São Paulo, sábado, 31 de outubro de 2009

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"As Meninas" ganha versão teatral

Romance de Lygia Fagundes Telles de 1973 é adaptado por Maria Adelaide Amaral para os palcos e estreia hoje em SP

Peça discute política, comportamento e outros dilemas de uma geração que viveu a juventude durante os anos críticos da ditadura


Lenise Pinheiro / Folha Imagem
As atrizes Clarissa Rockenbach e Luciana Brites

JOSÉ ORENSTEIN
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Trinta e seis anos foi o tempo que elas levaram para amadurecer e ganhar a cena. "As Meninas", romance de Lygia Fagundes Telles publicado em 1973, estreia hoje nos palcos de São Paulo lembrando a história de três jovens mulheres que viviam uma época de muitas transformações políticas e comportamentais -fim dos anos 60 e começo dos 70.
"Lygia Fagundes Telles com "As Meninas" faz um grande painel de uma época e uma tipologia feminina muito interessante", comenta Yara Novaes, diretora da montagem. "Mas não se trata de um romance histórico ou de gênero. Classificar dessa maneira seria reduzir a grande obra de arte complexa que o livro é."
O desafio então de traduzir tal obra para o teatro coube a Maria Adelaide Amaral, que foi quem sugeriu Novaes para a direção do espetáculo. Convidada pelo produtor da peça, Fernando Padilha, a escritora disse não ter tido muito trabalho na adaptação do romance à cena.
"Os elementos dramáticos já estavam lá. O livro tem um sentido de ação dramática e de diálogo que não são muito típicos de ficcionistas", conta Amaral. "Na verdade foi supertranquilo: a Lygia me deu tudo pronto, eu só tive que editar, pinçar alguns momentos." Acostumada com o trabalho na televisão, em que se notabilizou como autora de minisséries e novelas, Amaral vê o teatro como espaço de liberdade: "É um foro privilegiado, não tenho o menor compromisso com a audiência nem restrição quanto ao tema".

Respingos da história
No caso de "As Meninas", os temas são vários. No cruzamento das histórias e personalidades das três personagens principais -Ana Clara (Luciana Brites), Lorena (Clarissa Rockenbach) e Lia (Silvia Lourenço)-, com o pano de fundo de um Brasil que vivia um dos períodos mais severos da ditadura (a era Médici), os dilemas de uma geração são revelados.
Uma modelo que vive a se drogar, uma aristocrata generosa e uma guerrilheira idealista que convivem em um pensionato de freiras compõem assim o tríptico que serve, ao mesmo tempo, como prisma político da sociedade brasileira e como painel das relações humanas e das individualidades.
E o que atraiu tanto Maria Adelaide Amaral como Yara Novaes foi a atualidade dessa abordagem proposta por Lygia Fagundes Telles, no início da década de 70. "Uma série de questões daquela época estão respingando até hoje na nossa vida -a história não dá saltos", analisa Novaes. "A luta por um país mais justo e a vontade de uma revolução pessoal "das meninas" permanecem."
Mas, se é possível falar em uma continuidade das meninas de Lygia nas meninas de hoje, para Maria Adelaide Amaral, uma coisa se perdeu. "Falta ideologia. Falaram que era o fim da história. Mas, para mim, é mais a morte das certezas, das convicções, da fé."


AS MENINAS

Quando: estreia hoje; sáb., às 21h, e dom., às 18h; até 13/12
Onde: teatro Eva Herz - Conjunto Nacional (av. Paulista, 2.073; tel. 3170-4059)
Quanto: R$ 40
Classificação: 14 anos




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