|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
PELEJA
Para os tradicionalistas, erva-mate que se preze é amarga e não pode receber açúcar
Chimarrão doce divide os gaúchos
LÉO GERCHMANN
da Agência Folha, em Porto Alegre
Uma polêmica em relação ao chimarrão, a mais tradicional bebida
gaúcha, está fazendo justiça à fama
de o Rio Grande do Sul estar sempre dividido, seja entre Grêmio e
Internacional no futebol, entre
chimango (republicano) e maragato (federalista) na política, ou
entre defensores de concepções
administrativas diferentes.
A questão é colocar ou não colocar açúcar na tradicional erva-mate, chamada por muitos gaúchos
pelo menos por enquanto como o
"amargo".
No dia 9 de novembro do ano
passado, o Diário Oficial da União
publicou a Portaria 978, do Ministério da Saúde, liberando a adição
de açúcar à erva-mate.
Desde então, os tradicionalistas e
os apreciadores da bebida na sua
essência se revoltaram.
A portaria não entrou em vigor.
O Ministério da Saúde espera ainda reunir os defensores da erva doce e da erva natural para chegarem
a uma conclusão.
Internamente, a disputa está sendo travada entre o Sindicato das
Indústrias de Mate do Rio Grande
do Sul, que defende o sabor amargo do mate, e a Associação Rio-Grandense da Indústria de Mate,
que apóia a adição de açúcar.
Desemprego
O presidente da Associação dos
Produtores de Erva-Mate do Alto
Uruguai, Carlos Noskoski, alerta
para o efeito social da adição de
açúcar ao chimarrão.
Segundo ele, haveria forte desemprego entre os 710 mil trabalhadores rurais espalhados em 80
mil minifúndios brasileiros, dos
quais 40 mil têm área inferior a 25
hectares.
Os beneficiados, segundo ele, seriam os argentinos, que produzem
em larga escala e entrariam com
força no Brasil, vendendo seu mate, mais amargo que o brasileiro,
com o gosto apropriado ao paladar
gaúcho.
Os defensores da adição de açúcar dizem que isso possibilitaria
uma expansão do chimarrão para
outros Estados brasileiros, que não
o aceitam amargo.
Para aumentar a polêmica, a empresa argentina Sirsa (San Isidro
Refrescos) está lançando um refrigerante de chimarrão ou de "mate" no mercado.
Che Mate
O nome da bebida é "Che Mate" e
a Sirsa pretende abocanhar 1% do
mercado argentino de refrigerantes.
A idéia é seguir a tradição de algumas mulheres italianas imigrantes, que guardavam a bebida na geladeira e a davam para os filhos.
Uma pesquisa feita pela empresa
concluiu que o chimarrão é a bebida mais consumida na Argentina
(mais de 6 kg/ano de erva-mate
por habitante).
A reação dos tradicionalistas argentinos, porém, também é negativa, o que dá um tom internacional
à rejeição gaúcha.
Nos anos 60, um refrigerante
com gosto de chimarrão, o
"Rikky", já havia sido rejeitada pelo público argentino.
Enquanto isso, empresas brasileiras e estrangeiras travam uma
disputa pelo mercado de chá gelado pronto, tentando atrair, principalmente, o público jovem.
Texto Anterior: Laranja: Guerra ao cancro cítrico mobiliza até o Exército Próximo Texto: Clima ajuda colheita de arroz e feijão Índice
|