São Paulo, Terça-feira, 20 de Abril de 1999
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PELEJA
Para os tradicionalistas, erva-mate que se preze é amarga e não pode receber açúcar
Chimarrão doce divide os gaúchos

LÉO GERCHMANN
da Agência Folha, em Porto Alegre

Uma polêmica em relação ao chimarrão, a mais tradicional bebida gaúcha, está fazendo justiça à fama de o Rio Grande do Sul estar sempre dividido, seja entre Grêmio e Internacional no futebol, entre chimango (republicano) e maragato (federalista) na política, ou entre defensores de concepções administrativas diferentes.
A questão é colocar ou não colocar açúcar na tradicional erva-mate, chamada por muitos gaúchos pelo menos por enquanto como o "amargo".
No dia 9 de novembro do ano passado, o Diário Oficial da União publicou a Portaria 978, do Ministério da Saúde, liberando a adição de açúcar à erva-mate.
Desde então, os tradicionalistas e os apreciadores da bebida na sua essência se revoltaram.
A portaria não entrou em vigor. O Ministério da Saúde espera ainda reunir os defensores da erva doce e da erva natural para chegarem a uma conclusão.
Internamente, a disputa está sendo travada entre o Sindicato das Indústrias de Mate do Rio Grande do Sul, que defende o sabor amargo do mate, e a Associação Rio-Grandense da Indústria de Mate, que apóia a adição de açúcar.

Desemprego
O presidente da Associação dos Produtores de Erva-Mate do Alto Uruguai, Carlos Noskoski, alerta para o efeito social da adição de açúcar ao chimarrão.
Segundo ele, haveria forte desemprego entre os 710 mil trabalhadores rurais espalhados em 80 mil minifúndios brasileiros, dos quais 40 mil têm área inferior a 25 hectares.
Os beneficiados, segundo ele, seriam os argentinos, que produzem em larga escala e entrariam com força no Brasil, vendendo seu mate, mais amargo que o brasileiro, com o gosto apropriado ao paladar gaúcho.
Os defensores da adição de açúcar dizem que isso possibilitaria uma expansão do chimarrão para outros Estados brasileiros, que não o aceitam amargo.
Para aumentar a polêmica, a empresa argentina Sirsa (San Isidro Refrescos) está lançando um refrigerante de chimarrão ou de "mate" no mercado.

Che Mate
O nome da bebida é "Che Mate" e a Sirsa pretende abocanhar 1% do mercado argentino de refrigerantes.
A idéia é seguir a tradição de algumas mulheres italianas imigrantes, que guardavam a bebida na geladeira e a davam para os filhos.
Uma pesquisa feita pela empresa concluiu que o chimarrão é a bebida mais consumida na Argentina (mais de 6 kg/ano de erva-mate por habitante).
A reação dos tradicionalistas argentinos, porém, também é negativa, o que dá um tom internacional à rejeição gaúcha.
Nos anos 60, um refrigerante com gosto de chimarrão, o "Rikky", já havia sido rejeitada pelo público argentino.
Enquanto isso, empresas brasileiras e estrangeiras travam uma disputa pelo mercado de chá gelado pronto, tentando atrair, principalmente, o público jovem.


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