São Paulo, Terça-feira, 03 de Agosto de 1999
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GUARANÁ
Bahia supera produção do Amazonas

LUIZ FRANCISCO
da Agência Folha, em Salvador

Em plena região cacaueira, uma plantação que sempre foi relegada a segundo plano na Bahia ganhou destaque nos últimos três anos.
Desde 1997, a Bahia ultrapassou o Amazonas e assumiu a liderança nacional na produção de guaraná -no ano passado, o Estado colheu 1.845 toneladas (a produção brasileira foi de 4.100 toneladas), segundo a Ceplac (Comissão Executiva do Plano da Lavoura Cacaueira).
"A safra deste ano será 20% superior à de 98", prevê o coordenador da Ceplac em Valença (BA), Francisco Carlos Brito Aleluia.
Plantados em 25 cidades do baixo-sul da Bahia -onde dividem espaço com dendezeiros, cravo-da-índia, cacau e pimenta-, os guaranazeiros baianos apresentam uma produtividade alta.
"Nossa média regional é 350 quilos por hectare", afirmou Aleluia. No Norte do Brasil, onde a cultura é tradicional, a produtividade não ultrapassa os 110 quilos por hectare.
Enquanto o Estado comemora a liderança na produção, a maioria dos 2.593 guaranazeiros da Ceplac amargam prejuízos.
O motivo é que o quilo do produto, que no ano passado foi vendido por R$ 2,80 (preço médio), caiu para R$ 1,50. Em 94, o quilo do guaraná baiano havia atingido seu mais alto patamar -R$ 17.
"Por este valor, o agricultor tem prejuízo", disse Maísa Brum, diretora da M.M. Brum, a maior empresa "intermediária" de guaraná na Bahia.
"O maior problema é que o guaraná não tem um mercado internacional para manter os preços", disse Luciano Orrico de Araújo, empresário e produtor de guaraná no sudoeste baiano.
Segundo Maísa Brum, não é apenas o grande estoque de guaraná em poder das duas principais empresas de bebidas do Brasil (Antarctica e Brahma) que derrubou o preço do produto. "Acontece que a cultura do guaraná ainda é tratada de forma incipiente pela maioria dos baianos."
"Sem investimentos, a qualidade do produto fica comprometida", declarou Aleluia.
O coordenador da Ceplac em Valença (256 km a sudoeste de Salvador) disse também que os produtores de guaraná na Bahia "não são organizados e querem resultados imediatos".
Dois fatores -chuvas regulares e melhor qualidade do solo- são apontados pelos técnicos da Ceplac como determinantes para o Estado da Bahia assumir a liderança nacional na produção.
Há três anos consecutivos -justamente o período em que a Bahia assumiu a liderança-, o índice pluviométrico anual nos municípios do baixo-sul da Bahia atinge 1.800 milímetros.
Os agricultores também investiram mais em adubação.
Além das chuvas regulares e melhoria do solo, os produtores baianos contam com outra vantagem em relação aos agricultores do Amazonas -a inexistência de doenças nas plantações.
Uma pesquisa realizada pela Ceplac revelou que, no Amazonas, 80% das lavouras de guaraná sofrem com a ação da antracnose, doença causada por um fungo.
Além de Valença, os principais municípios produtores na Bahia são Taperoá, Nilo Peçanha, Camamu, Ituberá e Teolândia.


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