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Crítica/teatro/"Divina Elizeth"
Espetáculo é mais satisfatório como show do que como peça
Musical desperdiça histórias, mas tem o mérito de evitar fórmulas importadas
SÉRGIO SALVIA COELHO
CRÍTICO DA FOLHA
Ao endossar a nobre causa do musical brasileiro, "Divina Elizeth"
marca pontos importantes.
Um país que tem uma intérprete como Elizeth Cardoso
(1920-1990) em seu acervo não
precisa partir de fórmulas consagradas importadas para contar histórias em forma de canções. Visto sob este prisma, o espetáculo do dramaturgo e encenador João Falcão é hábil por
construir a narrativa basicamente contextualizando o que
já está nas letras do repertório
da "divina".
Músicas esquecidas, como
"Falta um Zero no Meu Ordenado", de Ary Barroso e Benedito Lacerda, são muito eficientes não apenas para dar conta dos múltiplos empregos que teve Elizeth antes de se consagrar
como também para aproximar
a platéia daquela época, já que
há coisas que não mudam nunca por aqui.
Sob o comando de Josimar
Carneiro, que junto a outros
cinco músicos executa ao vivo e
com enorme competência uma
trilha com mais de 40 canções,
é preciso dizer, no entanto, que
"Divina Elizeth" é mais satisfatório enquanto show do que enquanto peça de teatro.
Compreende-se o zelo de
João Falcão em "evitar fofocas", mesmo concentrando-se
na vida amorosa daquela que
sempre cantou o amor. Mas,
dessa maneira, o fio narrativo
se torna uma monótona seqüência de amores infelizes
com homens de quem se omite
o nome e que acabam ficando
apagados, por mais vivo que seja o seu intérprete -o divertido
e afinado Cláudio Galvan, que
se multiplica em personagens
masculinos sem ter como diferenciar um do outro.
Assim, o musical resgata com
eficiência a personalidade de
sua protagonista, mas desperdiça personagens igualmente
ricos, como Ari Valdez e Evaldo
Rui, sem contar referências
históricas vitais daquela que
começou cantando sambas
com Noel Rosa (1910-1937),
consagrou-se no samba-canção
e ajudou a lançar a bossa nova.
Mesmo se propondo a ser
"apenas uma canção de amor a
mais" a Elizeth, não se entende
por que Falcão, com tanto material disponível, perde tanto
tempo com um dispensável
prólogo com dois anjos da guarda (o outro é Pedro Lima, simpático, e, no entanto, perdido
na trama).
Várias Elizeths
Por outro lado, a opção surpreendente de multiplicar Elizeth em cinco intérpretes acaba funcionando devido ao grande carisma de todas, com destaque para a voz poderosa de Dhu
Moraes e o charme de Beatriz
Faria -que dá razão para o seu
pai, Paulinho da Viola, passar a
fazer como fazia o pai de Elizeth, usando o instrumento como "arma" para afastar namorados (ou "transformar sua viola em gravatas", para recuperar
uma piada da peça).
Nesse clima de teatro de revista de bolso, torna-se sofrí-
vel o cenário de Sérgio Marimba, que repete o mesmo recurso
precário de palcos deslizantes,
e o excessivo figurino de Cláudio Tovar.
O mérito de "Divina Elizeth",
assim sendo, é sobretudo o de
apontar o riquíssimo filão do
teatro musical de temática brasileira: que surja em breve uma
obra maior.
DIVINA ELIZETH
Quando: sex. e sáb., às 21h; e dom.,
às 19h
Onde: teatro Shopping Frei Caneca (r.
Frei Caneca, 569, Consolação, região
central, tel. 3472-2229)
Quanto: R$ 80
Avaliação: regular
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