São Paulo, domingo, 30 de junho de 2002

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José Carlos Cocarelli se apresenta hoje com a Orquestra Experimental de Repertório

Pequeno mistério no Municipal


De carreira discreta, pianista radicado na França interpreta, no Municipal, peças de Camille Saint-Saens, Borodin e Dvorak


JOÃO BATISTA NATALI
DA REPORTAGEM LOCAL

O pianista José Carlos Cocarelli, 43, brasileiro radicado na França, será hoje, às 17h, o solista da Orquestra Experimental de Repertório, que se apresenta no Teatro Municipal, sob a regência do maestro Jamil Maluf.
Ele interpretará o "Concerto nš 2", para piano e orquestra, de Camille Saint-Saens (1835-1921), peça de enorme dificuldade e beleza maior ainda. Também no programa, obras sinfônicas de Alexander Borodin e Antonin Dvorak.
Cocarelli é um pequeno mistério. Tem padrão técnico e personalidade musical para ser uma das celebridades mundiais de seu instrumento. Mas sua carreira é discreta, low-profile.
Vencedor nos anos 80 de dois grandes concursos internacionais, o Busoni (Itália) e o Long-Jacques Thibaud (França), o músico carioca deixou forte lembrança por aqui em suas duas últimas aparições: com um "Concerto nš 2", de Brahms (1997), e um "Concerto em Sol Maior", de Ravel (1999).
Eis os principais trechos de sua entrevista.

Folha - É a primeira vez que você fará esse concerto de Saint-Saens?
José Carlos Cocarelli -
Eu já o interpretei, mas há muitos anos, numa de minhas primeiras aparições na Europa. Foi em Lisboa, com a Orquestra da Fundação Gulbenkian.

Folha - Como tem estado sua agenda na Europa?
Cocarelli -
Tenho me apresentado pouco. Meu último concerto foi recentemente em Aix-en-Provence, na França. Foi um recital solo, com peças de Rachmaninov, Frank, Villa-Lobos e Franz Lizst. No mais, tenho pesquisado, mas dentro de casa.

Folha - Em que tipo de pesquisa?
Cocarelli -
São pesquisas técnico-interpretativas, para profundar minha relação com a música e com o piano.

Folha - Você está lecionando?
Cocarelli -
Eu tenho uns poucos alunos. Mas não quero lecionar em conservatórios. Há dez anos cheguei a lecionar dessa forma, em Paris. Mas é complicado porque interfere nas turnês.

Folha - O piano é um instrumento em que a concorrência é imensa. Qual o diferencial para que, entre dois excelentes pianistas, um seja conhecido, e o outro, não?
Cocarelli -
Acredito que há em primeiro lugar o fator sorte. Há também a afinidade própria às épocas. Um intérprete pode trazer um mundo interior que dita sua interpretação e que coincide com o mundo interior do público. Pode ser também uma questão de receptividade diferenciada, dependendo do país.

Folha - Não há também a discriminação de empresários?
Cocarelli -
O que prevalece é a tenacidade dos artistas. Não há um único empresário no mundo. Há muitos. Se estamos conscientes de nosso valor, batalhamos para que esse valor seja conhecido.

Folha - Há músicos que "nasceram na época errada"?
Cocarelli -
Aparentemente isso pode parecer meio bobo. Em certos casos, há artistas que têm uma visão da arte e da música que é gloriosa, mas que não irá interessar muita gente. Culturalmente, o público estará buscando outras coisas, outras referências.


JOSÉ CARLOS COCARELLI - Com a Orquestra Experimental de Repertório, regida por Jamil Maluf. Quando: hoje, às 17h. Onde: Teatro Municipal (pça. Ramos de Azevedo s/nš, tel. 222-8698). Quanto: de R$ 5 a R$ 10.



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