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Arquitetura das baladas de SP vai do luxo ao lixo
Ambientes de casas noturnas da cidade exploram exotismo, tecnologia e excesso
Projetos de clubes levam assinatura de Marcelo Rosenbaum, Isay Weinfeld e ganham menções em publicações estrangeiras
Apu Gomes/Folha Imagem
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Estátua da filial brasileira do Buddha Bar, que funciona em plena Villa Daslu; trazida de navio ao Brasil a peça pesa 900 kg e custou €35 mil
BRUNA BITTENCOURT
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
SILAS MARTÍ
DA REPORTAGEM LOCAL
De um mictório que simula a
boca de Mick Jagger a um enorme equalizador sintonizado às
frequências da música, a arquitetura das casas noturnas paulistanas reúne, com ou sem sucesso, tecnologia, exotismo, luxo e exagero, entre megacasas e
espaços mais intimistas, da zona oeste à zona sul.
Por trás dessa arquitetura da
diversão, estão nomes turbinados do design como Marcelo
Rosenbaum e Isay Weinfeld,
entre modelos copiados aos
tropeços do exterior.
Liderando os excessos, gaivotas de madeira alçam um vôo
estranho na Vila Leopoldina.
Os bichos ficam pendurados
sobre a entrada da Pacha, filial
do clube de Ibiza (Espanha)
que tenta trazer um clima mediterrâneo à terra da garoa.
O ar náutico está nas janelinhas dos guichês da entrada,
com baias metálicas para conter o fluxo de 1.500 festeiros
que vão disputar sofás brancos
e as mesinhas do sushi e pizza
bar, lá dentro.
Balada para ver e ser visto -é
como define a arquiteta que assina a versão brasileira da casa,
Lorenzza Lamoglie. Ela não estranha que a pista seja menor
que os espaços de convivência.
Ângulos de 90º são proibidos
nas paredes brancas, para manter o que seriam as formas orgânicas e a luz de Ibiza.
O desejo de simular à beira da
marginal Pinheiros o que os baladeiros encontram na Europa
resulta numa decoração no mínimo singular.
Exclusividade rarefeita
A distinção entre VIPs e mortais, como classifica Lamoglie,
é herança de Ibiza. Lá, o pedaço
reservado a quem paga mais foi
batizada de "Cielo". Aqui, o camarote fica numa área suspensa, com vista para a pista lá embaixo. O ar-condicionado privilegia esse "cantinho do céu":
resfria primeiro quem senta lá
em cima, para depois baixar a
temperatura na "terra".
A filial brasileira do Buddha
Bar, inaugurada no começo do
mês em plena Daslu, também
traz ares de longe. Se a matriz
em Paris simula um antro de
ópio em Macau nos anos 30, segundo um dos sócios da franquia, Rudolf Piper, o Buddha
paulista é um restaurante asiático sofisticado em Hong Kong.
No saguão que divide com a
entrada da Dior, um pequeno
Buda serve de prelúdio à grande estátua no andar de cima.
Esculpido por Bruno Tanquerel, que faz todas as estátuas da rede, o Buda do grande
salão veio da Tailândia para o
Brasil de navio, com permissão
dos monges de lá. Pesa 900 kg e
custou 35 mil euros.
Alcovas nas paredes laterais
do Buddha abrigam armaduras
de samurais, réplicas de originais japoneses feitas por uma
firma especializada na França.
Mesmo com exotismo de luxo, Piper diz não querer nenhuma "exclusividade rarefeita". Mas no dia em que a reportagem visitou o Buddha, homens-armário vigiavam a sala
onde jantava Naomi Campbell.
Estátuas de Buda também
decoram uma das salas da The
Week, mas, aqui, a proposta é
outra. Misto de casa noturna
com clube, o terreno de 4.800
m2 na Lapa tem piscina, um jardim e duas pistas.
Instalada num amplo galpão,
tem um bar de 12 m e promove,
festas à tarde à beira da piscina.
Na The Week, foi investido
cerca de R$ 1 milhão apenas no
som, segundo Lonardi Dona,
que assina também os projetos
do D-Edge e da Pacha.
O jogo de luzes faz coro com
a música e com o público. A casa GLS chega a receber até
2.500 pessoas aos sábados. Um
exército de garotões descamisados e go-go boys dançando
em plataformas iluminadas
com lasers dão o tom da festa.
Não muito longe dali, o D-Edge, clube citado diversas vezes na revista-bíblia do design
"Wallpaper", foca no mesmo
casamento entre luz e som,
num projeto hi-tech.
É a única casa noturna do
quinto volume da famosa série
"Architecture Now" (ed. Taschen), citada entre projetos de
Oscar Niemeyer e Zaha Hadid.
"Minha idéia era que as pessoas se sentissem dentro de um
sistema de som, que elas conseguissem vê-lo, além de ouvi-lo", conta Muti Randolph, que
assina o projeto.
A idéia do cenógrafo ganhou
forma com um imenso equalizador luminoso, que responde
à freqüência da música.
No ano que vem, a D-Edge
ganha uma expansão de 600
m2, com três novos ambientes.
Kitsch glamouroso
Na parte mais central e menos familiar da rua Augusta, o
Vegas achou seu espaço.
O projeto se inspirou nos cassinos de Las Vegas e da Urca, no
Rio. "A intenção era brincar
com a idéia de falso luxo", diz o
arquiteto Marcos Caldeira.
Lá dentro, um balcão curvo
de mármore percorre parte do
primeiro andar, onde funcionava uma tecelagem na década de
60. No teto, lâmpadas fluorescentes disputam atenção com
lustres antigos. Ao fundo, sofás
em couro capitonê dão ares retrô ao Vegas, quebrados por linhas de neon (os mesmos das
fachadas de outras casas da
rua), que conduzem à pista do
segundo andar. A surpresa, entre referências quase conflitantes, fica por conta de uma mangueira em um jardim interno.
Como o Vegas, o Glória traz
breve inspiração kitsch. "Queríamos um lugar que tivesse
história. Procuramos muitos
hotéis que já tivessem tido clubes, com um glamour de nightclub dos anos 80", conta André
Hidalgo, um dos três sócios da
casa. Mas, no lugar do glamour,
o trio acabou se encantando
com coisas bem menos mundanas: uma antiga igreja, que também abrigou o teatro Bixiga,
com sua fachada tombada pelo
patrimônio histórico e recuperada pelo projeto do arquiteto
Marcelo Rosenbaum.
Lounges dourados não são
exemplos de simplicidade, mas
o clube não peca pelo excesso.
Uma ilustração da estilista Fábia Bercsek decora o teto. "Nas
casas noturnas, não se vê nada
além do que está na altura dos
olhos das pessoas", explica.
Na contramão, Royal e Disco
exibem projetos sóbrios em espaços intimistas. A última ostenta um corredor assinado por
Isay Weinfeld e um painel dos
irmãos Campana. E a exclusividade se estende até a porta,
com o público filtrado sem misericórdia por seguranças.
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