgio de "sociabilidade", não se resume a sustos.
Afinal, quem não tem medo desses roedores assiste a essa parábola sem sentir muito incômodo. E quem sofre de fobia desses bichos não vai querer nem passar na porta do cinema.
O diretor Glen Morgan faz do filme um exercício de estilo, transforma a história em conto gótico no qual os sustos habituais dão lugar a um simbolismo visual mais interessante. Willard é um caso extremo de fobia social. Vive em uma casa isolada com uma mãe doente e possessiva. No trabalho, não consegue se adequar às regras e é perseguido pelo patrão. Nessa situação, os ratos se tornam sua fonte de afeto. É com eles que Willard se integra e neles incorpora seu amor e seu ódio, seu desejo e sua vontade de destruição.
Como todo bom conto gótico, esse também é feito de muitas sombras: do porão, onde os ratos se proliferam, às ruas escuras, onde Willard perambula e executa seus atos de ódio. Assim, o fantástico substitui a sanguinolência tradicional dos filmes de terror. Explorando os ótimos recursos da face estranha de Crispin Glover (pálido e anguloso), "Willard" transmite o medo como expressão de inadequação ao mundo.
Quando o humano se reaproxima do animal, quais as consequências? Quando o instinto se apossa do lado dito civilizado, o que pode acontecer?
Ao colocar ao espectador essas perguntas, "Willard" se aproxima de "Instinto Fatal", fantástico filme de George Romero em que o "lado animal" também é força da ação do ódio inconsciente. Mas aqui o diretor não prefere nenhuma seriedade. Por isso, predomina a caricaturização dos personagens. Por isso também, mais do que um filme de horror, "Willard" às vezes é uma comédia.
De estranheza em estranheza o momento insuperável de humor negro é quando se ouve a doce canção "Ben", de Michael Jackson, logo quando se apresenta o personagem Ben (o rato do "mal", em oposição a Sócrates, o rato do "bem"). Nem o estranhíssimo M. Jackson poderia imaginar. (CÁSSIO STARLING CARLOS)


A Vingança de Willard
Willard
   
Produção: EUA, 2003
Direção: Glen Morgan
Com: Crispin Glover, R. Lee Ermey
Quando: em cartaz nos cines Butantã, Shopping D e circuito



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