|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
ERUDITO
Arts Florissants volta a SP
Grupo barroco presta tributo a Charpentier
JOÃO BATISTA NATALI
ENVIADO ESPECIAL A BUENOS AIRES
O conjunto barroco francês Les
Arts Florissants retorna a São
Paulo com apresentação que é
uma espécie de declaração de fidelidade e amor musical por
Marc-Antoine Charpentier (1634-1704), compositor lembrado agora nos 300 anos de sua morte.
Na programação da Sociedade
de Cultura Artística, os 39 instrumentistas e os 31 cantores -entre
eles, 20 vozes infantis de Versalhes- apresentarão na sexta e no
sábado, sob a regência de William
Christie, dois concertos na Sala
São Paulo.
O primeiro trará a tragédia bíblica, em um prólogo e cinco atos,
"David et Jonathas" (Davi e Jonas), obra estreada em 1688 em
um colégio parisiense de jesuítas e
que o próprio Christie gravou em
1988 e regeu por duas outras temporadas na França.
Ainda de Charpentier, no segundo concerto, o "Grande Ofício
dos Mortos", justaposição de
quatro peças fúnebres para instrumentos e vozes, e "Te Deum"
(H.146), um dos quatro que Charpentier escreveu e, talvez, a mais
conhecida de suas composições.
Lições de música barroca
William Christie, 59, é um pesquisador que nos tem reeducado
na maneira de ouvir a música do
século 17. Há previsivelmente os
instrumentos originais com afinação de época (a nota lá em 391
hertz, mais grave que a de 415
hertz do barroco alemão).
Há também um perfeccionismo
de detalhes e um profundo conhecimento das técnicas de interpretação esquecidas com a passagem dos séculos.
Christie esteve pelas últimas vezes em São Paulo em apresentações em 1994 e 1998. Nascido nos
Estados Unidos e radicado na
França desde 1971, formou-se em
Yale e em Harvard, é de origem
clavicinista e se tornou referência
em um país que entrou com atraso -depois da Áustria, Reino
Unido, Alemanha e Holanda-
na prática da revitalização do barroco restaurado.
Deve-se a ele a reaparição, em
concertos e em CDs, de compositores como Bernier, Desmarest,
Campra ou Giroust, ao lado de
outros nomes que não chegaram
a cair no esquecimento, como
Couperin, Rameau e, sobretudo,
Lully, uma espécie de ditador musical na corte de Luís 14 e a quem
se atribui a marginalização artística de Charpentier.
Quanto às obras no programa,
"David et Jonathas", personagens
do Antigo Testamento, traz jovens intérpretes de felicíssimo desempenho, como o tenor Cyril
Auvity (Davi) e a soprano Maud
Gnidzaz (Jonas). Auvity tem uma
emissão de pureza agudíssima e
econômica em ornamentos.
Gnidzaz apresenta uma técnica
incrível para alguém que tem uma
carreira ainda recente.
No "Grande Ofício dos Mortos"
destacam-se a soprano espanhola
Olga Pitarch e a portuguesa Orlanda Isidro, o tenor escocês Paul
Agnew e o norte-americano Jeffrey Thompson.
Entre os solistas, sobressaem-se
o barítono Marc Maillon e o baixo
Bertrand Bontoux, deficiente visual que lê sua parte em uma
transcrição em braile.
"David et Jonathas" foi interpretado na quarta da semana passada no Colón, em Buenos Aires.
O "Grand Office", mais o "Te
Deum", no dia seguinte, no Sólis,
de Montevidéu. Os dois teatros
vieram abaixo. O que também
poderá ocorrer agora na Sala São
Paulo.
O jornalista João Bastista Natali viajou
a convite da Sociedade de Cultura Artística
LES ARTS FLORISSANTS. Com William
Christie (direção). Onde: Sala São Paulo
(pça. Júlio Prestes, s/nš, região central,
tel. 3337-5414 e 3258-3344). Quando:
sexta e sábado, às 21h. Quanto: R$ 130 a
R$ 250, ou R$ 10, para estudantes, meia
hora antes do espetáculo. Patrocínio:
banco Safra, Bovespa, Telefônica e
Votorantim.
Texto Anterior: Casa Cor abre hoje e espera público menor Próximo Texto: Regente aponta evolução barroca Índice
|