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São Paulo, quinta-feira, 30 de janeiro de 2003

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TEATRO

Montagem faz recorte de seis personagens do romance homônimo de 1982 do escritor português

Peça "Memorial" apropria discurso de José Saramago

Lenise Pinheiro/Folha Imagem
Malu Galli e Letícia Sabatella em "Memorial do Convento", que inicia ensaios abertos amanhã


DA REPORTAGEM LOCAL

A quarta versão teatral consecutiva no país de um livro de José Saramago ganha ensaios abertos a partir de amanhã no Sesc Pompéia, em São Paulo.
"Memorial do Convento", o espetáculo, é assentado no romance homônimo do escritor português publicado em 1982. Nos últimos dois anos, também foram levados ao palco "O Conto da Ilha Desconhecida" (duas montagens), "O Evangelho Segundo Jesus Cristo" e "Ensaio Sobre a Cegueira".
Curiosamente, as quatro peças que também constam da obra de Saramago permanecem inéditas no teatro brasileiro.
"Suas histórias têm uma capacidade enorme de nos fazer imaginar, e o teatro é o lugar da imaginação", afirma a diretora carioca Christiane Jatahy, 35, idealizadora deste "Memorial do Convento".
Ela convidou o espanhol José Sanchis Sinisterra ("Ay, Carmela!") para costurar uma dramaturgia em torno do original. O romance põe em paralelo o massacre histórico da igreja e da família real no Portugal do século 18 e o sonho dos trabalhadores escravizados, materializado na construção de uma máquina voadora.
A opção foi pelo recorte de seis personagens do livro, que ora são contadores da história ora são os protagonistas. Estão recriados em cena o padre Bartolomeu (Marcelo Valle), o casal formado pela sensitiva Blimunda (Letícia Sabatella), que pode "olhar por dentro das pessoas", e pelo soldado maneta Sete-Sóis (Caio Junqueira); o músico Scarlatti (Fernando Alves Pinto); e o rei (Augusto Madeira) e a rainha (Malu Galli).
"São vestígios. Nunca um espetáculo vai dar conta do mar que é o "Memorial do Convento", de cuja dimensão o teatro não dá conta", afirma Jatahy.
A meta, diz ela, é a apropriação do discurso de Saramago, vencedor do Nobel de Literatura em 1998. "Não há nenhuma palavra proferida em cena que não seja dele", afirma Jatahy.
Letícia Sabatella, 31, conta que os atores permanecem o tempo todo no palco. Os personagens narram suas histórias entre si como se "reunidos em torno de uma fogueira ou numa roda de trabalhadores após o expediente".
Para compor sua Blimunda, personagem-chave em passagens de tom fantástico no romance (a mãe, feiticeira, foi perseguida pela Santa Inquisição), Sabatella a concebe como uma mulher com poderes que transcendem sua condição de camponesa.
O projeto incorpora cenografia do português José Manuel Castanheira, que alude à "passarola", a máquina de voar -no livro, a utopia possível.
Castanheira participa de um debate gratuito hoje, às 16h, no Sesc Pompéia, com mediação do também cenógrafo J.C. Serroni. (VS)

MEMORIAL DO CONVENTO. De: José Saramago. Dramaturgia: José Sanchis Sinisterra. Direção: Christiane Jatahy. Onde: Sesc Pompéia - galpão (r. Clélia, 93, tel. 3871-7700). Quando: ensaios abertos de amanhã a dom.; estréia 7/2, para convidados, e 8/2 para o público; sex. e sáb., às 21h; dom., às 19h. Até 23/2. Quanto: R$ 15 (ensaios) e R$ 25 (temporada). Patrocinador: BrasilTelecom.


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