São Paulo, terça-feira, 16 de maio de 2000


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NORDESTE
Cera vegetal sobrevive à concorrência com as derivadas de petróleo e ao desmatamento causado pela urbanização
Carnaúba resiste ao domínio do sintético

Sheila Oliveira/Folha Imagem
Trabalhadores em carnaubal na região do Jaguaribe, no Estado do Ceará, que faturou US$ 28 milhões com a exportação da cera em 1999


SÉRGIO RIPARDO
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Onde há brilho, há carnaúba, uma palmeira exclusiva do Nordeste, da qual se extrai uma cera, exportada para 75 países.
Ela está na composição química de lubrificantes, vernizes, produtos para polimento (carro, móvel, piso e couro), tintas e cosméticos.
"Até a tinta do dinheiro tem carnaúba", diz Francisco Osler Machado, presidente do Sindicarnaúba, que reúne exportadores.
Ela é aplicada ainda na indústria farmacêutica. Reveste cápsulas de remédio. Está no papel carbono, lápis, chiclete e vela.
"Árvore da vida". Foi a tradução dada pelo naturalista e filósofo alemão Alexander von Humboldt ao conhecer a planta no século 18.
Motivos: longevidade e total aproveitamento de suas partes. Vive mais de cem anos e, da carnaúba, tudo se aproveita.
O tronco vira madeira para a construção, as folhas rendem a palha para fazer chapéus e cestos, e os frutos alimentam animais.
A cera é o produto mais valioso. Ela surge para proteger a folha do sol forte do sertão. No primeiro trimestre deste ano, o Nordeste já exportou 2,6 mil t de cera e obteve US$ 9 milhões, segundo a Secretaria de Comércio Exterior.
Em 99, as vendas externas do produto totalizaram cerca de 14,2 mil t de cera para um faturamento de US$ 36,2 milhões.
O volume exportado foi 4,5% maior do que em 98, mas a receita caiu 19% devido à redução do preço no mercado internacional.
EUA lideram a lista de principais compradores, que inclui ainda Japão, Alemanha, Itália, Holanda, Inglaterra e Ásia.
Para extrair o pó da folha, não é preciso derrubar a árvore. Mesmo assim, 10% da área é desmatada, em média, por ano, segundo o Sindicarnaúba. O avanço das cidades sobre os carnaubais e o uso da terra para plantio de outras culturas são apontados como causas da devastação.
A planta cresce fácil em áreas úmidas, perto de rios e lagoas, multiplicando-se sem a necessidade de cultivo. É classificada como uma vegetação típica da mata dos cocais (área entre a Amazônia e a caatinga).
Ceará, Piauí e Rio Grande do Norte possuem os maiores carnaubais do país, que sustentam a economia de vários municípios.
O apogeu da cera passou. Hoje ela divide o mercado com as ceras sintéticas, criadas pela indústria do petróleo, após a Segunda Guerra Mundial (1939-1945).
Mesmo com a concorrência, a qualidade da cera da carnaúba ainda é considerada insuperável. Ela também tem um custo menor. No país, importar uma cera sintética sai mais caro.
Nas últimas duas décadas, mudou o leque de aplicações do produto. O CD aposentou o disco de vinil, que usava a carnaúba. Versátil, ela segue a evolução da tecnologia. Hoje, no Japão, é usada em peças de computador.


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