São Paulo, Terça-feira, 11 de Janeiro de 2000


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SOL E CHUVA
Para meteorologistas, espiral de nuvens provocou inundações
Sudeste conta as perdas; Nordeste enche os açudes

FÁBIO EDUARDO MURAKAWA
free-lance para a Folha

A seca persistia no Sul do país, enquanto o Vale do Paraíba, em São Paulo, parte do Rio de Janeiro e o sul de Minas Gerais submergiam por causa das chuvas.
No sertão nordestino, a água, em volume menor, mas constante, continuava a cair, enchendo os açudes e irrigando as lavouras.
O clima no Brasil deu a impressão de ter enlouquecido na última semana. Mas, segundo meteorologistas, o que ocorreu no período foi consequência de fenômenos climáticos perfeitamente normais para esta época do ano.
O mais importante é conhecido como "vórtice ciclônico da troposfera superior" e teve influência direta nas inundações no Sudeste. Trata-se de um conjunto de ar e de nuvens que formam uma espécie de espiral de 1.500 km de diâmetro, entre 6 km e 11 km acima da superfície terrestre.
Vindo do Oceano Atlântico, girando em sentido horário, ele chegou próximo à virada do ano ao Nordeste.
Foram registradas chuvas em quase toda a região, menos no centro geométrico do vórtice (veja quadro abaixo).
Esse maciço grupo de nuvens impediu, porém, o avanço de uma frente fria que atravessava o Sudeste, rumo ao Atlântico.
"Estacionada na região, a frente provocou chuvas fortes e constantes e, por consequência, as inundações", diz Carlos Nobre, do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe). O vórtice é um fenômeno típico do verão.
Na última quinta-feira, o centro do vórtice estava na divisa entre Minas Gerais e a Bahia.
Atingidos em cheio pelas inundações, produtores de arroz e de milho cultivados na várzea no sul de Minas choravam as perdas.
Na região próxima a Santa Rita do Sapucaí (MG), a distribuição de leite foi interrompida pela interdição da rodovia Fernão Dias e pelo alagamento das estradas de terra próximas à propriedade.
No Nordeste, por outro lado, os agricultores tinham motivos para comemorar. A chuva, benéfica, continuava a cair no sertão.
Apesar de algumas áreas, como o agreste de Pernambuco, ainda estarem secas, o volume de chuvas tem sido razoável nos últimos meses, segundo a Sudene (Superintendência do Desenvolvimento do Nordeste).
"Esse quadro é favorável para a agricultura", diz Carlos Almiro Moreira Pinto, chefe do setor de hidrometeorologia da instituição.
Para este ano, o Inpe prevê chuvas dentro ou acima do normal para o Nordeste.
Uma das causas para o aumento das precipitações na região pode ser novamente o fenômeno climático La Niña. Originária do resfriamento das águas do Oceano Pacífico, a La Niña provoca, entre outras coisas, o aumento das chuvas nas regiões Norte e Nordeste e a estiagem no Sul.
A temperatura do Atlântico também pode determinar a quantidade de precipitações no Nordeste, segundo o meteorologista Hélio Camargo, do Inpe.
Se a temperatura do Atlântico Norte estiver abaixo da média e a do Atlântico Sul acima, isso é sinal de um ano chuvoso.
A situação inversa, com o Atlântico Norte mais aquecido do que a média e águas no Sul mais frias, representa previsão de estiagem para o Nordeste. Por enquanto, o quadro é normal, o que favorece chuvas dentro da média histórica da região.



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