|
Texto Anterior | Índice
Crítica/Miguel Bakun e Hélio Oiticica
Instituição cria confusão conceitual
FABIO CYPRIANO
DA REPORTAGEM LOCAL
É bastante esquizofrênica a dupla de exposições em cartaz no Instituto de Arte Contemporânea
(IAC): "Natureza e Destino",
Sobre a Obra de Miguel Bakun
(1909-1963), com curadoria de
Eliane Prolik, e "Da Estrutura
ao Tempo", sobre Hélio Oiticica (1937-1980), com curadoria
de Cauê Alves.
Sem dúvida são duas individuais, com curadores distintos,
mas que, ao serem reunidas no
mesmo período e na mesma
instituição, dão a (falsa) impressão de apresentar algo em
comum. Já é fato na cidade que
museus tenham designações
incongruentes com seus acervos; afinal, o melhor do Museu
de Arte Moderna de São Paulo é
sua coleção de arte contemporânea, e o melhor do Museu de
Arte Contemporânea da USP é
seu acervo moderno.
Exatamente por isso o IAC poderia
afastar-se dessa confusão.
Dedicado a artistas que transitaram do moderno para o
contemporâneo, como Sérgio
Camargo, Amilcar de Castro,
Willys de Castro e Mira Schendel, o IAC tem sido um dos poucos espaços da cidade a apresentar uma produção que, entre os anos 1950 e 1970, representou uma virada fundamental na arte brasileira.
Nesse
sentido, a mostra com os Metaesquemas e os Relevos Espaciais de Oiticica mostra coerência com a casa, pois aborda o
mesmo período e temática dos
artistas que justificaram a criação do instituto.
Contudo, a originalidade do
paranaense Bakun reside basicamente em pinturas de paisagens de sua terra natal, com
uma temática regionalista e figurativa, que nada tem a ver
com Camargo, os Castros e
Schendel, denotando uma confusão conceitual da instituição.
Ao menos, no que tange à sala
dedicada a Oiticica, o curador
problematiza algo que tem
muito a ver após o incêndio que
destruiu parte do acervo do artista, no qual justamente os
Metaesquemas teriam sido
grandes vítimas, mas acabaram
sendo preservados em sua
maioria.
"Não há porque levar a
sério minha produção pré-59",
escreveu Oiticica, em 1972, desprezando justamente os Metaesquemas, feitos em 1957 e
1958. Atentar à preocupação
fundamental da obra de Oiticica é fugir do objeto, mas usando-o para provocar uma reflexão, como faz Alves, é provocar
um debate necessário.
NATUREZA E DESTINO MIGUEL
BAKUN / DA ESTRUTURA AO
TEMPO HÉLIO OITICICA
Onde : IAC (r. Maria Antonia, 242, tel.
0/XX/ 11 3255-2009)
Quando : ter. a sáb, das 10h às 18h;
dom., das 12h às 17h; até 28/2
Quanto: entrada franca
Avaliação: regular
Texto Anterior: Filme dá vontade de correr para bistrô Índice
|