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ERUDITO/CRÍTICA
Sinfônica abriu temporada anual de concertos na Sala São Paulo regida por maestro Carlos Moreno
Osusp já está entre as melhores do país
ARTHUR NESTROVSKI
ARTICULISTA DA FOLHA
São tantas coisas certas que
quase não cabem no parágrafo. Antes de mais nada, o empenho da USP em apoiar sua orquestra, promovendo a contratação de quadros e transformando
o conjunto em sinfônica de verdade. Depois, a instalação do "Projeto Academia", que abriu 26 vagas
para alunos de música. Dirigida
por Carlos Moreno, a Osusp está
com programação anual de alto
nível e, além dos concertos no
campus, passa a se apresentar
mensalmente na Sala São Paulo,
com solistas convidados.
Tudo isso seria louvável, mas
não iria longe, se o resultado não
fosse o que é. O mínimo que se
pode dizer é que a Osusp tornou-se uma das melhores orquestras
do país, e um exemplo do que deveria ser o engajamento das universidades na vida musical.
Nada mais justo, nessa nova fase, do que homenagear o compositor Camargo Guarnieri (1907-93), fundador da Osusp, em 1975.
Depois da esfuziante "Dança Brasileira" (1931), que serviu como
salva de fogos para a estação, mas
também para a orquestra mostrar
a que veio, o "Choro" para violoncelo e orquestra, com Antonio
Lauro Del Claro. Guarnieri escreveu o "Choro" para Aldo Parisot,
solista na estréia, nos EUA, em
1961; mas os dois se desentenderam por conta das dificuldades da
peça e o "Choro" hoje é muito
mais de Del Claro, grande divulgador dessa e de outras peças para
violoncelo do maior compositor
paulista.
É difícil para danar; e Del Claro
teve seus momentos de estresse
nas alturas da primeira corda.
Mas toca com aquela segurança
de fundo que garante música a tudo; e tem um som fundo que dá
segurança à música. No ano passado, Antonio Meneses fez um
"Choro" inesquecível com a
Osesp. Del Claro entende a peça
de outro jeito: menos oblíqua,
menos enigmática, menos marioandradina. Que privilégio escutar o "Choro" tão bem tocado de novo, e tão diferente.
Bis: "Prelúdio" da "Segunda
Suíte" de Max Reger (1873-1916).
Bachiano, intenso, errante, artificioso.
Levante a mão quem conhece a
"Sinfonia nš 1" de Tchaikovski
(1840-93). Grande idéia da Osusp,
então, de programar integrais como essa (a orquestra vai tocar as
seis sinfonias do russo até o final
do ano). Depois de segunda-feira,
fica difícil entender por que não se
toca a "Devaneios de Inverno" regularmente.
A "Sinfonia" vive para a espetacular coda dos tímpanos, no mendelssohniano "Scherzo", mas tem muitas outras virtudes. Comparada à "Quinta", ou à "Patética", não tem a força de idéia que se espera. Mas isso, agora, é uma insólita virtude também: os gestos de
Tchaikovski aparecem "em abstrato", o jogo de harmonias (menos modulações do que sequências em tonalidades diferentes)
não carrega a pressão dos temas,
o quase-folclore mal se anuncia
como novo mundo.
As cordas da Osusp são um espanto para quem espera uma orquestra de escola. E as trompas!
Só ficaram faltando duas coisas:
notas de programa, que uma orquestra da USP tem obrigação de
oferecer; e platéia cheia, que a cidade tem obrigação de dar.
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