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Garimpeiros fecham ferrovia da Vale com apoio de sem-terra
Após sete horas de bloqueio, manifestantes foram retirados da estrada pela PM sem tumulto; quatro pessoas foram detidas
Ato contraria liminar que proíbe protesto em áreas da empresa; forró, karaokê e culto marcaram horas que antecederam o bloqueio
EDUARDO SCOLESE
ENVIADO ESPECIAL A PARAUAPEBAS (PA)
O estouro de rojão às 6h58 de
ontem, a 30 km do centro de
Parauapebas (PA), foi a senha
para que um grupo de 500 garimpeiros bloqueasse com paus
e pedras a Ferrovia de Carajás e
impedisse a passagem de um
trem da Vale, após 13 minutos.
A ação do MTM (Movimento
dos Trabalhadores e Garimpeiros na Mineração) teve apoio
de integrantes do MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra).
A barricada desrespeitou liminar da Justiça Federal obtida no mês passado pela Vale,
segundo a qual movimentos sociais estavam proibidos de promover manifestações nas instalações da empresa.
A estrada de ferro da mineradora permaneceu bloqueada
por sete horas. O desbloqueio
ocorreu sem tumulto, às 14h.
Cerca de 200 PMs, com ajuda
de federais e civis, não encontraram resistência de manifestantes e escoltaram técnicos da
Vale, que voltaram com o trem
a Carajás. Quatro garimpeiros
foram detidos e prestaram depoimento em quartel da PM.
Os garimpeiros, a maioria
com mais de 50 anos e oriundos
de Serra Pelada (PA), permaneceram acampados às margens
da ferrovia. Ameaçam outro
bloqueio. "Tudo é possível",
disse um dos coordenadores do
MTM, Etevaldo Arantes. Esse
foi o terceiro bloqueio da ferrovia desde outubro, em Parauapebas. Os outros dois aconteceram sob o comando do MST.
"É agora, companheiros"
A convocação para a barricada, presenciada pela Folha e
escolhida por conta do aniversário de 12 anos do massacre de
Eldorado do Carajás (quando
19 sem-terra foram assassinados pela PM), pegou de surpresa a maioria dos acampados.
Alguns ainda dormiam, quando ouviram o rojão e saíram em
disparada para uma área central do acampamento.
Reunidos, ouviram o recado
dos líderes garimpeiros: "É
agora, companheiros. Vamos
ocupar a linha de ferro agora".
Garimpeiros correram até a
ferrovia. Encheram trilhos
com pedras e paus, e, um quilômetro antes, passaram a tremular bandeiras vermelhas para sinalizar o bloqueio.
O trem, com minério de ferro, apareceu menos de cinco
minutos depois. Primeiro buzinou, mantendo a velocidade.
Sem conseguir escapar do bloqueio, freou bruscamente e
acabou preso a pedaços de pau.
Parado, o trem foi tomado
pelos manifestantes, que pedem a retirada da Vale de parte
de uma área de Serra Pelada,
que o governo crie o Estatuto
dos Garimpeiros e aposentadoria especial para a categoria.
Assustado, com o crachá o
identificando como Nepomuceno, o maquinista foi cercado
e colocado numa camionete
branca, que o levou à estação
ferroviária mais próxima.
Forró
Forró, jogo de futebol, culto
evangélico, karaokê e concurso
de dança marcaram as 12 horas
que antecederam o bloqueio.
A Folha passou a noite no
acampamento. Para manter a
ordem, cachaça não entra.
Arantes, um dos coordenadores, anda de um lado para o outro tomando chimarrão, usando camiseta de Che Guevara.
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