CCBB faz ciclo com raridades, como o curta "O Circo", e longas, como "Tudo Bem"

JOSÉ GERALDO COUTO
COLUNISTA DA FOLHA

Vinte e três anos depois de seu último longa-metragem, o cineasta Arnaldo Jabor, que se tornou uma celebridade nos últimos tempos como comentarista político, vai voltar a filmar. Nada mais oportuno, portanto, do que passar a limpo a filmografia do diretor na mostra "Arnaldo Jabor - 40 Anos de Opinião Pública", que o Centro Cultural Banco do Brasil de São Paulo exibe a partir de hoje.
A retrospectiva traz os sete longas de Jabor, do documentário "Opinião Pública" (1967) a "Eu Sei que Vou Te Amar" (1984), e os raros curtas "O Circo", de 1966, e "Amor à Primeira Vista: Carnaval", da co-produção multinacional "Love at First Sight", de 1990. Em que consiste a singularidade de seus filmes? O diretor, que fez parte da "segunda dentição" do Cinema Novo, destacou, em conversa com a Folha, seu "mergulho nas mazelas da classe média brasileira".
A partir de "Toda Nudez Será Castigada" (1972), o cineasta se serviu de Nelson Rodrigues como uma espécie de guia para essa investigação. Dele, além da peça "Toda Nudez...", Jabor levou às telas também, em 1975, o romance "O Casamento". Seus filmes seguintes -"Tudo Bem" (1978), "Eu Te Amo" (1980) e "Eu Sei que Vou Te Amar" (1984)- também trazem a marca de Rodrigues, mesmo com roteiros de Jabor.
Para o cineasta, seus filmes que continuam mais vivos são "Opinião Pública" ("um documentário muito atual, meio existencial, mais ou menos na linha do "Edifício Master" do Eduardo Coutinho"), "Toda Nudez..." e "Tudo Bem", que ele considera sua melhor obra.
Em sua volta ao cinema, Jabor vai trocar a acidez de seus comentários pela doçura da memória poética. "Vai ser uma espécie de "Amarcord" carioca, ambientado no final dos anos 50, quando eu era adolescente", diz o diretor sobre o filme, que ele pretende começar a filmar ainda neste ano.