São Paulo, sexta-feira, 29 de setembro de 2006

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Cinema/crítica

"Murderball" mostra o mundo macho do rúgbi de paraplégicos

Divulgação
Mark Zupan, capitão da seleção americana, em "Murderball"


LEONARDO CRUZ
EDITOR-ASSISTENTE DA ILUSTRADA

O cara da foto ao lado é Mark Zupan. Em 1993, num acidente de carro nos EUA, ele foi arremessado para fora da caminhonete que um amigo dirigia e caiu num fosso, onde passou mais de 13 horas, agarrado a um tronco, até ser encontrado. Zupan tinha 18 anos, e o acidente o deixou paraplégico. "Foi a melhor coisa que já me aconteceu", disse Zupan ao jornal "USA Today". Acompanhar sua performance no documentário "Murderball - Paixão e Glória" deixa claro que ele não mente.
Zupan é um dos três personagens centrais desse filme sobre a vida de jogadores de rúgbi para paraplégicos ao longo de três anos e três competições internacionais, do Mundial de 2002 à Paraolimpíada de 2004.
A obra, que estréia hoje em SP, foi indicada ao Oscar de melhor documentário e recebeu prêmios do júri e do público no Festival de Sundance em 2005.
Mais do que apresentar um esporte, "Murderball" acaba com pré-concepções de que paraplégicos são necessariamente frágeis e incapazes. Zupan e colegas praticam um jogo agressivo desde o nome ("murder" é assassinato em inglês), no qual cadeiras de rodas se transformam, nas palavras de um jogador, em "carrinhos de bate-bate". São independentes dentro e fora das quadras.
Nessa modalidade em que a meta é conduzir a bola com as mãos pela defesa rival até a área de pontuação, os atletas são fortes e não usam proteção. "Acho que faz parte dessa coisa "macho" do esporte", afirma Zupan, capitão do time dos EUA.
A tal "coisa macho" é outra marca latente no filme, desde as cenas em que os jogadores descrevem com orgulho suas aptidões sexuais até a gana com que encaram cada partida.
Exemplo desse espírito é Joe Soares. Astro da seleção americana nos anos 90, ele não aceitou ter sido cortado da equipe quando envelheceu e perdeu agilidade. Atravessou a fronteira e foi treinar a seleção do Canadá. Rotulado como traidor por seus ex-colegas americanos, ninguém é tão obcecado pela vitória quanto ele -em um jantar com a mulher para celebrar o aniversário de casamento, Soares brinda à equipe canadense e à medalha de ouro.
É o personagem mais fascinante de "Murderball". Em um primeiro momento, surge como homem amargurado, ressentido, agressivo com o filho caçula e motor do ódio entre atletas canadenses e americanos. E se transforma ao longo do filme, após um infarto.
O terceiro homem-chave do filme é Keith Cavill, jovem que fratura o pescoço em um acidente. "Murderball" mostra sua recuperação e seu primeiro contato com o rúgbi. A frustração de Cavill ao voltar para casa e ter de se adaptar à nova rotina dialoga de forma brutal com o depoimento de Zupan sobre as dificuldades para sair da depressão após seu acidente.
"Murderball" cativa por esses personagens de histórias fascinantes, contadas em ritmo ágil e sem espaço para a piedade e o melodrama de outros filmes sobre deficientes. Os poucos momentos de pieguice, nas decisões de algumas das partidas, são facilmente relevados.

MURDERBALL - PAIXÃO E GLÓRIA    
Direção: Dana Adam Shapiro, Henry-Alex Rubin e Jeffrey Mandel
Produção: EUA, 2005
Quando: em cartaz nos cines Bombril e Espaço Unibanco


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