|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
SOL E CHUVA
Para meteorologistas, espiral de nuvens provocou inundações
Sudeste conta as perdas; Nordeste enche os açudes
FÁBIO EDUARDO MURAKAWA
free-lance para a Folha
A seca persistia no Sul do país,
enquanto o Vale do Paraíba, em
São Paulo, parte do Rio de Janeiro
e o sul de Minas Gerais submergiam por causa das chuvas.
No sertão nordestino, a água,
em volume menor, mas constante, continuava a cair, enchendo os
açudes e irrigando as lavouras.
O clima no Brasil deu a impressão de ter enlouquecido na última
semana. Mas, segundo meteorologistas, o que ocorreu no período
foi consequência de fenômenos
climáticos perfeitamente normais
para esta época do ano.
O mais importante é conhecido
como "vórtice ciclônico da troposfera superior" e teve influência direta nas inundações no Sudeste. Trata-se de um conjunto de
ar e de nuvens que formam uma
espécie de espiral de 1.500 km de
diâmetro, entre 6 km e 11 km acima da superfície terrestre.
Vindo do Oceano Atlântico, girando em sentido horário, ele
chegou próximo à virada do ano
ao Nordeste.
Foram registradas chuvas em
quase toda a região, menos no
centro geométrico do vórtice (veja quadro abaixo).
Esse maciço grupo de nuvens
impediu, porém, o avanço de
uma frente fria que atravessava o
Sudeste, rumo ao Atlântico.
"Estacionada na região, a frente
provocou chuvas fortes e constantes e, por consequência, as
inundações", diz Carlos Nobre,
do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe). O vórtice é
um fenômeno típico do verão.
Na última quinta-feira, o centro
do vórtice estava na divisa entre
Minas Gerais e a Bahia.
Atingidos em cheio pelas inundações, produtores de arroz e de
milho cultivados na várzea no sul
de Minas choravam as perdas.
Na região próxima a Santa Rita
do Sapucaí (MG), a distribuição
de leite foi interrompida pela interdição da rodovia Fernão Dias e
pelo alagamento das estradas de
terra próximas à propriedade.
No Nordeste, por outro lado, os
agricultores tinham motivos para
comemorar. A chuva, benéfica,
continuava a cair no sertão.
Apesar de algumas áreas, como
o agreste de Pernambuco, ainda
estarem secas, o volume de chuvas tem sido razoável nos últimos
meses, segundo a Sudene (Superintendência do Desenvolvimento do Nordeste).
"Esse quadro é favorável para a
agricultura", diz Carlos Almiro
Moreira Pinto, chefe do setor de
hidrometeorologia da instituição.
Para este ano, o Inpe prevê chuvas dentro ou acima do normal
para o Nordeste.
Uma das causas para o aumento
das precipitações na região pode
ser novamente o fenômeno climático La Niña. Originária do
resfriamento das águas do Oceano Pacífico, a La Niña provoca,
entre outras coisas, o aumento
das chuvas nas regiões Norte e
Nordeste e a estiagem no Sul.
A temperatura do Atlântico
também pode determinar a quantidade de precipitações no Nordeste, segundo o meteorologista
Hélio Camargo, do Inpe.
Se a temperatura do Atlântico
Norte estiver abaixo da média e a
do Atlântico Sul acima, isso é sinal
de um ano chuvoso.
A situação inversa, com o
Atlântico Norte mais aquecido do
que a média e águas no Sul mais
frias, representa previsão de estiagem para o Nordeste. Por enquanto, o quadro é normal, o que
favorece chuvas dentro da média
histórica da região.
Texto Anterior: Livros Próximo Texto: O clima no Brasil na última semana Índice
|