UOL


São Paulo, quarta-feira, 30 de abril de 2003

Próximo Texto | Índice

ERUDITO/CRÍTICA

Sinfônica abriu temporada anual de concertos na Sala São Paulo regida por maestro Carlos Moreno

Osusp já está entre as melhores do país

ARTHUR NESTROVSKI
ARTICULISTA DA FOLHA

São tantas coisas certas que quase não cabem no parágrafo. Antes de mais nada, o empenho da USP em apoiar sua orquestra, promovendo a contratação de quadros e transformando o conjunto em sinfônica de verdade. Depois, a instalação do "Projeto Academia", que abriu 26 vagas para alunos de música. Dirigida por Carlos Moreno, a Osusp está com programação anual de alto nível e, além dos concertos no campus, passa a se apresentar mensalmente na Sala São Paulo, com solistas convidados.
Tudo isso seria louvável, mas não iria longe, se o resultado não fosse o que é. O mínimo que se pode dizer é que a Osusp tornou-se uma das melhores orquestras do país, e um exemplo do que deveria ser o engajamento das universidades na vida musical.
Nada mais justo, nessa nova fase, do que homenagear o compositor Camargo Guarnieri (1907-93), fundador da Osusp, em 1975. Depois da esfuziante "Dança Brasileira" (1931), que serviu como salva de fogos para a estação, mas também para a orquestra mostrar a que veio, o "Choro" para violoncelo e orquestra, com Antonio Lauro Del Claro. Guarnieri escreveu o "Choro" para Aldo Parisot, solista na estréia, nos EUA, em 1961; mas os dois se desentenderam por conta das dificuldades da peça e o "Choro" hoje é muito mais de Del Claro, grande divulgador dessa e de outras peças para violoncelo do maior compositor paulista.
É difícil para danar; e Del Claro teve seus momentos de estresse nas alturas da primeira corda. Mas toca com aquela segurança de fundo que garante música a tudo; e tem um som fundo que dá segurança à música. No ano passado, Antonio Meneses fez um "Choro" inesquecível com a Osesp. Del Claro entende a peça de outro jeito: menos oblíqua, menos enigmática, menos marioandradina. Que privilégio escutar o "Choro" tão bem tocado de novo, e tão diferente.
Bis: "Prelúdio" da "Segunda Suíte" de Max Reger (1873-1916). Bachiano, intenso, errante, artificioso.
Levante a mão quem conhece a "Sinfonia nš 1" de Tchaikovski (1840-93). Grande idéia da Osusp, então, de programar integrais como essa (a orquestra vai tocar as seis sinfonias do russo até o final do ano). Depois de segunda-feira, fica difícil entender por que não se toca a "Devaneios de Inverno" regularmente.
A "Sinfonia" vive para a espetacular coda dos tímpanos, no mendelssohniano "Scherzo", mas tem muitas outras virtudes. Comparada à "Quinta", ou à "Patética", não tem a força de idéia que se espera. Mas isso, agora, é uma insólita virtude também: os gestos de Tchaikovski aparecem "em abstrato", o jogo de harmonias (menos modulações do que sequências em tonalidades diferentes) não carrega a pressão dos temas, o quase-folclore mal se anuncia como novo mundo.
As cordas da Osusp são um espanto para quem espera uma orquestra de escola. E as trompas!
Só ficaram faltando duas coisas: notas de programa, que uma orquestra da USP tem obrigação de oferecer; e platéia cheia, que a cidade tem obrigação de dar.


Avaliação:     


Próximo Texto: "Solos, duos e trios": Experimentação dá cor à dança de câmara
Índice

UOL
Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.