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OPINIÃO
Morango sem agrotóxico
FRANCISCO GRAZIANO
Os morangos comercializados
em São Paulo estão trazendo uma
boa notícia: um selo de qualidade
oficial. Pela primeira vez no Brasil
uma fruta tem sua qualidade certificada pelo governo. Bom para a
agricultura, ótimo para os consumidores.
Há anos que a Secretaria da Agricultura vem monitorando, através
do Instituto Biológico, os resíduos
de agrotóxicos nas frutas e legumes comercializados na Ceagesp.
Os níveis detectados são baixos,
mas persistentes. Sempre foram
tomadas medidas rotineiras de assistência técnica para diminuir a
incidência dos resíduos nos alimentos. Nunca foi comprovado o
sucesso dessas medidas.
Era necessário se criar uma ação
exemplar, abrir um caminho novo, descobrir uma saída. Os agricultores precisam produzir, gerar
empregos e renda no campo. Mas
não podem contaminar o meio
ambiente e ameaçar a saúde dos
consumidores.
Em matéria de resíduos de agrotóxicos, o morango sempre foi o
produto mais problemático.
No ano passado, os produtores
viram seu mercado encolher com
reportagens que mostravam a gravidade da situação. Cresceu o medo das donas-de-casa de consumir
morangos.
Os preços despencaram. Muitos
pequenos agricultores se endividaram. Aumentou o desemprego
na região produtora. O programa
de qualidade do morango surgiu
como uma resposta a esse dilema.
Na região de Atibaia-Jarinu, responsável por 60% do morango do
Estado, os produtores rurais foram chamados, no início do ano,
para uma conversa.
Ali a Secretaria da Agricultura
lançou a idéia do selo de qualidade. Para dar certo, havia uma condição: os próprios agricultores
precisavam concordar com o programa. Não adiantava impor regras.
O sucesso foi total. Os agricultores concordaram em seguir as recomendações dos agrônomos da
Cati, que cuida da assistência técnica no campo.
Em cumprir, semanalmente, a
rotina de fiscalização e análise dos
seus produtos em laboratórios.
Em usar equipamentos de proteção nos trabalhadores rurais. Em
assumir uma produção ecologicamente controlada.
Hoje, 300 pequenos agricultores
estão produzindo frutas com qualidade garantida, isentas de agrotóxicos, padronizadas e embaladas
em caixinhas transparentes, com
identificação de origem. A associação dos produtores auxilia no
cumprimento das determinações
técnicas, quebrando o individualismo típico dos agricultores.
Está nascendo uma assistência
técnica moderna, dirigida, compartilhada, que olha para fora da
porteira da fazenda e enxerga o
mercado. Implementada com o
morango, deve expandir para toda
a produção rural. Esta é a pedagogia da função pública: orientar,
normatizar, ensinar.
Agora o consumidor pode fazer
sua escolha: comprar qualquer
morango, sem origem, ou comprar morango com "Qualidade
Cati", garantido. Sem agrotóxicos. Os preços poderão ser diferentes. O mais caro, porém, dá
certeza de qualidade.
A Secretaria da Agricultura orgulha-se de estar lançando em São
Paulo uma idéia nova, seguindo a
agenda da agricultura sustentável,
do meio ambiente limpo. Desenvolve seu trabalho junto com os
produtores rurais.
O objetivo é cooperar com eles e
não impedir que trabalhem. O selo
de qualidade do morango expressa
uma proposta que antecipa o futuro da agricultura. É a ecologia a favor dos homens, não contra eles. É
uma resposta aos dilemas do presente.
Francisco Graziano é secretário de Agricultura
e Abastecimento do Estado de São Paulo.
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