São Paulo, terça-feira, 10 de abril de 2001 |
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EXPOSIÇÃO Vendas crescem 37,9% diante das boas perspectivas do mercado de carne e da safra recorde de soja no Paraná Londrina retrata o otimismo da pecuária
SEBASTIÃO NASCIMENTO ENVIADO ESPECIAL A LONDRINA A safra recorde de soja esperada para o Paraná e a alta dos preços da arroba do boi engordaram o faturamento dos leilões na Exposição Agropecuária de Londrina, encerrada no último domingo. As vendas de animais renderam R$ 8 milhões, 37,9% a mais do que o movimento alcançado no ano passado (R$ 5,8 milhões). O gado de elite apresentou uma valorização média de cerca de 30% na comparação com 2000. No caso do rebanho comercial, foram negociadas 8.000 cabeças agora, contra 6.000 cabeças no ano passado. ""O aumento dos negócios com animais para recria e engorda é o retrato da confiança na pecuária de corte, já que a arroba do boi está sendo negociada a R$ 42, com o mercado futuro indicando preço de R$ 48 para novembro e dezembro próximos." A explicação é de Lourenço Campo, leiloeiro da Programa, empresa que organizou a maioria dos remates de Londrina. Segundo ele, as perspectivas de aumento na exportação de carne estão se tornando mais concretas devido às doenças que atacam o gado europeu e que fazem desabar o consumo da carne produzida naquele continente. ""O europeu vai procurar um produto mais sadio depois que a poeira abaixar. Cabe ao Brasil implementar uma política de marketing mais agressiva e mostrar que a carne aqui produzida não faz mal à saúde." Fábio Barbanti de Barros, diretor da Sociedade Rural do Paraná, entidade que organizou a exposição, tem uma visão diferente da de Lourenço Campo. Ele reconhece que a exportação colabora para a sustentação do preço da arroba, mas ressalva que é o mercado interno que influencia os negócios nos leilões. "Cerca de 95% da carne produzida no país é consumida por aqui mesmo", diz. Pecuarista em Apucarana, cidade próxima a Londrina, Bernardo de Araújo Jorge diz que há déficit de animais para a produção de carne no país, o que leva as feiras que apresentam gado de qualidade a vender bem. ""Somente no caso de touros para o cruzamento industrial, o déficit é de 200 mil cabeças ao ano, o que explica a forte demanda", diz. Colheita da soja No norte do Paraná, a colheita da soja acabou na semana passada. Alguns produtores, que conseguiram vender a saca a US$ 10 em outubro e novembro de 2000, preço considerado satisfatório, receberam o pagamento no final de março, o que animou as vendas de tratores e de colheitadeiras na exposição, segundo Wilson Naldi, representante da Valtra em Londrina. ""No ano passado, houve uma explosão de vendas no sábado e no domingo que fecharam a exposição. Chegamos a vender 13 tratores nesses dois dias, e o faturamento, considerando também outros maquinários, alcançou R$ 1,6 milhão." Naldi espera, no mínimo, repetir o número do ano passado, levando em conta a safra recorde de soja deste ano. ""Isso apesar de a cotação da saca ter caído para US$ 8", ressalva Naldi. Para a SLC John Deere, empresa que faturou R$ 1 milhão no ano passado em Londrina, o plantio do milho safrinha no Paraná, que obriga o agricultor a permanecer no campo, fez diminuir a presença de compradores na feira, segundo Celso Maffesoni, seu representante. ""Mas devemos repetir as vendas de 2000. Houve disponibilidade de crédito a juros acessíveis (8,75% ao ano para os produtores de renda anual de até R$ 250 mil)", explica Maffesoni. Também os pecuaristas contaram com linhas de crédito para a aquisição de animais nos leilões. Segundo Francisco Galli, presidente da Sociedade Rural do Paraná, o Banco do Brasil e o Bradesco ofereceram juntos R$ 50 milhões em financiamento para a aquisição de máquinas e de animais. Na quarta-feira última, dia 4, o Banco do Brasil informou que R$ 23 milhões já haviam sido solicitados em empréstimos. O Paraná vai colher este ano 20,7 milhões de toneladas de grãos, 35% a mais do que na safra do ano passado, quando a seca provocou quebra da produção. No ano passado, o Estado colheu 15,3 milhões de toneladas. Na safra de 98/99, a produção alcançou 17,5 milhões de toneladas, segundo a Secretaria da Agricultura do Paraná. Eventos sociais A feira de Londrina acelerou uma tendência já detectada em outras feiras brasileiras e consolidada nas grandes mostras dos EUA e do Canadá - a diminuição do número de visitantes, principalmente fazendeiros. Isso ocorre, na visão de Donário Almeida, presidente da Associação Brasileira de Inseminação Artificial, devido à proximidade maior das empresas com os pecuaristas (eles recebem em casa informações sobre os produtos) e também à maior profissionalização do trabalho no campo, o que obriga o fazendeiro a permanecer à frente dos negócios. ""As exposições devem se transformar em eventos sociais, com uma possível diminuição dos negócios." Texto Anterior: Painel Rural Próximo Texto: Elevação do dólar favorece produtor de soja Índice |
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